segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Da pancadaria emerge uma lição

Eu não gosto de MMA. Não chego a ser como meu amigo Eduardo Maretti, que repudia o esporte com todas as forças, mas o fato é que não vejo graça, não me entretenho vendo uma luta do UFC.

Mas independentemente do que eu ache, o fato é que o MMA pegou no Brasil. Deu certo. O esporte é um sucesso. Frequenta capas de jornais e, o mais importante, conversas na rua. Os brasileiros gostam de MMA, os brasileiros assistem ao MMA, os brasileiros têm real interesse no MMA. A prova disso se vê em números. A transmissão do UFC Rio, no final de agosto, deu à RedeTV! a liderança no Ibope.

A ascensão do MMA chama a atenção. Por muitas vezes, nos acostumamos aqui no Brasil a um discurso - e preparem-se, ano que vem é ano de Olimpíada, ele aparecerá fortemente - de que o esporte precisa de "apoio". Por essa análise, é preciso que patrocinadores em geral e, principalmente, o poder público, deem suporte técnico e financeiro a diferentes modalidades esportivas, para que elas possam cair no gosto do público e desenvolverem plenamente seu potencial de formar campeões. Ainda nessa linha de raciocínio, só assim se conseguiria superar a cultura "monoesportiva" do Brasil, onde supostamente só o futebol interessa.

Pois bem, enquanto na maioria dos esportes olímpicos o patrocínio estatal impera - alguém se lembra de algum atleta expressivo que não ostentava as marcas de Petrobras, Caixa, Banco do Brasil ou similares nos uniformes? - o MMA conseguiu caminhar com suas próprias pernas. Seus competidores são financiados por empresas particulares. Anderson Silva, a principal estrela nacional na categoria, tem feito propaganda atrás de propaganda, além de ter se tornado uma figura quase que permanente nos programas esportivos.

É claro que o MMA tem uma gigante estrutura profissional por trás. O negócio gera dinheiro, expressivas quantias, em especial nos EUA, a terra do marketing e dos bons negócios. Ainda assim, não se pode tirar o mérito do esporte. Se uma fábrica de motos ou restaurante fast-food se propõe a ter Anderson Silva como garoto-propaganda dos seus produtos, é porque vê nele um bom chamariz, acredita que ele tem potencial de mercado. "Merece", portanto, ter seu esporte financiado.

A demanda por apoio por parte dos praticantes dos esportes olímpicos é justa - afinal, financiar o esporte é uma obrigação governamental, está na Constituição e tudo o mais. Mas o exemplo do MMA merece ser anotado e ponderado por cada um dos esportistas que irá ao público reclamar por verbas nos próximos meses. Sem apoio governamental, o MMA deu certo. Se consagrou como entretenimento. Será que é "só" de apoio que os outros esportes precisam para caírem no gosto popular?

2 comentários:

Eduardo Maretti disse...

Cara, valeu aí a citação, a menção. Em primeiro lugar, fica aqui registrado, como reforço, minha repulsa a esse esporte.

Em segundo, é difícil responder a questão final do post em poucas palavras... O UFC é uma mega-estrutura que se auto-alimenta, como NFL, como (em muito menor escala, é verdade) NBA, ou as ligas de boxe, multimilionárias e capitaneadas por gângsters. É um gigantesco mercado de investimento e de apostas que forma essas ligas e entidades todas.

Muito diferente do que acontece com nossos pobres esportes olímpicos. Semanas atrás vi uma reportagem (ESPN ou Sportv, não lembro) sobre a judoca Rafaela, que acaba de ganhar prata no Mundial de Paris. É comovente como os atletas olímpicos e de modalidades várias (atletismo, judô etc) têm que lutar contra tudo e contra todas as adversidades para conquistar coisas na vida.

Os esportes olímpicos vivem à míngua, não têm recursos, os investidores privados só estampam marcas nos uniformes em épocas de competição que dão visibilidade, mas investir pesadamente em estrutura, na formação de atletas (tudo isso só se pode fazer a longo prazo), isso eles não querem.

O Estado deveria, sim, investir forte em estrutura e formação de modalidades abandonadas pelo capital, mas também não faz isso.

Enfim, em poucas palavras, é isso.

Eduardo Maretti disse...

PS: No segundo parágrafo do comentário leia-se:

O UFC é uma mega-estrutura que se auto-alimenta (em muito menor escala, é verdade), como NFL, como NBA, ou as ligas de boxe, multimilionárias e capitaneadas por gângsters.

Não sei como o parênteses foi parar no lugar errado...

NFL e NBA não têm comparação...