segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Senado paulista: balaio de indefinições

O início da semana para a política tem sido marcado pelas repercussões da desistência de Aécio Neves à candidatura presidencial e pela divulgação da pesquisa Datafolha que, também falando sobre a corrida ao Planalto, indicou uma aproximação entre José Serra e Dilma Rousseff.

O Datafolha divulgou mais índices. Na disputa pelo governo de São Paulo, nenhuma surpresa: Geraldo Alckmin lidera com folga. Arrisco que se nenhuma hecatombe acontecer (como até mesmo uma aparentemente improvável desistência de José Serra à sucessão de Lula), Alckmin e Dona Lu já podem ir pensando como decorarão seus escritórios no Palácio dos Bandeirantes.

Mas é sobre outra pesquisa divulgada pelo Datafolha que gostaria de me pautar. Falo da disputa pelas duas vagas no Senado, a serem renovadas agora. Acredito que aí está a eleição majoritária mais imprevisível para os paulistas no ano que vem.

Dois senadores encerrarão seus mandatos em 2011: Aloizio Mercadante (PT) e Romeu Tuma (PTB). Até terceira ordem, ambos buscarão a reeleição no pleito do ano que vem. Mercadante, apesar do péssimo desempenho na eleição de 2006 e de alguns tropeços (o mais recente foi o caso "irrevogável"), deve ser eleito. Tem muita visibilidade, condensará os votos paulistas para Lula, e é bom no jogo político.

O bicho deve pegar mesmo para a vaga de Tuma.

Ele tem hoje 27% das intenções de voto. É o segundo colocado - ou seja, estaria (re) eleito.

Mas a distância que tem para seus seguidores é pequena, muito pequena, o que deixa claro que seu favoritismo não é dos mais sólidos.

Analisemos quem vem atrás de Tuma, praticamente empatados com o senador. Orestes Quércia (PMDB) é uma figura curiosa. Venceu sua última eleição em 1986 mas exerce ainda uma liderança única em São Paulo - foi reeleito recentemente presidente do PMDB estadual, com votação das mais expressivas. Tem, agora, 24 das intenções de voto. Eu acreditaria que não tende a avançar mais que isso. Seu patamar inicial é alto, mas tem certa rejeição e, aparentemente, pouco a evoluir.

Acredito que as figuras mais interessantes da disputa sejam os "artistas" Netinho de Paula (PCdoB) e Soninha Francine (PPS). Ambos têm agora 22%. É muita, mas muita coisa para quem ainda não se posicionou formalmente como candidato e pertence a partidos de porte médio ou pequeno. Sem contar que ambos terão o respaldo de candidaturas de grande porte - Netinho deverá ser o "segundo nome" da chapa petista, enquanto Soninha pegará carona na candidatura do PSDB. Ainda não se sabe se os dois se formalizarão candidatos (Netinho parece estar mais disposto), mas eu veria neles nomes de expressivo peso.

Já mais distantes estão Gabriel Chalita (PSB) e Paulo Renato (PSDB). Apesar dos baixos índices que têm hoje, não devem ser descartados, pelo peso que ambos têm na política local - vale lembrar que Chalita foi o vereador mais votado em 2008 e Paulo Renato foi bem na disputa para deputado em 2006. Aliás, no caso de Renato, se deve pensar se ele realmente se arriscará a perder uma relativamente tranquila reeleição para a Câmara.

Desde já, a disputa para as vagas paulistas no Senado vai se marcando como uma das mais interessantes das eleições no ano que vem. Alguém tem algum outro palpite?

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sai Aécio, ganha Dilma - exagero?

A essa altura todo mundo já sabe que o Aécio Neves desistiu da pré-candidatura à presidência, certo? Caso contrário, vejam matéria do O Globo a respeito.

No Twitter, onde abordo as coisas mais em tom de brincadeira, comentei a renúncia de Aécio com apenas duas palavras: Dilma eleita. Agora desenvolvo um pouco mais o assunto, mas já adianto que o foco continuará o mesmo.

