terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Freakonomics e o tostines eleitoral

Estou lendo Freakonomics, livro de 2005 escrito por Steven Levitt e Stephen Dubner que já tem um quê de clássico. Virou sucesso instantâneo, gerou sequências (e obras nele inspiradas) e deve estar garantindo um bom rendimento aos seus autores.

Em síntese, o que o livro traz é uma série de pesquisas produzidas por Levitt que buscam contestar algumas verdades absolutas e apresentar relações entre fatos aparentmente distantes entre si. Por exemplo: lá se diz que a probabilidade de uma criança morrer em uma casa com piscina é muito maior do que a que há em uma casa com uma arma de fogo; que professores mentem para que seus alunos tenham melhores resultados em exames que avaliam o desempenho das escolas (e que tal fraude pode ser descoberta com apenas um pouquinho de esforço); e que a redução da criminalidade nos EUA é fruto da liberação do aborto décadas atrás, e não de políticas de combate ao crime, e por aí vai.

Como disse Ubiratan Leal em texto em que analisou Soccernomics (uma obra inspirada em Freakonomics), "números não são subjetivos, mas a escolha deles e o modo de usá-los são". É por isso que se deve ter uma bela dose de cautela ao analisar conclusões que Freakonomics trata como verdades absolutas. Números são inquestionáveis e revelam muita coisa, mas colocar um pé atrás sobre o que se vê nunca é mau negócio.

E é sobre um dos dados também apresentados em Freakonomics que eu queria debater. O livro cita uma pesquisa de Levitt que analisou a relação entre o dinheiro das campanhas eleitorais e o sucesso dos candidatos. Há o consenso geral de que quanto mais dinheiro tem uma campanha, mais provável que ela seja bem sucedida; Levitt contesta isso, dizendo que, de fato, as campanhas com mais dinheiro são as que se dão bem - mas isso se deve ao fato de que os doadores já sabem que as campanhas tendem a ser vitoriosas, e utilizam isso como critério para investir suas quantias. Ou seja, a campanha tem dinheiro porque deverá dar certo, e não o oposto.

É mais uma representação clássica do "dilema de Tostines". Levitt crava que "são fresquinhas porque vendem mais", ou seja, têm dinheiro porque vencerão a disputa. E aí?

Admito que, tentando transpor o caso à realidade brasileira, ainda não formulei uma opinião derradeira a respeito. É fato que o comportamento eleitoral aqui, para as campanhas majoritárias (presidente, governadores, prefeitos) é mais previsível do que parece. Era óbvio que PT e PSDB polarizariam a disputa nacional em 2010, como vêm fazendo desde 1994; nos planos estaduais e municipais, há situações que são também bem previsíveis, de modo que um doador já pode saber para que lado a disputa tende a pender.


Por outro lado, nós não convivemos aqui com a figura das doações individuais (a menos não em caráter expressivo). Ou seja, a tal "motivação" para doar em uma campanha não é uma questão decisiva.

Tendo a acreditar que a opinião de Levitt valha para as eleições majoritárias brasileiras, mas não para as proporcionais (deputados e vereadores), porque neste universo específico o desconhecimento dos candidatos por parte da população e o excesso deles faz com que ter dinheiro seja um fator essencial para o triunfo.

Algum outro palpite?

2 comentários:

Leandro Grôppo disse...

Olavo, o exemplo do Freakonomics é bem interessante. Mas quanto a sua afirmação sobre as eleições proporcionais no Brasil, penso que os grandes doadores escolhem sim entre aqueles com melhores chances. Exemplo disso são as cooperativas médicas e as confederações ruralistas, que possuem bancadas próprias, financiando candidatos que possuam maiores chances de vitória. Tendo, inclusive, em seus estatutos tais condições para o auxílio a candidatos. Parabéns pelo blog.

Leandro Grôppo

Leandro Grôppo disse...

Olavo, o exemplo do Freakonomics é bem interessante. Mas quanto a sua afirmação sobre as eleições proporcionais no Brasil, penso que os grandes doadores escolhem sim entre aqueles com melhores chances. Exemplo disso são as cooperativas médicas e as confederações ruralistas, que possuem bancadas próprias, financiando candidatos que possuam maiores chances de vitória. Tendo, inclusive, em seus estatutos tais condições para o auxílio a candidatos. Parabéns pelo blog.

Leandro Grôppo
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