quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

John Neschling no olho da rua

Uma notícia interessante que saiu hoje foi a demissão de John Neschling do cargo de maestro da Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp). A história não é relevante apenas pela sua dimensão cultural, e sim por outros aspectos envolvidos.

Neschling é uma unanimidade. Todas as opiniões que se ouve sobre ele batem na mesma tecla: é uma pessoa extremamente competente no que faz, mas ao mesmo tempo é dono de um caráter não dos mais elogiáveis. A grossura com os músicos que comanda é célebre; o maestro, no comando da Osesp, não fazia a menor cerimônia na hora de repreender alguém que estivesse fazendo um trabalho - ainda que só um pouquinho - em desacordo com as ordens do chefe.

Isso ficou bem claro em reportagem que a Piauí publicou no ano passado. O texto é longo e revela o fato de que Neschling é uma personagem que merece, mesmo, um bom espaço. Justamente por essas questões relatadas, sua competência e sua grosseria.

Mas a demissão de agora não se explica unicamente por um, digamos assim, "desvio de comportamento" do regente. A coisa é mais grave. Neschling nunca se entendeu muito bem com José Serra, governador do estado e seu chefe. Do alto de sua arrogância, o maestro não tolerava as ingerências de Serra no seu trabalho. E a coisa só poderia dar em confusão.

Agora Neschling segue o seu caminho. E, o mais importante, espera-se que a Osesp também siga o seu. É inegável que o maestro, em seus mais de 10 anos de trabalho, transformou a cara da orquestra. Tomara que quem o substituirá consiga manter a excelência - e se for um pouquinho menos grosseiro, melhor ainda.

P.S.: falar de música erudita me faz lembrar do trabalho de assessoria que fiz com a Orquestra de Câmera Paulista. Foi uma experiência bem legal. Recomendo a entrevista que fiz com Vera e Tânia, respectivamente viúva e filha de Camargo Guarnieri. Foi divertido.

3 comentários:

Glauco disse...

Pô, Olavo, do jeito que você fala parece que o maestro é arrogante porque discorda do Serra. Chefe pode até ser chefe, mas se não sabe ouvir e persegue alguém que é contratado o estado (vínculo mais forte que o de Serra, que é um mero ocupante da cadeira, em tese representando a população) acho que é no mínimo um chefe autoritário.

Segundo esse post aqui , um vídeo gravado sem a autorização e o conhecimento do Neschling fez com que Serra se motivasse a fazer o que sabe bem: fritar terceiros. E nessa entrevista o maestro já havia dito que ia sair ao final do contrato. Ou seja, a única maneira de Serra sair por cima era fazer o que fez. Lamentável, mas a trajetória do governador mostra que é praxe no comportamento dele...

Anônimo disse...

Glauco, a questão do Serra é o de menos... a arrogância "principal" do Neschling é com os seus comandados. Digamos que a do Serra só foi mais grave (pra ele) porque ele mexeu com alguém mais poderoso.

C. disse...

E consta aqui que o falecido FHC tem parte com a referida Osesp. Procede?