Aécio não permitiu perguntas na cerimônia em que anunciou a desistência. Mas, sobre os motivos dela, nem era necessário: ele vinha atrás de José Serra em todas as pesquisas e não estava conseguindo canalizar o apoio de setores consistentes do PSDB em torno dele. Por incrível que pareça, os principais incentivadores de sua campanha vinham do outro lado da disputa, como Ciro Gomes.

Acompanho raciocínios de muita gente sobre a ex-pré-candidatura de Aécio Neves. Assim como meu amigo Alan Kardec Borges, acho que Aécio tinha mais potencial de crescimento do que José Serra - se o paulista tem mais indicações do público agora, a pouco menos de um ano da eleição, é por ser mais conhecido. E o cientista político Gaudêncio Torquato fez outra análise que endosso: com a saída de Aécio, a disputa Serra x Lula passa a ser mais um capítulo da peleja Lula x Fernando Henrique que se desenrola no Brasil desde 1994, tendo agora como jogadores José Serra e Dilma Rousseff. Com a aprovação que recebe o governo petista atual, é praticamente impossível acreditar que o eleitor não queira optá-lo por sua continuidade.

Talvez a saída de Aécio da corrida também seja uma maneira de fazer com que ele se garanta no lugar de candidato a vice (mal comparando, é como a postura do estado de São Paulo de encher a bola do Rio de Janeiro como sede da final da Copa de 2014, buscando com isso receber apoio carioca para sediar a partida de abertura). Essa hipótese se fortalece se pensarmos que o DEM, com o escândalo de José Roberto Arruda, perdeu "moral" para ocupar uma vaga naturalmente sua.

De quebra, a saída de Aécio foi também muito comemorada pela família Alckmin: a corrida de Serra ao Planalto faz com que Geraldo se torne o candidato natural ao governo paulista, em uma disputa antecipadamente ganha.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Eymael: agora, candidatura é para vencer

Desde o final de novembro, Dilma Rousseff, José Serra, Marina Silva, Ciro Gomes e Aécio Neves têm companhia. José Maria Eymael, do PSDC, é mais um pré-candidato à Presidência da República.

Apesar de dois bem-sucedidos mandatos como deputado federal e de ter disputado a Presidência em duas ocasiões (1998 e 2006), Eymael é pouco conhecido do eleitorado – seu nome é mais atrelado ao jingle que o acompanha desde 1985 - e, até segunda ordem, sua candidatura dificilmente fará frente à dos nomes mais destacados na disputa.

Mas, apesar das condições inócuas, Eymael acredita em possibilidades concretas de vitória, pautadas em dois fundamentos: o primeiro é algo que ele identifica como sendo uma demanda popular para uma “candidatura de centro”; o outro é a transformação que a política nacional tem passado após a aprovação da minirreforma eleitoral ocorrida neste ano, que permitiu um uso mais amplo da internet para as campanhas. “Essa própria entrevista que estou te concedendo é um exemplo disso”, diz o pré-candidato.

Eymael e o Blog Olavo Soares conversaram no início do mês no escritório central do PSDC, em São Paulo. A motivação para a entrevista foi o post “... um democrata cristão”, em que a candidatura à presidência de Eymael fora criticada. “Acho que nosso trabalho não tem sido bem divulgado. Então eu quero dar mais e mais entrevistas, aproveitar todas as oportunidades”.

