quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sobre o "escândalo" dos grandes doadores

Muitos veículos, como Folha e Estado, divulgaram hoje em tom de "denúncia" informações sobre as doações feitas por empresas para a campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência. As reportagens destacaram o fato da principal doadora individual ser a JBS, empresa do ramo de carnes que recebeu, nos últimos tempos, significativos empréstimos do BNDES.

Desde que - felizmente! - as informações sobre doações de recursos para campanhas eleitorais se tornaram públicas, volta e meia surgem ilações sobre a relação entre doadores e beneficiários. "A empresa X doou um milhão para a campanha do fulano e meses depois foi escolhida em uma licitação" é o tipo de informação que costuma aparecer.

É claro que cabem, e muito, discussões sobre o interesse de grupos empresariais que fazem voluputuosas doações a campanhas políticas. Tendemos a rejeitar, de cara, o discurso de que as companhias fazem o ato "em prol da democracia" ou coisa do tipo.

Mas o que precisamos fazer é analisar mais os dados (que, repito, são públicos; é só ter certa paciência para vasculhar o site do TSE, cuja navegação não é das mais cômodas).

Lá é fácil verificar que é muito, mas muito comum que uma grande empresa que faz uma gorda doação a um candidato costuma... fazer doação semelhante a outro. Ainda que os dois sejam concorrentes, que se digladiem, que estejam em campos ideológicos/políticos diametralmente opostos.

Exemplos? Em 2006, a Acesita doou os mesmos R$ 50 mil a Aécio Neves (PSDB) e Nilmário Miranda (PT), rivais na disputa pelo governo de Minas Gerais. Dois anos depois, foi a vez do Itaú contemplar de maneira igual adversários: não dois, mas três de uma só vez. Gilberto Kassab (DEM), Marta Suplicy (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) receberam doações de R$ 250 mil reais para suas campanhas. Mais uma: R$ 25 mil foram destinados às campanhas de Sérgio Cabral Filho (PMDB) e Denise Frossard (PPS) pela Brascan Imobiliária em 2006. Na ocasião, Cabral e Frossard rivalizavam na disputa pelo governo do Rio de Janeiro.

É praticamente impossível a uma grande corporação ficar imune ao processo eleitoral. Candidatos de todos os portes certamente baterão às portas das companhias solicitando recursos. E, como se vê, o "agradar a todos" acaba sendo o caminho mais seguido.

Enquanto o financiamento público não existir (e será que um dia existirá?) e, principalmente, enquanto os partidos não conseguirem mobilizar os militantes para que contribuam financeiramente com as campanhas, as doações de grandes empresas serão mesmo o maior canal de dinheiro para as campanhas eleitorais. Nada de surpreendente nem de "denunciável" nisso.

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