terça-feira, 23 de março de 2010

Bola fora demagógica

Repercute notícia divulgada hoje em vários veículos sobre uma decisão da coordenação da candidatura de Marina Silva (PV) à presidência: a da não-contratação de um "marqueteiro" para a campanha. "A gente não acha que a imagem da Marina deva ser transformada ou vendida como um produto", é a declaração de Alfredo Sirkis, vereador do Rio de Janeiro e coordenador da campanha de Marina.

As falas de Sirkis e Marcos Mroz, também coordenador da campanha e citado no texto, sugerem que a campanha de Marina primará pela "naturalidade". Uma espécie de oposição à candidaturas "artificiais", "impostas", "fajutas" ou qualquer outro adjetivo similar.

Cá entre nós: a decisão - ou melhor, seu anúncio - só não é uma bobagem completa porque pode ter algum impacto eleitoral, por menor que seja.

Em primeiro lugar, pelo que segue no texto: No lugar do marqueteiro, haverá uma equipe de vários profissionais de comunicação. "Estamos trabalhando com tudo o que os outros terão. Teremos pesquisas, diretor de arte, redator etc. Só não teremos um cara acima do bem e do mal", diz Marco Mroz, outro coordenador da campanha. Ou seja: a campanha de Marina não será a "espontaneidade" toda que sugerem Sirkis e Mroz ao anunciar a decisão. Será uma campanha comandada por profissionais, baseada em suas decisões, em pesquisas, em levantamentos - ou seja, em marketing. Por mais que não haja um "marqueteiro" (ô palavra feia!), será, sim, uma campanha que terá o marketing como ferramenta das mais importantes.

E, pra completar, entristece ver gente importante como os coordenadores de duas campanhas de peso se referindo assim ao marketing político. Achei que já tivesse passado o tempo em que o marketing político fosse equiparado ao "vender sabonete", alegoria sempre citada quando se quer apedrejar a atividade. Não há democracia forte sem um marketing político consistente - ou é preferível que as boas ideias estejam restritas aos porões das casas de seus criadores? Marketing político é pensar uma melhor forma de comunicar a política, de se levar ideias aos eleitores, de aprimorar o contato.

Há gente que usa o marketing político pra maquiar pessoas ruins e enfiar maus candidatos pela goela dos eleitores? Evidentemente que há. Mas resumir o marketing político a isso é triste. E fazer demagogia com base nessa assertiva é tão triste quanto.

Emenda Ibsen, pré-sal e políticos paulistas

O assunto da política nacional é a questão do pré-sal - mais especificamente, a divisão de seus royalties -, por conta da emenda Ibsen, que prevê uma distribuição mais equalitária dos recursos em detrimento de uma proposta anterior, que beneficiava os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Sem querer entrar no mérito técnico da coisa - até porque, para ser sincero, ainda não formulei opinião precisa a respeito -, gostaria de avaliar o caso e seus desdobramentos para os políticos paulistas nas eleições de 2010.

Meu amigo Walter Martins escreveu que a questão, apesar das perdas financeiras, acabou sendo benéfica para o governador fluminense, Sérgio Cabral Filho. Walter tem razão; ao mostrar poder de mobilizar as pessoas de seu estado, Cabral se posiciona como líder e angaria (ainda mais) a simpatia das pessoas do seu estado.

Trago a coisa para o lado de cá da Via Dutra. Para nós, paulistas, a questão não tem o mesmo impacto que tem para a população do Rio - ainda que, obviamente, seja das mais relevantes.

O que eu acredito é que um candidato paulista precisa ter uma posição firme sobre a questão. Não acho que exista um caminho mais ou menos certo, em termos eleitorais; não arriscaria dizer algo como "ser a favor da emenda Ibsen traz mais votos" ou coisa parecida. Isso não faria sentido.

A questão é que o paulista - assim como qualquer brasileiro - quer ser representado por alguém que tenha convicções semelhantes às suas. As pessoas estão formulando opiniões sobre o caso e gostariam de vê-las tendo eco nos congressistas a quem elegeram.

Para quem vai se candidatar em 2010, o caminho a respeito da questão do pré-sal está delimitado por aí: criar com base nos acontecidos uma postura e defendê-la. Por exemplo, escrevendo artigos ou sendo fonte de entrevistas a respeito - a imprensa sempre quer ouvir a opinião de líderes políticos a respeito dos temas em relevância, colocar-se como um deles é algo que traz resultado.

Repito: o eleitor quer ser representado, quer votar em alguém que pensa como ele. Mostrar que se é uma dessas pessoas é a iniciativa ideal.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Lula, absurdamente Lula

O Ibope divulgou hoje a mais nova pesquisa com as intenções de voto para a disputa presidencial. O levantamento era dos mais esperados - afinal, ele determinaria a "chegada" de Dilma Rousseff ou mostraria que José Serra ainda é favorito.

Os números estão no blog do Fernando Rodrigues: Serra ainda lidera nas pesquisas estimuladas. Sua diferença para Dilma é, hoje, de 5 pontos. A pesquisa aponta que a candidatura de Aécio não desfruta de nenhum alicerce e que Ciro e Marina se consolidaram mesmo como nomes intermediários - gozando das benesses e problemas que tal condição traz.

Mas o mais interessante do levantamento não são os resultados das pesquisas estimuladas, e sim das espontâneas. E é com base nesses valores que o PT pode fazer uma baita festança para comemorar os resultados.

Qual o candidato que os brasileiros mais gostariam de votar para presidente? Acertou quem disse Luiz Inácio Lula da Silva! O atual presidente tem 20% das respostas na pesquisa espontânea. Um quinto do eleitorado nacional. E em segundo lugar vem Dilma Rousseff, com 14%.

Ou seja: mais de um terço dos brasileiros votariam no PT para a presidência hoje, em uma resposta espontânea. Isso é muita, mas muita coisa. Imensamente mais do que os 35% que Serra tem na pesquisa estimulada - na espontânea, o tucano tem apenas 10%, e é o terceiro colocado.

É claro que a exposição pública de Dilma em comparação à retração de Serra explicam parte desses números. Por outro lado, é bem difícil crer que quando Serra se lançar às ruas ele conseguirá reverter esses patamares.

Ainda há muita coisa para acontecer nessa campanha. Mas nunca a vitória de Dilma - e de Lula, e do PT - se mostrou tão tangível.