Por que mais uma candidatura à Presidência, se uma disputa por uma vaga de deputado seria uma alternativa mais viável?
Para responder, tenho que contar uma história. Você se lembra de quando eu fui candidato a prefeito em 1985? Foi para passar a imagem da democracia cristã. Em 1965, com o Ato Institucional número 2, os partidos políticos foram extintos, e a democracia cristã fica ausente no Brasil. Até 1985, com a abertura. O PDC [Partido Democrata Cristão] fora fundado e seus dirigentes sabem que em São Paulo havia um antigo militante – e me convocam para organizar o partido aqui. Eram as primeiras eleições diretas nas capitais, após 20 anos. Um momento mágico, uma ebulição. Decidimos disputar a prefeitura, para marcar que havíamos voltado. Concorri com Jânio [Quadros, que venceria a eleição], Suplicy [Eduardo, atualmente senador pelo PT], Francisco Rossi [ex-prefeito de Osasco]... Foi então recriada a democracia cristã, e em 1986 o PDC elegeu cinco deputados constituintes. Fui votado em todos os municípios, graças à mensagem da democracia cristã, passada em 1985 e repetida na eleição de 1986. Em 1990, fui reeleito deputado. Em 92, elegemos quase 500 vereadores no estado de São Paulo. E, só um ano depois disso, acontece a segunda tragédia da democracia cristã, uma decisão equivocada da direção nacional que promoveu a fusão do PDC com o PDS [atual PP, o partido de Paulo Maluf]. Nossos números eram impressionantes: tínhamos 22 deputados federais, dezenas de deputados estaduais, três governadores, quatro senadores, quase 500 prefeitos, quase 5 mil vereadores... e num estalar de dedos acabou tudo. Dois anos depois, juntamente com mais 114 companheiros, refundamos a democracia cristã, acrescentando o S na antiga sigla – e o partido passa a se chamar PSDC. Veio 1998 e eu tinha duas alternativas: ou vou para a disputa de deputado federal, volto pro Congresso, ou desfraldo a bandeira do PSDC no Brasil inteiro pra mostrar que a gente voltou...

Como aconteceu em 1985?
Exatamente. Fazendo o mesmo papel. Mostrando que nós tínhamos voltado. Começamos a crescer, fizemos um pouco de vereadores, um pouco de prefeitos... e o divisor de águas nesse processo de crescimento foi a eleição de 2006. Naquele ano, escolhemos uma estratégia. Precisávamos mostrar duas coisas: que éramos um partido organizado em todo o país, um partido nacional; e que nós éramos um partido independente, que não estava na folha de pagamento de ninguém. Então convocamos os principais líderes nossos, que tinham condição de se eleger deputados federais, e os lançamos a governador. E eu disputei, novamente, a Presidência da República. Não mais com o objetivo de dizer que tínhamos voltado, mas para dizer que o partido era nacional e independente. O resultado dessa estratégia já colhemos na eleição de 2008: mais de 1,330 milhão de votos para vereador. Hoje, o cenário é diferente. A democracia cristã cresce, e por quatro motivos. O primeiro é o compromisso com a defesa dos valores e atendimento das necessidades da família. O segundo é a história do partido, que foi por duas vezes destruído e ressurgiu. O terceiro é a proposta central do PSDC como partido político – transformar o Estado de senhor em servidor. E o quarto pilar do crescimento é a trajetória que vem tendo nas cidades.

E como isso leva até sua pré-candidatura presidencial para 2010?
Eu seria candidato a deputado. Meus companheiros diziam: “você tem que voltar para o Congresso”. Havia uma tendência, aqui em São Paulo, para isso. E eu já tinha concordado. Mas então tivemos o terceiro Congresso Nacional da Democracia Cristã [realizado em agosto], no Rio de Janeiro. No final dele, fiquei preocupado. Vi que o PSDC se tornaria uma “colcha de retalhos”, já que os líderes locais apóiam candidatos ao governo que têm, cada um, suas preferências para a disputa presidencial. Toda essa unidade nacional que temos poderia estar ameaçada. E aí nossa assessoria de marketing, pesquisando a internet, viu um blog chamado Mente Conservadora. O articulista do blog fez um raciocínio: todas as pré-candidaturas à Presidência já declaradas estão do mesmo lado, têm o mesmo discurso. Um discurso ou de esquerda, ou de centro-esquerda. E ele dizia: “na eleição passada, eu ainda tinha uma alternativa – no segundo turno votei no Alckmin [Geraldo, do PSDB], mas no primeiro votei no Eymael. Mas agora não tenho em quem votar”. Isso nos fez pensar muito. Foi um ensinamento que a sociedade nos deu: não tem ninguém no centro. E nós somos um país que precisa de uma alternativa no centro.

