segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"... um democrata cristão"

Release que recebi hoje dizia: em reunião realizada em Aracaju, presidentes dos diretórios estaduais do PSDC assinaram uma conclamação para que o líder maior da sigla, José Maria Eymael (foto), se candidate à presidência da República. Se confirmada, a corrida presidencial de Eymael será a terceira de sua história - ele tentou o Planalto anteriormente em 1998 e 2006, quando obteve, respectivamente, o nono lugar (entre 12 candidatos) e o sexto (entre sete postulantes).

Mais uma vez, é evidente que Eymael disputará o pleito sem chances de vitória. Seu partido é pequeno e sua carreira política é inexpressiva - se pode falar, com sobras, que sua principal realização é ter emplacado o jingle "ei, ei, Eymael / um democrata cristão", um dos mais célebres da história do Brasil (sem exagero algum).

Curioso é que, ao disputar a presidência, Eymael abre mão de uma candidatura na qual poderia ter sucesso - a para a Câmara dos Deputados. Eymael foi eleito deputado federal por duas vezes, em 1986 e 1990. Ancorado na popularidade de seu jingle e nas propostas da democracia cristã, seria um candidato competitivo para a Câmara.

A insistência de Eymael chama a atenção também pelo fato de marcar uma trajetória diferente da que se vê entre os candidatos "nanicos". Geralmente, estes entram em disputas majoritárias para marcar posição, ganhar certa reputação e colher os frutos disso nas eleições proporcionais - Enéas e suas absurdas votações em 2002 e 2006 são exemplos disso. Já Eymael faz o oposto.

Também não se pode dizer que sua candidatura seja um "lançamento do partido", como a que de Heloísa Helena em 2006, quando abriu mão de uma relativamente garantida reeleição para o Senado para tentar a improvável vitória presidencial. O PSDC não é novidade e segue pequeno como fora desde 1998, quando Eymael tentou a presidência pela primeira vez.

De qualquer modo, boa sorte a Eymael. Em 2006, além do jingle, ele se fez presente na eleição presidencial quando, no debate, ironizou a ausência de Lula e fez inúmeras referências à "cadeira vazia".

E bem que o PSDC merecia um melhor site, hein? O atual dá vontade de chorar.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

É pra isso?

Em momentos como o atual, marcado pela descrença nas instituições por parte dos cidadãos, os políticos precisam mostrar serviço. Mostrar que trabalham, que fazem coisas úteis para a sociedade.

E, por isso, o "jogar para a torcida" acaba acontecendo muitas e irritantes vezes.

É o que se passa agora, com a lei que isenta o pagamento das tarifas de estacionamento dos shoppings centers a quem consumir 10 vezes o valor da referida tarifa.

Não entendo nada de Direito, então não vou arriscar nenhum palpite sobre a possível inconstitucionalidade da lei - que é o que estão alegando os proprietários de shopping, que tentarão derrubar a medida.

O que discuto são as questões políticas relacionadas à lei.

Precisamos mesmo de uma lei que determine que um shopping não possa cobrar por um serviço que efetivamente presta?

É dessa "proteção" que o cidadão sente falta?

Não há outros pontos melhores para que os deputados da Assembleia Legislativa se debrucem?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Aécio vive

Números divulgados na semana passada evidenciam que a campanha presidencial está longe de chegar a um encaminhamento definitivo. Levantamento realizado pelo Vox Populi e divulgado pela IstoÉ mostra o governador mineiro Aécio Neves (PSDB) em segundo lugar em uma pesquisa espontânea de intenção de voto. Quem está à sua frente? Lula, que não participará da disputa.

Aécio teve 11%. O que, em uma pesquisa espontânea, e realizada a pouco menos de um ano da eleição, é muita, mas muita coisa. Porque as pesquisas espontâneas apontam o piso de uma candidatura. A não ser que haja escândalos ou algum outro fator externo, é quase impossível ver uma candidatura indo para patamares abaixo dos apontados em pesquisas espontâneas.

Isso, somado à baixa rejeição - Aécio tem 5%, contra 11% de Serra e 12% de Dilma, também segundo Vox Populi e IstoÉ - faz com que Aécio se encha de musculatura para uma eventual campanha.

Endosso a análise do amigo Alan Kardec Borges no Voto é Marketing. Serra lidera a maior parte das pesquisas hoje, mas grande parte desse triunfo pode ser seguramente atribuído ao fato dele ser o pré-candidato mais conhecido do eleitorado - foi ministro, candidato à presidência e é governador do estado mais populoso do Brasil.

Serra cresceria se conseguisse canalizar todos os votos de oposição a Lula. Acontece que o governo federal tem sido muito bem avaliado, então é mais lógico pensar que sua candidata sai à frente (lembrando que não se trata de "transferência de votos", e sim da avaliação de uma gestão, o que é bem diferente).

