terça-feira, 3 de novembro de 2009

O "caso Uniban" e o jornalismo

(Antes de mais nada: esse blog endossa quase que a integralidade das manifestações de repúdio aos estudantes da Uniban que expulsaram a moça da faculdade. Não tenho muito a acrescentar nesse sentido, e por isso o post abaixo segue outro foco.)

Já é de conhecimento geral o ocorrido na Uniban, campus universitário localizado em São Bernardo, semanas atrás - uma moça foi para a aula usando um traje, digamos, impróprio, foi hostilizada por colegas por conta disso, chamada a plenos pulmões de "puta" (e outros termos) e teve que deixar a faculdade escoltada por policiais.

Interessante é a trajetória que o assunto fez até chegar ao chamado "conhecimento geral" citado acima.

Eu - e a maioria das pessoas com quem falei a respeito - tive meu primeiro contato com a questão por meio das tais fontes virais. Minha primeira referência foi o Twitter - mais precisamente, o do Arnaldo Branco. Sua mensagem remetia ao post "Polanskis do ABC", do blog Boteco Sujo, criado no dia 28 de outubro, e "twittado" no mesmo dia.

Ainda no dia 28, o "caso Uniban" pipocou por Twitters e blogs dos mais diversos e se tornou, com sobras, o assunto mais repercutido na internet nacional.

E não tardou muito para que se tornasse pauta dos veículos da grande mídia nacional. Folha, Estado, TV Globo, as rádios de destaque, enfim; todos correram atrás do caso para darem suas versões do tema. Em um primeiro momento, com matérias tímidas, em que a estudante não citava seu nome nem mostrava seu rosto; depois, veio o "escancaramento" pleno, com a moça dando a cara a tapa. O ápice disso veio com a participação dela no Geraldo Brasil, na Record, e no Fantástico da Globo.

Isto posto, vamos às reflexões.

Ponto 1: a "blogosfera" (termo odioso, mas vá lá) teve sucesso. Conseguiu fazer com que um assunto que nela nasceu se tornasse o mais comentado no Brasil (e não só entre os blogueiros) em toda a semana. Inverteu o que habitualmente se faz na net, com as notícias dos grandes portais servindo de base para posts e outros trabalhos. É fato que o ocorrido jamais chegaria ao conhecimento público se não fosse o barulho que causou, inicialmente, a um grupo restrito de pessoas.

Daí vale também destacar que a repercussão do caso só se deu devido à extensa captação de imagens que se tinha em mãos. É fácil sacar que o peso de um vídeo que mostra uma pessoa sendo hostilizada por toda uma universidade é imensamente maior do que relatos que eventualmente digam a mesma coisa. Não foi necessariamente o fato que correu, e sim as imagens dele. Visíveis, chocantes e intrigantes - e por isso mesmo propensas à disseminação.

Mas agora vem uma conclusão de certo modo contraditória. Se por um lado registramos o "triunfo" dos blogueiros e da comunicação viral, por outro precisamos da mídia convencional para que ele seja sacramentado. Não apenas porque a ação de Record, Folha, Globo e outros dá uma certa "legitimidade" à questão, mas também porque o que os grandes grupos fizeram, no caso (com exceções, é claro), foi jornalismo. Foram à Uniban, buscaram mais depoimentos, ouviram fontes que deram novas visões ao caso, investigaram o tema a fundo.

Por limitações de diversas vertentes - financeira, de equipamento, de disponibilidade, etc, etc - os blogs não foram (e raramente são) capazes de dar uma continuidade a temas que levantam. Se têm potencial pra isso? Opa, têm e de sobra. Mas precisariam aderir, a seu trabalho, técnicas e preceitos do jornalismo convencional.

Muito se fala hoje que "a internet transformou o jornalismo" - e não apenas por ser um novo suporte tecnológico, mas sim por dar a ele uma nova mentalidade. De acordo, e quem questiona isso está cerca de 20 anos atrasado em relação ao resto do mundo. Mas o que casos como da Uniban sugerem é que deveria acontecer uma retroalimentação. O jornalismo ajudando os blogs a se transformarem, a se consolidarem como veículos efetivos de comunicação. E não somente "espalhadores" de assuntos.

Abaixo, um dos vídeos originais do caso - cada vez mais raros.


3 comentários:

leo disse...

Concordo com grande parte do post, Olavo. Só acrescento um detalhe curioso: as pessoas ainda têm dificuldade de dar como fonte um blog. Tanto que em momento algum o Boteco Sujo foi citado na grande mídia.

Alan Kardec Borges disse...

Eu passei o ensino médio, graduação e pós-graduação torcendo pras muié da sala virem com as roupas mais curtas do mundo, quase nuas. E esses viados da Uniban ainda hostilizaram a muié. São um rebanho de viado!

milho disse...

Olavo, eu perguntei para uma professora da Uniban o que realmente aconteceu. Segundo ela, a menina estava com roupas curtas e os rapazes comentavam, etc, de modo pejorativo. Porém parece que ela mostrou partes do corpo se insinuando e ai provocou ainda mais os rapazes a tal ponto dela ter que ser escoltada... Porém, como sempre, a mídia criou somente 1 lado para o caso.