E o senhor se coloca como sendo um candidato precisamente de centro, ou de centro-direita?
De centro. Somos autores da maior parte das conquistas dos trabalhadores na Constituição de 1988. Esse é o nosso cenário. E a visão foi se cristalizando: não só o PSDC queria uma candidatura própria, mas a sociedade a queria. Em outubro, realizamos em Aracaju o encontro dos presidentes dos diretórios estaduais do PSDC. E lá, vários companheiros diziam o seguinte: “enquanto discutimos aqui, a sociedade exige que lancemos uma candidatura!”. Foi muito interessante essa observação. Fora da gente, a candidatura estava sendo impulsionada. No final do encontro, chegou-se à conclusão que o PSDC deve ter uma candidatura própria à presidente - numa resposta àquela parcela da população que não se sente representada naquelas candidaturas já colocadas. E não há nem mais o propósito de 2006, nem o de 1998. Agora é realmente uma campanha pra disputar. Não que a anterior não fosse, todas foram; mas nós sabíamos das nossas limitações. Agora não, nós vamos disputar para ganhar.

E como o senhor avalia as chances de vitória no ano que vem?
Temos um cenário novo, completamente novo. Essa entrevista que estou dando para você, se fosse realizada em 2006, poderia fazer com que o Ministério Público entrasse com uma ação contra mim por propaganda antecipada. Eu só podia dar entrevistas após a convenção – ou seja, a partir de julho. Teria julho, agosto e setembro. Agora eu posso dar entrevistas para rádio, televisão, jornal. Só não posso pedir votos; posso falar propostas, princípios, histórias. Então nossa primeira estratégia é usar essa abertura imensa que a reforma eleitoral permitiu. Falando, no Brasil inteiro, da temática da democracia cristã, da proposta de transformar o estado de senhor em servidor. Sabemos que quando as pessoas conhecem a democracia cristã o efeito que ocorre é fantástico. E a legislação estabeleceu isonomia de candidatos. Está no texto da lei.

Qual a expectativa do senhor para o dia-a-dia da campanha?
Vai ser uma campanha muito forte. E é uma candidatura que se espera [por parte da população], não uma utopia. Vai ter muita gente que vai querer se engajar, num processo realmente forte. Na última vez que fui para Brasília, tomei um táxi e o taxista me reconheceu. E disse: “na eleição passada, em 2006, eu e minha patroa gostávamos de você. Mas não votamos no senhor, e sim no Lula, porque tínhamos certeza que ele iria cuidar dos pobres. Mas essa Dilma... essa Dilma!”. E isso me faz pensar: quantas outras famílias podem ter essa mesma ideia?

Uma coisa que marcou o senhor na eleição passada foi a questão da cadeira vazia [nos debates para o primeiro turno da eleição presidencial de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu, e sua ausência foi criticada por todos os candidatos; José Maria Eymael fez menções, no horário eleitoral, à “cadeira vazia” deixada pelo presidente]...

Sim, a cadeira vazia... marcou mesmo. Mas eu tenho um bom relacionamento com o Lula. Fomos constituintes juntos. E, no segundo turno de 2002, o PSDC apoiou o PT. A frase “a esperança venceu o medo” tem origem na gente! A nota oficial que fizemos de apoio ao Lula foi emitida no dia seguinte em que a Regina Duarte, no horário eleitoral, disse que tinha “medo” do Lula. Na nota, falávamos: “no momento em que, na sucessão presidencial, a força da esperança se opõe às forças do medo, o PSDC apóia as forças da esprança e apóia Luiz Inácio Lula da Silva”. Quando passamos isso para o coordenador de campanha do Lula ele sacou que a frase era forte, e fez a junção em “a esperança venceu o medo”. No mesmo dia, à noite, a frase já estava no site do PT.

