segunda-feira, 5 de abril de 2010

Trecho Sul do Rodoanel: primeiras impressões

Que o Rodoanel é uma obra importante para o estado de São Paulo, ninguém discute. Tanto que as críticas que o projeto recebe são de naturezas como "poderia ser melhor", "veio tarde", "foi inaugurado às pressas" e por aí vai. Ninguém, rigorosamente ninguém, contesta a necessidade da capital paulista ter um anel viário que una as estradas que a ela cheguem e tire da cidade grande parte do seu tráfego.

O Trecho Sul do Rodoanel foi inaugurado formalmente na terça-feira passada (30) e aberto para circulação na quinta-feira (1).

Hoje, fiz um teste na via. Percorri o Rodoanel da Anchieta à Raposo Tavares, e vice-versa, de manhã e à tarde.

Diariamente, vou de São Bernardo do Campo à Cidade Universitária, onde trabalho. Vou de carro ou ônibus, dependendo das necessidades do dia. Quando vou de carro, sigo um trajeto que se inicia na Rodovia Anchieta e termina na Ponte Cidade Universitária, passando pela famigerada Avenida dos Bandeirantes, uma das mais vitimadas pelo tráfego paulistano. Das quatro faixas da Bandeirantes, duas são habitualmente tomadas por um infindável paredão de caminhões, que vão de Santos ao interior paulista, e vice-versa; e as duas faixas restantes não dão conta do enorme número de pessoas que procura a avenida. O resultado são congestionamentos praticamente incessantes.

A chegada do Trecho Sul do Rodoanel tem por objetivo dar uma nova alternativa aos moradores do ABC que vão a pontos como interior e Zona Oeste de São Paulo e também tirar os caminhões de vias como a Avenida dos Bandeirantes.


Introdução feita, vamos às impressões que tive dessa jornada no novíssimo Trecho Sul do Rodoanel.

Ida
Antes de mais nada, as informações-chave: sim, a viagem pelo Rodoanel é muito mais longa do que a que corta a cidade de São Paulo. O percurso São Bernardo do Campo - Cidade Universitária, pelas vias convencionais, tem 30 quilômetros; hoje, no Rodoanel, andei mais que o dobro. 76 quilômetros, para ser mais exato. Muita, muita coisa.

Porém, a outra informação-chave deixa a questão um pouco mais equilibrada. O tempo que levei para fazer a viagem foi pouco maior do que o que gasto no caminho convencional. 1h20 na ida, uma hora na volta. E, na ida, esse tempo a mais se deve a um acidente ocorrido na Raposo Tavares que deu à região um tráfego muito superior ao habitual para o horário.

Ou seja: em termos de tempo, ir pelo Rodoanel e pelo circuito Anchieta-Maria Maluf-Bandeirantes-Marginal acaba sendo algo similar.

Condições da via
Se pela questão do tempo as duas "viagens" acima citadas são semelhantes, em termos do estilo do percurso a diferença é abissal. Andar pelo Trecho Sul do Rodoanel é uma experiência completamente diferente para quem está acostumado a cruzar semáforos, bairros e vias importantes da capital paulista em seu dia-a-dia. Porque o Rodoanel é uma estrada. E andar por ele é como fazer uma viagem ao interior. Passa-se por trechos demasiadamente longos em que a paisagem do lado é tomada por árvores, montanhas, morros e por aí vai. Natureza, algo que quem está na Grande São Paulo não tem o hábito de ver em seu cotidiano. A impressão que se tem é que a viagem se encerrará em uma cidadezinha do interior. É diferente do habitual, bem diferente.

Falando da pista propriamente dita, o Rodoanel está em condições ótimas. São quatro pistas, com asfalto perfeito, e até mesmo cimento em alguns trechos. Não há curvas perigosas, pontos-cegos nem nada desse tipo. Arrisco dizer que acidentes lá só ocorrerão por falhas mecânicas ou imprudência dos motoristas.

Sinalização
Taí o ponto mais fraco do Trecho Sul do Rodoanel, ao menos inicialmente. Na Avenida Lucas Nogueira Garcez, do centro de São Bernardo, e que é o principal corredor central da cidade rumo à Rodovia Anchieta, não há menções ao Rodoanel. Para quem cai na Anchieta sentido Santos (e só o faz por saber que é lá que está o Rodoanel, já que não há sinalização), as primeiras referências ao anel viário só aparecem nas proximidades das entradas para os bairros Jardim das Orquídeas e Parque Espacial. Só na altura da fábrica da Volkswagen que a sinalização se faz presente e o motorista é bem informado que, sim, aquele caminho leva ao Rodoanel.

Logo após deixar a Anchieta e entrar efetivamente no Rodoanel, o motorista vê placas informando sobre a distância até as rodovias dos Imigrantes, Régis Bittencourt e Raposo Tavares. A dica é decorar bem as distâncias que lá são informadas, porque... não há outras menções ao longo do caminho. A não ser que eu tenha me enganado, simplesmente não se vê nenhuma outra referência a quanto falta percorrer para se chegar nas estradas ligadas pelo anel.