O quadro de 2006 também nos faz pensar que Aécio pode ser, para o PSDB, uma opção mais sólida do que Serra. Naquela eleição, lembremos, Lula perdeu nos três estados do Sul e também em São Paulo. Este eleitorado, via de regra, tenderá a votar novamente no candidato do PSDB, seja qual for. A chave, para os tucanos, seria reverter a boa margem que Lula tem no restante do Brasil.

Mais carismático, menos "paulista", mais acessível, Aécio parece ser mais viável do que José Serra.

E o Vox Populi dá sustentação a isso, pela primeira vez.

Serra segue sendo tratado como o principal candidato tucano à presidência. E declarações de Aécio, sinalizando uma candidatura ao Senado, já soaram como uma certa desistência. Mas uma dica ao mineiro é manter a toalha nas mãos. Ainda não é hora de jogá-la.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sai de baixo

Um homem qualquer bater em uma mulher qualquer já é coisa feia (e, mais que isso, crime). Se o homem é famoso, além de crime é motivo de grande repercussão. Agora, quando o cara é famoso, governador de um estado e pré-candidato a presidente do Brasil, aí a história ganha repercussões astronômicas.

A pessoa em questão é Aécio Neves, governador de Minas Gerais e que briga com José Serra para ser o candidato do PSDB à sucessão de Lula.

A "notícia" (as aspas, nesse caso, são necessárias) tem corrido a internet desde o início da semana. Seu emissor inicial foi Juca Kfouri - em seu blog, o jornalista esportivo afirmou que Aécio foi visto dando um empurrão e um tapa em sua "acompanhante" (mais uma vez, aspas essenciais) em uma festa no Rio de Janeiro. Mais do que divulgar, Juca bancou o fato: atualizou o post dizendo que havia recebido um comunicado da assessoria de Aécio desmentindo o ocorrido e que não mudaria uma só vírgula do que escrevera.

O anunciado por Juca Kfouri foi o complemento de história levantada por Joyce Pascowitch no Glamurama. Lá, a colunista dizia que numa festa do estilista Francisco Costa, "um dos convidados mais importantes e famosos" do evento havia dado um tapa em sua acompanhante.

A nota de Pascowitch não declarava e nem chegava a insinuar quem seria o cidadão praticante do ato. Pelo fato do seu site ser mais ligado ao mundo da moda, celebridades e afins, jamais se havia pensado em relacionar o dito com o governador mineiro. Mas Juca fez a ponte, e a confusão foi armada.

Agora começam as interpretações para o caso. Muita, muita gente na internet tem dito que a repercussão da notícia teria o dedo de José Serra - que, assim, detonaria de vez as chances de Aécio ser o candidato tucano.

Acho meio conspiratória a teoria. Serra está à frente nas pesquisas, tem recebido mais apoio das lideranças do PSDB e é bem improvável que perca o posto para Aécio (com ou sem agressão). Sem contar a possibilidade - que não deve ser descartada - da criação de uma chapa "puro sangue" tucana, com Serra para presidente e Aécio para vice. Assim, não seria muito inteligente, por parte do paulista, lançar mão de tal expediente para o mineiro.

Da minha parte, não levo muita fé nessa "armação orquestrada por Serra", como alguns têm sugerido.

Quanto a Aécio e à agressão em si... ah, isso eu deixo para a polícia, que é quem tem que tomar conta desse tipo de história.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Yes, os republicanos também can

Quando Obama venceu, muitos se ocuparam em celebrar seu triunfo como sendo um símbolo da "mudança de mentalidade" americana. Segundo essa análise, os estadunidenses, ao eleger o democrata, mostrariam ao mundo que são diferentes do que foram em 2000 e, principalmente, em 2004, ao eleger e reeleger George W. Bush.

Mas aí o tempo passa e mostra que tal análise foi um tanto quanto imprecisa. Ou que nem deveria ter sido feita.

Em eleições realizadas nessa semana, o Partido Republicano, de Bush e opositor a Obama, teve três vitórias das mais expressivas. Conquistou a prefeitura de Nova York (favas contadas, já que a reeleição de Michael Bloomberg era dada como certa) e os governos dos estados de Nova Jersey e Virginia, com Christopher Christie e Robert McDonell.

Nova Jersey e Virginia são estados importantes. Respectivamente, o nono e o 12º mais populoso da nação. E ambos localizados no Leste americano, tido como mais moderno e democrata.

Nos EUA, os republicanos têm celebrado suas vitórias como uma espécie de "ressurreição" do partido - combalido e até mesmo tido como morto após a vitória de Barack Obama no ano passado. E há quem julgue que as vitórias de Christie e McDonell são, acima de tudo, uma derrota do próprio Obama, acontecida na primeira grande eleição após a chegada do ex-senador à Casa Branca.

Vale lembrar que, também ontem, o Maine, estado no Nordeste americano, rejeitou o casamento gay em consulta às urnas.

