sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A vez do PSB

Ontem foi a vez de mais um partido com pré-candidato à presidência exibir seu horário eleitoral gratuito - o PSB de Ciro Gomes. Taí a peça:



Há muito o que se observar no programa. Pontos muito positivos, alguns negativos, e outros que deixam no ar algumas questões.

Entre os pontos positivos, está a precisa participação de Ciro Gomes. Ciro aparece como figura principal, mas de maneira mais sutil e mais bem-feita do que ocorreu com Dilma e Marina nos horários de PT e PV, respectivamente. Natural: dos quatro pré-candidatos à presidência, Ciro é, com sobras, o de melhor oratória e o que mais teria condição de conduzir um programa publicitário.

Então o "deputado" (é estranho chamá-lo assim) falou bem sobre as conquistas do governo Lula, deixou claro que foi fiel ao presidente e que defende a manutenção de suas conquistas. Acho que a maior riqueza do vídeo está justamente em seu início, quando ele cita o "Fla-Flu partidário". Ciro sugere que as disputas eleitorais no Brasil não podem se resumir à briga PT-PSDB e coloca o PSB - ou melhor, coloca a si próprio - como a melhor alternativa para isso.

Mas aí vêm os defeitos do vídeo. O maior deles é o excesso de sotaque nordestino. Calma, calma, não tô sendo racista. Só quero destacar o fato de que o Brasil é mais que o Nordeste. Alguém viu na peça alguma menção - por menor que seja - aos três estados do Sul do Brasil?

Não se pode esquecer que, em 2006, Lula perdeu nos três estados do Sul. E é lá que está a população menos simpática a algumas das políticas sociais do governo Lula. O programa do PSB simplesmente ignora a porção setentrional do nosso país e serve de argumento para que parte das pessoas de lá falem que o governo federal só "explora" os três estados.

É claro, é óbvio que isso se explica pelo fato do PSB não ter nenhum governador na região. Mas certamente têm lideranças gaúchas, paranaenses e catarinenses que poderiam aparecer no programa e dar um caráter mais nacional ao vídeo.

De certo modo, o PSB deixa clara qual será a sua linha de campanha caso Ciro Gomes efetivamente dispute a presidência. Ciro é bom, muito bom de discurso - repito, melhor que Marina, Dilma e José Serra - e tem tudo para dar uma bela dor de cabeça ao bipartidarismo que se sugere no pleito. Mas ainda há o que evoluir.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Briga boa

Vem do Pará uma notícia interessante: o PMDB local teria oficializado sua ruptura com a gestão de Ana Júlia Carepa (PT), a quem apoiara na eleição de 2006, e por consequência teria também confirmada a ideia de lançar uma candidatura própria para o governo do estado.

O nome peemedebista para a disputa? Ninguém menos que Jáder Barbalho.

A informação aponta ainda que a candidatura de Barbalho teria como principal fiador o presidente nacional do PMDB, Michel Temer.

Ao que tudo indica, Ana Júlia Carepa não desistiria da disputa.

O que levaria a uma disputa "fratricida" dentro do estado - fratricida porque, apesar de rivais, Carepa e Barbalho dariam seus palanques para a candidatura presidencial de Dilma Rousseff. Ou seja: ainda que o bicho pegue em proporções astronômicas, a beneficiada será a indicada de Lula para o Planalto.

Se por uma eventualidade a tentativa de reeleição de Ana Júlia não decolar, os petistas do estado talvez se vejam obrigados a endossar a candidatura de Jáder Barbalho. E aí no Pará se desenrolará um cenário análogo ao do Maranhão: o PT local tendo que beijar a mão de antigos oponentes, algo de deixar enrubescidos os petistas históricos da região.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Hipocrisia que prejudica

O PV veiculou ontem seu programa partidário gratuito - aqueles dos quais os partidos dispõem e que, teoricamente, servem para que as legendas exponham suas diretrizes gerais, sem enfoque em um ou outro candidato. Vejam a peça:



Taí, belo "programa partidário", hein? A obra é uma propaganda descarada da pré-candidatura da senadora Marina Silva (AC). Um escritinho "vote Marina, número 43" no final é o que bastaria para que o filme se convertesse em um esquete perfeito do horário eleitoral, sem que nenhuma outra alteração fosse necessária.