Também não há sinalização sobre as possíveis entradas/saídas que há do Rodoanel aos lugares por ele cortados. Com exceção das placas de divisas de municípios (e são tantas, já que da Anchieta até a Raposo Tavares se passa por São Bernardo, São Paulo, Itapecerica da Serra, Embu, Cotia, Osasco e novamente São Paulo), não se informa ao motorista onde ele está situado.

A chegada ao Trecho Oeste também é feita com relativa "surpresa". Após tanto tempo vendo apenas mato e a água das represas Guarapiranga e Billings, o motorista começa a ver sinais de relativa civilização e subitamente é informado que as saídas para Régis Bittencourt se aproximam. Caberia, ao meu ver, mais uma sinalização prévia, para evitar mudanças bruscas na atitude dos condutores.

Trânsito
Minha entrada no Rodoanel, saindo da Anchieta, se deu por volta das 9h20; às 10 horas eu estava na Raposo Tavares. Nesse período, o tráfego que testemunhei, tanto de carros quanto de caminhões, foi muito pequeno. Nem de longe houve uma modificação que pudesse sugerir a ocorrência de qualquer sombra de congestionamento. Observei isso nos dois sentidos.

Provavelmente, efeito da novidade que ainda é a via; certamente há muitos motoristas que não sabem que ela foi inaugurada, ou que não têm noção de sua rota. Vejamos como essa questão ficará à medida em que o Trecho Sul do Rodoanel for sendo mais conhecido.

Volta
Inicialmente, meu plano era fazer a jornada Cidade Universitária-São Bernardo no período da noite. Mudança de planos no meu dia profissional fizeram com que eu decidisse voltar para casa de tarde, deixando a Cidade Universitária por volta das 16h30.

A princípio, já se vê aí mais um benefício da existência do Rodoanel. O fato da via não cortar regiões centrais de São Paulo faz com que ela não integre as regiões onde vigora o rodízio de carros e caminhões. Ou seja: caminho liberado para quem precisa circular entre 7/10 e 17/20 horas nos dias de semana.

Condições da via
As observações feitas no percurso de ida se aplicam também ao da volta - ou "pista externa", como é chamada a que sai da Raposo e vai para as estradas litorâneas. A condição do asfalto/concreto é perfeita.

Além de falhas humanas, outro ponto que pode ser um possível causador de acidentes são as condições climáticas. O Rodoanel está situado na Serra do Mar e, portanto, tem o clima típico da região - caracterizado por garoa e serração, especialmente ao entardecer. É preciso que o motorista tenha atenção redobrada.

Sinalização
Mais uma vez, repetem-se as críticas. E com aspectos adicionais.

O primeiro foi detectado logo na Raposo Tavares. Quando o motorista sai da Raposo e entra no acesso ao Rodoanel, se vê obrigado a escolher entre duas opções: ou pega o caminho que o leva a Bandeirantes/Castello Branco ou... Régis Bittencourt. Cadê a menção à Anchieta e à Imigrantes? Ou, de maneira ainda mais didática: por que não se cita ali as cidades de São Bernardo, Santo André, Mauá e Santos, prováveis destinos de quem pega o Rodoanel naquele sentido? Sugere-se que a obra foi entregue e o Trecho Oeste ainda não foi sinalizado para tal. O motorista que conhece menos o caminho pode se complicar.


Em todo o caminho que percorri, não vi placas trazendo aos motoristas a distância até as rodovias que quer alcançar. Ou seja: o condutor entra no Rodoanel e segue ad eternum até chegar ao ponto que precisa.

Há também outro problema em relação à sinalização. Mas esse ataca muito mais a língua portuguesa do que a segurança dos condutores. Em mais de uma ocasião, a cidade de Embu tem seu nome grafado como "Embú" e Itapecerica vira "Itapecirica". Infelizmente, não consegui fotografar as pérolas. Feio, muito feio, hein?

Trânsito
O horário no qual fui para São Bernardo era mais propício ao aumento na circulação de veículos, e foi o que encontrei. Mais uma vez, nada que sugerisse um congestionamento; mas um grande número de carros e caminhões, especialmente em direção ao Trecho Oeste (oposta da qual eu seguia).

Acho improvável que o Trecho Sul, ao menos antes do início dos pedágios, tenha tráfego pesado.

Observações gerais
O que verifiquei nessa primeira experiência foi um Rodoanel em ótimas condições. Que tem como principais falhas a sinalização ainda insuficiente e a falta de pontos de parada para os motoristas. Não há um único posto de combustível, lanchonete ou qualquer outro ponto de apoio para quem está na via. Pode-se dizer que isso é uma opção, que o Rodoanel não pode ter as características de uma estrada normal, mas certamente esses itens farão falta ao longo do tempo em que o trecho for sendo mais usado.