Como é a relação do senhor com o jingle que leva seu nome, o “ei, ei, Eymael”?
O jingle é a minha pele... Vou te contar como ele nasceu. Estávamos em uma reunião, em 1985, para definir com que nome eu seria candidato a prefeito. A reunião chegava ao seu fim, e com uma certeza: eu poderia ser candidato com qualquer nome, menos Eymael. Poderia ser JM, José Maria, mas Eymael jamais, o povo teria dificuldades em pronunciar. Nisso, um companheiro nosso, o José Raimundo de Castro, alfaiate e compositor de música popular, ergueu o braço e disse: “mas se a gente ensinar o povo a dizer Eymael, ele não esquece mais”. E pediu dois dias para tentar encontrar um jeito para isso. Se reuniu com amigos também compositores e, após dois dias, às 17 horas, ele me ligou. Depois ele me contou que pedira para um auxiliar na alfaiataria segurar o microfone enquanto ele tocava o violão. Mas aí ele cantou o jingle. Na hora, senti ali que ele tinha feito um sucesso. Eu disse: “Castro, a partir de hoje devo a você minha história na política”. Foi coisa de gênio! Ele teve a genialidade de ver no meu “Ey” o “ei” brasileiro. Mas, durante muito tempo, houve muita gente que conhecia o jingle, e não o candidato. Então houve um processo, com muito esforço, de mostrar também o candidato – e sem tirar a alegria do jingle. Afinal, ele é um instrumento, e não um fim em si próprio.

O senhor não teme que esse jingle possa criar um “Efeito Enéas” – ou seja, a existência de um voto “brincalhão” que seria direcionado ao senhor?
Sim, isso poderia acontecer. Mas é por isso que nós temos mudado a abordagem de nossos programas eleitorais. É um assunto que preciso administrar, para não cair na brincadeira.

O jingle será usado na campanha de 2010?
De maneira dosada. Agora, eu quero passar minha proposta. Sem tirar a alegria do jingle. Ele terá um lugar na campanha, mas administrado.

O senhor é a principal figura do PSDC, o expoente nacional da sigla. Não teme um partido centrado exclusivamente na sua pessoa?
Nós temos líderes muito fortes, em todas as regiões do Brasil. O partido não tem dono. Mas já cheguei à conclusão que os partidos precisam de líderes de referência.

E o senhor se sente confortável nessa posição?
Sim, me sinto. Isso me incomodava no passado, mas hoje não mais.

Nas últimas eleições, seu filho, que adotou o nome político de Eymael Filho, foi candidato, mas obteve poucos votos. Ele disputará de novo em 2010? Quais as suas expectativas sobre a carreira dele?
Não sei se ele disputa de novo. Ele tem uma aspiração política, mas precisa trabalhar mais. E não achar que só o nome Eymael vai levá-lo ao sucesso. Precisa ir para a rua!

Qual a postura do PSDC em relação ao aborto?
Somos contra, a não ser nas exceções já previstas pela lei hoje [estupro e risco à saúde da mãe].

Descriminalização das drogas?

Nossa postura é de apoio ao dependente, e dureza ao traficante. Mas sem descriminalizar.

Pena de morte?
Somos contrários, em todas as circunstâncias.

União homossexual?
Nossa postura é a mesma da Constituição Federal hoje. A Constituição diz que se deve respeitar a opção sexual das pessoas. Não temos nada contra um contrato civil entre dois homossexuais. O que não concordamos é que se dê a esse contrato a feição de um casamento.

O PSDC tem núcleos de homossexuais, como há em alguns partidos?
Não.

Poderia vir a ter?
Não, não é algo que se encaixa em nossas bandeiras. Por exemplo: a Parada Gay é uma livre manifestação; mas o PSDC não participaria. O PSDC não critica, mas também não integra.

E em relação à obrigatoriedade do voto, o que diz o partido?
Estou convencido que o voto deve ser facultativo. Sou um defensor disso. Hoje, com a obrigatoriedade, os eleitores são levados a uma não-reflexão. Quem vota porque quer, e não porque é obrigado, analisa, examina melhor os candidatos. O que temos hoje é um sistema de fundo partidário e de comunicação com uma profunda, imensa desproporção. Mas acredito que, para 2010, isso não terá tanta influência, por conta da possibilidade que temos de nos posicionar como pré-candidatos um ano antes do pleito.

E isso é mais um motivo para crer em vitória?
É. Será difícil? Claro. Mas há um espaço imenso, como nunca houve, para a democracia cristã. Será o ano mais importante da nossa história. Os brasileiros vão conhecer a democracia cristã.