Não chego a condenar os verdes por isso. A campanha de Marina não é a única na rua. Nem a mais explícita; Dilma Rousseff tem inaugurado até recapeamento de asfalto e esteve ao lado de Lula inclusive na ocasião em que o presidente deixou o hospital de Pernambuco no qual esteve internado (ainda que o TSE não entenda as ações como propaganda). O PSDB segue um pouco mais tímido - até porque o próprio partido ainda não conseguiu fechar, de maneira "redonda", a candidatura de José Serra.

Ao meu ver, o que Dilma, Marina e em breve José Serra estão fazendo pode suscitar outra discussão: até que ponto cabe essa hipocrisia de "pré-candidatura"? Por que a lei não pode permitir que o PV ou o PT exponham, com todas as letras, que têm nomes para a disputa presidencial? Pode-se alegar que ambas as candidatas têm mandatos (assim como José Serra) em curso, e que por isso têm atribuições específicas a cumprir; faz sentido, mas a restrição também se aplica a quem não tem mandato nenhum e pode se dedicar de corpo e alma a uma campanha.

Acho que seria melhor para todos os envolvidos - e para a democracia - se as candidaturas pudessem ser colocadas na mesa de forma transparente. Para que o eleitor pudesse, desde já, ir formando sua consciência e tendo ideia de como direcionará seu voto. Essas hipocrisias do período pré-eleitoral são chatas, bem chatas.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O palestino que quer governar o Texas

A revista Politics Magazine, uma das mais famosas do EUA na área de campanhas políticas, divulgou na sexta passada os vencedores do Reed Awards, premiação que entrega àqueles que, na avaliação da revista, fizeram as melhores campanhas eleitorais no ano passado.

De cara, é interessante para nós brasileiros vermos as diferenças monstruosas que há no fazer política lá e aqui. Enquanto no Brasil a coisa é ainda tímida e restrita aos períodos eleitorais, nos EUA a atividade (como tudo por lá, aliás) é viva e se movimenta em diversas dimensões. O Reed Awards deu prêmios, por exemplo, para os melhores "vilões" e as campanhas mais "duras". Alguém imagina isso no Brasil?

Na categoria melhores anúncios para a TV, um prêmio chama a atenção. Foi o destinado à campanha de Farouk Shami. Vejam o anúncio:



Não chega a ser nada exatamente inovador. Mas, com uma googlezada rápida, vemos que Farouk é uma figura interessante e que seria digno de muitas, muitas análises.

Uma única característica de Farouk já justifica seu aspecto curioso: ele é palestino. E nascido na cidade de Ramallah. Tá bom ou quer mais?

É (obviamente) naturalizado americano e construiu sua fama no Texas como um bom empresário. Assim, inclusive, que alicerçará sua campanha - "as big as Texas" é o seu slogan, sugerindo que como governador fará pelo estado o mesmo que faz em suas empresas.

Ainda faltam muitas etapas para que Farouk efeitvamente governe o segundo estado mais populoso dos EUA. A primeira delas é vencer a disputa pela indicação do Partido Democrata para que ele seja o candidato da sigla. A eleição propriamente dita acontece apenas em novembro (aliás, isso também sugere outro tema para debate - os EUA têm essa transparência de se colocar uma pré-candidatura na rua, ao contrário da hipocrisia do "estou à disposição do partido" que reina no Brasil).

Mesmo que não seja o vitorioso, é interessante pensar que é viável imaginarmos que um palestino pode governar o Texas. Curioso.