O que tudo isso demonstra? Que o pensamento conservador nos EUA ainda é forte e não pode ser desprezado. E que não se modifica em apenas uma eleição. A vitória de Obama foi emblemática e expressiva, mas, se pegarmos a história - e não só dos EUA - veremos que regimes democráticos são assim mesmo, marcados por alternâncias sucessivas de governantes e, mais que isso, de linhas de pensamento. Nada fora do que é, ou deveria ser, o padrão.

Em tempo: não condeno, de forma alguma, a existência desse "pensamento conservador" estadunidense. Inclusive, o valorizo - a democracia tem que ter todas as correntes e acho interessante que, por lá, os conservadores não tenham vergonha de se assumir como tal (diferente da hipocrisia brasileira, quando os sujeitos mais direitistas recusam-se a se denominar assim).

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O "caso Uniban" e o jornalismo

(Antes de mais nada: esse blog endossa quase que a integralidade das manifestações de repúdio aos estudantes da Uniban que expulsaram a moça da faculdade. Não tenho muito a acrescentar nesse sentido, e por isso o post abaixo segue outro foco.)

Já é de conhecimento geral o ocorrido na Uniban, campus universitário localizado em São Bernardo, semanas atrás - uma moça foi para a aula usando um traje, digamos, impróprio, foi hostilizada por colegas por conta disso, chamada a plenos pulmões de "puta" (e outros termos) e teve que deixar a faculdade escoltada por policiais.

Interessante é a trajetória que o assunto fez até chegar ao chamado "conhecimento geral" citado acima.

Eu - e a maioria das pessoas com quem falei a respeito - tive meu primeiro contato com a questão por meio das tais fontes virais. Minha primeira referência foi o Twitter - mais precisamente, o do Arnaldo Branco. Sua mensagem remetia ao post "Polanskis do ABC", do blog Boteco Sujo, criado no dia 28 de outubro, e "twittado" no mesmo dia.

Ainda no dia 28, o "caso Uniban" pipocou por Twitters e blogs dos mais diversos e se tornou, com sobras, o assunto mais repercutido na internet nacional.

E não tardou muito para que se tornasse pauta dos veículos da grande mídia nacional. Folha, Estado, TV Globo, as rádios de destaque, enfim; todos correram atrás do caso para darem suas versões do tema. Em um primeiro momento, com matérias tímidas, em que a estudante não citava seu nome nem mostrava seu rosto; depois, veio o "escancaramento" pleno, com a moça dando a cara a tapa. O ápice disso veio com a participação dela no Geraldo Brasil, na Record, e no Fantástico da Globo.

Isto posto, vamos às reflexões.

Ponto 1: a "blogosfera" (termo odioso, mas vá lá) teve sucesso. Conseguiu fazer com que um assunto que nela nasceu se tornasse o mais comentado no Brasil (e não só entre os blogueiros) em toda a semana. Inverteu o que habitualmente se faz na net, com as notícias dos grandes portais servindo de base para posts e outros trabalhos. É fato que o ocorrido jamais chegaria ao conhecimento público se não fosse o barulho que causou, inicialmente, a um grupo restrito de pessoas.

Daí vale também destacar que a repercussão do caso só se deu devido à extensa captação de imagens que se tinha em mãos. É fácil sacar que o peso de um vídeo que mostra uma pessoa sendo hostilizada por toda uma universidade é imensamente maior do que relatos que eventualmente digam a mesma coisa. Não foi necessariamente o fato que correu, e sim as imagens dele. Visíveis, chocantes e intrigantes - e por isso mesmo propensas à disseminação.

Mas agora vem uma conclusão de certo modo contraditória. Se por um lado registramos o "triunfo" dos blogueiros e da comunicação viral, por outro precisamos da mídia convencional para que ele seja sacramentado. Não apenas porque a ação de Record, Folha, Globo e outros dá uma certa "legitimidade" à questão, mas também porque o que os grandes grupos fizeram, no caso (com exceções, é claro), foi jornalismo. Foram à Uniban, buscaram mais depoimentos, ouviram fontes que deram novas visões ao caso, investigaram o tema a fundo.

Por limitações de diversas vertentes - financeira, de equipamento, de disponibilidade, etc, etc - os blogs não foram (e raramente são) capazes de dar uma continuidade a temas que levantam. Se têm potencial pra isso? Opa, têm e de sobra. Mas precisariam aderir, a seu trabalho, técnicas e preceitos do jornalismo convencional.

Muito se fala hoje que "a internet transformou o jornalismo" - e não apenas por ser um novo suporte tecnológico, mas sim por dar a ele uma nova mentalidade. De acordo, e quem questiona isso está cerca de 20 anos atrasado em relação ao resto do mundo. Mas o que casos como da Uniban sugerem é que deveria acontecer uma retroalimentação. O jornalismo ajudando os blogs a se transformarem, a se consolidarem como veículos efetivos de comunicação. E não somente "espalhadores" de assuntos.

Abaixo, um dos vídeos originais do caso - cada vez mais raros.