Cabe dizer: o Trecho Sul ainda não tem pedágio. O motorista que sai da Anchieta e vai para a Raposo Tavares só pagará pedágio (de R$ 1,30) quando acessar a Raposo; e quem vem da Raposo rumo às litorâneas pagará R$ 1,30 logo após ingressar no Rodoanel propriamente dito. São R$ 2,60 no total.

Há umas três ou quatro praças de pedágio em construção ao longo do Trecho Sul. Elas estão localizadas em pontos como a saída de Anchieta e Imigrantes. Acredito que, quando todas estiverem em operação, o motorista pagará dois pedágios na ida e dois na volta em todo o trajeto.

Conclusão
Meu veredicto final (ou inicial, já que foi minha primeira jornada pelo Trecho Sul): o Rodoanel é ótimo, mas não se converterá no meu caminho de dia-a-dia. A distância mais que o dobro da convencional faz com que o consumo de combustível seja superior. Isso, acrescentado aos pedágios que já existem e aos que existirão, faz com que o caminho não seja propriamente muito econômico.

Encaro o Rodoanel como uma alternativa. Para aqueles dias em que São Paulo está um verdadeiro nó, em que ninguém anda na Bandeirantes, em que todas as alternativas estão tomadas, em que só os motoqueiros - e olhe lá - conseguem circular.

E, claro, espero que o Rodoanel absorva o tráfego dos caminhões e seja a válvula de escape que São Paulo tanto precisa.

E vocês? Já passaram por lá? Concordam ou discordam dessas minhas avaliações? Contem o que acharam!

Fotos: Olavo Soares

A eleição paulista mais emocionante em 2010

Com os nomes já postos à mesa, já não vivemos mais aquela fase da especulação sobre quem serão os candidatos aos determinados cargos. Agora é hora de se debruçar sobre pesquisas e análises para ver como andarão os nomes já apresentados pelos partidos.

A situação faz com que em São Paulo a eleição para o governo estadual seja transformada, até terceira ordem, num baita marasmo. Como José Serra foi confirmado o candidato tucano à Presidência da República, não tentará a reeleição ao governo; e o PSDB não deu bola à possíveis pressões internas e confirmou o nome de Geraldo Alckmin. Tarimbado, bem-visto pelo eleitorado paulista, Alckmin será eleito novamente e tem tudo para levar a fatura no primeiro turno.

O PT lançará Aloizio Mercadante para disputar com o ex-governador. Apesar de ser uma candidatura mais lógica, mais coerente e mais respeitável que a de Ciro Gomes, está fadada ao fracasso. Há quem diga que o PT precisa repetir candidaturas para ter sucesso na busca pelo controle do estado; já eu avalio que Mercadante abrirá mão de uma tranquila reeleição ao Senado para apanhar feio de Alckmin e prejudicar sua reputação política.

O prejuízo não ficará pior para o PT porque, pelas pesquisas que têm sido divulgadas, o partido tem tudo para faturar com facilidade uma vaga no Senado. E na pessoa de Marta Suplicy - ex-prefeita paulistana que, embora tenha deixado o cargo bem-avaliada, fracassou na busca de sua reeleição e também na tentativa, em 2008, de retomar o cargo.

Os números são impressionantes e deixam claro que Marta vencerá, sim, a eleição (e formará uma interessante bancada ao lado de seu ex-marido Eduardo - caso único na política nacional?).

O bicho pegará para a segunda vaga - e é ai que entra a "emoção" que cito no título do post.

Pelo levantamento do Datafolha, Romeu Tuma (DEM, o atual senador), Orestes Quércia (PMDB), Netinho de Paula (PCdoB) e Soninha (PPS) estão próximos entre si, com vantagem para os dois veteranos.

O que Tuma e Quércia têm de superior em relação a Netinho e Soninha é justamente o fato de representarem um eleitorado mais à direita, que talvez não queira abrir mão de se ver representado no Senado - Aloysio Nunes (PSDB), que poderia ser o outro nome dessa categoria, não tem um bom desempenho e é difícil imaginá-lo indo muito mais além do que o registrado atualmente (o fato de ser o nome dos provavelmente vitoriosos em São Paulo Alckmin e Serra não muda muita coisa - é só ver o desempenho pífio que José Aníbal teve em 2002).

Por outro lado, o potencial de crescimento de Tuma e Quércia é menor que os de Netinho e Soninha. Tanto Tuma quanto Quércia são velhos na política e não é muito crível imaginar que seus eleitorados possam evoluir muito. Netinho e Soninha desfrutam de uma fama à parte da política que pode contribuir, e muito, para que eles voem mais nessa caminhada.

Taí uma eleição que tem tudo para ser decidida voto a voto.