quinta-feira, 27 de maio de 2010

"Esse anúncio é um oferecimento de..."

Corre na Justiça dos EUA um projeto de lei para alterar as campanhas eleitorais. Entre uma série de medidas, uma proposta interessante: grandes financiadores terão que ter seu nome divulgado nos anúncios (veja matéria da Politics Magazine a respeito).

A situação norte-americana em termos de financiamento de campanhas é diametralmente diferente da brasileira. Lá, as doações são mais presentes, mais volumosas e, ao mesmo tempo, mais transparentes. Não que aqui não sejam - descontando os casos de caixa-dois, às margens da lei, todas as doações para candiaturas são registradas e disponíveis por consulta pela internet. Mas é que lá a cultura para isso é mais forte, e as doações são mais divulgadas e conhecidas por todos.

Pois bem, a mudança à qual me refiro no início do post teria um efeito dos mais interessantes. Imaginem só: após uma propaganda convencional, de um candidato falando suas propostas ou criticando um adversário, teríamos marcas como GM, Wal Mart, Microsoft ou sei lá o quê dando seu nome, logotipo e cara à tapa como patrocinadores da empreitada.

Eu insisto que doações para campanhas são um belo instrumento para a consolidação da democracia. Todos têm interesse - maior ou menor, é claro - na vitória de algum candidato. Então qual o problema de materializá-lo em uma transferência legal, transparente e honesta de recursos?

E se falarmos de pessoas físicas, então, a questão ainda se amplifica. O cidadão que doa parte de seu salário - ainda que 50, 100 dólares, como o que se viu muito na campanha de Obama em 2008 - a uma candidatura acaba por se interessar mais pelo que acontece. E a democracia ganha com isso.

A proposta ainda está em tramitação na Justiça dos EUA, e não há garantias de que seja aprovada. Se for, causaria uma modificação interessante. Vocês acham que faria sentido uma ação dessas no Brasil?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Marta-Netinho: inédito e desafiador

A Folha Online deu ontem que o PT deve oficializar, nos próximos dias, sua dupla de candidatos ao Senado: Marta Suplicy, ex-prefeita paulistana e uma das principais lideranças do partido no estado, e Netinho de Paula, ex-pagodeiro e atual apresentador e vereador, e filiado ao tradicional aliado PCdoB.

Se confirmada, a dupla fará com que São Paulo veja uma campanha pelo Senado como jamais ocorreu aqui.
Explicando: são duas vagas em disputa na eleição de agora. Tradicionalmente, aqui e em grande parte dos outros estados, as coligações não mandam dois candidatos "de verdade" para a briga. Se teme que um roube votos do outro, e nenhum termine eleito. É mais usual ver um candidato saindo com toda a força (e apoio partidário) e outro que tenha como principal função "compor chapa" e fazer seu próprio nome para eleições seguintes.

Em 2002, o PT lançou em São Paulo, pela sua coligação, Aloizio Mercadante (pelo próprio PT) e Wagner Gomes, pelo PCdoB. Mercadante arrebentou a boca do balão e teve mais de 10 milhões de votos. Gomes? Foi escolhido pelos que queriam votar "PT de ponta a ponta", teve uma até que expressiva marca de 3 milhões de votos, mas nada que impedisse a tranquila reeleição de Romeu Tuma (à época, no PFL).

Quando Netinho começou a se posicionar como pré-candidato ao Senado, se dizia que a opção desagradava ao PT pelo fato dele e de Marta terem eleitorado semelhante. De fato, são dois nomes cuja principal base está na periferia urbana. Há, sim, a tendência que roubem votos um do outro - e aí os candidatos de outros partidos poderiam usufruir dessa vantagem.

Mas Marta-Netinho vão para o pau. E, na minha avaliação, têm totais condições de serem eleitos. O PSDB, aparentemente, não terá um nome dos mais cativantes. Romeu Tuma (PTB), o atual senador, tem atuação discreta e pode estar abalado pelas denúncias que atingem ao seu filho. Orestes Quércia (PMDB) é forte, mas é difícil crer que ele conseguirá captar o voto anti-PT (que, a princípio, é tão forte quanto o pró-PT e tem condições de eleger um nome em uma eleição com dois vencedores).

Se Netinho e Marta ganharem, um novo paradigma para eleições para o Senado estará lançado.

A foto que ilustra o post é de reportagem do Terra sobre as eleições de 2008. Na ocasião, Marta disputava a prefeitura de São Paulo e Netinho tentava ser vereador. Apesar de dois anos passados, a imagem soa mais atual que nunca!

terça-feira, 4 de maio de 2010

É preciso melhorar

A polêmica fajuta da vez é a declaração na qual Dilma Rousseff, falando sobre o livro Vidas Secas, fala sobre "a saída das pessoas do Nordeste para o Brasil". Pretexto para começarem a chamar a candidata de preconceituosa, de alheia, de desconhecedora da realidade nacional e por aí vai.

Bobagem, é claro. Dilma deu só uma derrapada nas palavras, coisa inevitável a quem tem muitas e muitas declarações registradas e disseminadas por aí. Fazer juízo de valor com base nisso é algo sem sentido.

A meu ver, mais "grave" do que a fala de Dilma é o lugar de onde ela foi extraída. É do vídeo abaixo, entrevista sobre cultura com a candidata produzida pela sua equipe para a internet. Vejam:



Cá entre nós: o vídeo é de qualidade sofrível. Dilma - com exceção da frase sobre Vidas Secas - não fala nada de errado, nada que comprometa sua candidatura. Pelo contrário, elenca números e informações sobre o tema sem muita dificuldade.

E é aí que está o erro. Qual a principal dificuldade da candidatura Dilma? É dar à candidata personalidade própria, alma, vigor, fazer com que ela seja interpretada pelo eleitorado como uma pessoa responsável e apta para conduzir o Brasil, e não um fantoche - ou "o Pitta" - de Lula.

Produções como essa reforçam uma Dilma dura, não-espontânea, incapaz de ter uma franca e sincera conversa com o eleitorado. A maneira como ela olha o teleprompter (ou um assessor, ou outro recurso) é feia, errada - ainda mais em um vídeo que, pela sua descrição, pretende ser o registro de "um bate-papo descontraído".

Compreensível para quem faz sua primeira campanha, inaceitável para uma das duas principais candidaturas presidenciais brasileiras. Dilma precisa evoluir.