Fotos: Olavo Soares

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

PT exibe programa caprichado

O PT exibiu, ontem, em rede nacional, seu programa partidário gratuito. Aquele do qual todos os partidos dispõem, com inserções em anos não-eleitorais e que são destinadas à promoção do partido, e não dos candidatos. Em síntese - as peças podem fazer de tudo, menos pedir votos a candidatos futuros.

E a peça impressiona. Sua qualidade técnica é simplesmente irretocável. Não concebo um programa, em termos técnicos, melhor do que esse. Enquadramentos precisos, efeitos especiais na medida, falas bem-estruturadas... enfim, uma obra prima. Sinal que teremos alta qualidade técnica no horário eleitoral do ano que vem. Não vi o programa das outras siglas, alguém pode comentar se o nível está tão alto ou se o PT é uma exceção?

Quanto ao conteúdo, há alguns aspectos interessantes a destacar. Em primeiro lugar: Lula e Dilma aparecem em quantidade quase que igual na peça. Não há muita prevalência de um sobre outro. A figura da "Dilma gerente", enfatizada pelo próprio Lula em entrevistas, é o que se destaca. Dilma aparece sendo a responsável pelos projetos Minha Casa Minha Vida, Pré-Sal e PAC - que curiosamente têm mais espaço na publicidade do que o Bolsa Família, colocado em certa coadjuvância.

Chama a atenção ver também que Dilma é simplesmente chamada de "ministra". Seu cargo completo - ministra-chefe da Casa Civil - não é em nenhum momento mencionado, tanto nas falas quanto nos créditos inseridos abaixo de sua figura. E, com exceção de uma pequena citação de Lula, a figura da "mulher" e seus estereótipos costumeiros também não se faz presente.

Outras figuras do governo Lula aparecem, mas com destaque ínfimo. Uma reunião ministerial forjada tem Dilma na cabeceira e os outros ministros à sua volta. Que não emitem sons, apenas simulam o debate.

Além de Lula e Dilma, as duas únicas "autoridades" a falarem são Ricardo Berzonini e José Eduardo Dutra, respectivamente presidente atual e futuro do PT nacional - suas aparições acontecem para justificar a questão "partidária" do programa.

Como crítica, acho que a menção ao PSDB foi exagerada. Lula e o governo PT gozam de aprovação tamanha que acredito não ser necessária a citação do nome de partido e presidente anteriores. Uma comparação do governo atual com "governos de antes" seria mais interessante. Sabem aquela coisa do "falem mal, mas falem de mim"? Acredito que ignorar o PSDB e FHC seria mais lucrativo.

Vejam abaixo o programa e emitam suas opiniões.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O povo que não concorda comigo é burro

Mais uma pesquisa positiva para Lula: levantamento CNI/Ibope diz que o governo federal tem aprovação (soma de ótimo e bom) de 72%. A mesma pesquisa indica que a figura de Lula é aprovada por 83% dos brasileiros. É a segunda maior aprovação já registrada para o governo, perdendo apenas para a aferida em dezembro de 2008.

Como os números serão avaliados pela classe política? Simples: petistas dirão que é o "reconhecimento popular pelas boas ações do governo", enquanto demo-tucanos retrucarão falando que "as massas estão sendo iludidas por falsas benesses e não conseguem captar a realidade". De quebra, petistas dirão também que Lula é popular apesar da mídia, e a oposição falará que ele é popular por causa da mídia. Ah, e a Globo também será citada como protagonista para tal.

Interessante é que se fizermos uma volta rápida no tempo - mais precisamente, 11 e 15 anos - veremos o "povo" dando uma resposta, nas urnas, diametralmente oposta ao que se vê agora. O candidato Lula era derrotado duas vezes, e em primeiro turno, por Fernando Henrique Cardoso. O que se dizia na época? Petistas falavam que o povo era burro e caía na conversa oficial, enquanto tucanos elogiavam a sabedoria popular em reconhecer um governo que fazia um bom trabalho.

Já está mais do que na hora de se perceber que não se pode cravar a inteligência (ou a falta dela) do povo de maneira tão simplista e abstrata. Nem o "povo" era inteligente em 1998 e emburreceu, e nem era idiota há 11 anos e evoluiu para uma sabedoria ímpar nos dias atuais. A questão é que talvez não exista um "povo" como tal, essa massa tão amorfa, volúvel e sem opinião própria como tradicionalmente é descrita.

Talvez seja o caso de se dedicar um pouco mais de tempo a pesquisas qualitativas, análises mais detalhadas e precisas para que se entenda, de maneira precisa, o que o tal do "povo" anda pensando. Para evitar julgamentos cujo maior parâmetro é a conveniência.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Resultados que ensinam

Ontem, o Santos FC elegeu um novo presidente. Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, com 1.882 votos, venceu Marcelo Teixeira, que teve 1.129. Teixeira tentava vencer sua sexta eleição consecutiva.

Falo mais sobre os aspectos "futebolísticos" da eleição no Futepoca. Aqui, queria abordar mais questões de marketing político que se fizeram presentes na disputa.

Antes de mais nada, é preciso entender como funcionam as eleições do Santos. No clube, votam associados com mais de três anos de filiação. É um universo de cerca de 10 mil pessoas. Mas, tradicionalmente, são cerca de 2.500 os votantes - o voto não é obrigatório.

Num cenário como esse, fica evidente que uma tarefa essencial para ambos os grupos que disputam o poder é a captação de novos eleitores - mais prioritária do que o convencimento e a tentativa de reversão de quem vota do outro lado. Afinal, é mais fácil convencer quem ainda não tem opinião formada do que tentar cooptar aquele que tem posição firme de outro lado.

A oposição do Santos tem atuado nesse sentido desde 2002. Já visando os próximos pleitos, se iniciou aí uma campanha pela associação de torcedores. Além dos benefícios relacionados ao cotidiano de torcedor (como meia-entrada e garantia de ingressos nos jogos), sempre foi enfatizada a possibilidade de colaborar para a modificação dos destinos do clube.

Toda essa situação explica a euforia que estavam apoiadores da oposição santista ontem, ainda antes da apuração, quando foi anunciado o total de votantes: 3.024 pessoas. Acreditava-se que grande parte desse contingente era formada por novos sócios, e, desse grupo, a ampla maioria deveria estar do lado da candidatura de Luís Álvaro.

Quando foi concluída a apuração, os números evidenciaram que a ideia fazia sentido.

Mas é quando comparamos os números de 2009 com os das eleições anteriores é que conseguimos ter certeza da eficácia da tática.

Em 2003, Marcelo Teixeira teve 1.525 votos; Luís Álvaro, 990. Em 2005, foram 1.335 votos para Marcelo Teixeira contra 748 para Paulo Schiff, o escolhido da oposição na ocasião. Teixeira e Schiff se enfrentaram novamente em 2007 - mais uma vitória de Teixeira, que teve 1.367 votos contra 617 do opositor.

E agora, em 2009, Luís Álvaro recebeu 1.882 votos e Marcelo Teixeira, 1.129.

Percebe-se que a votação de Marcelo Teixeira caiu, sim; mas de maneira muito, mas muito menos significativa do que o crescimento dos votos da oposição. Apenas numa comparação entre 2007 e 2009, vê-se que foi um aumento de mais de 200%.

Votos que eram de Marcelo Teixeira e que migraram de lado? Parte deles, talvez. Mas mais que isso, a chave foram os novos eleitores. Gente que não se fazia presente nos outros anos (por inúmeros fatores, entre eles restrições estatutárias) e que agora puderam depositar seus votos.

De certo modo, a eleição de Luís Álvaro lembra, nesse sentido, o triunfo de Barack Obama nos EUA em 2008. O "Yes, We Can" do americano se materializou muito mais com a atração de novos eleitores do que com a retirada de votos dos republicanos.

O recado que fica é um tanto quanto óbvio, mas que vale ser ressaltado: o foco tem que estar nos eleitores, sempre. De nada adianta fazer pirotecnias que só vão alcançar aqueles que não têm poder para reverter a eleição.