terça-feira, 4 de agosto de 2009

O que é realmente "oficial"?

A comunidade flamenguista se animou na semana passada: corriam rumores de que a CBF, em seu site, havia reconhecido o Flamengo como o campeão brasileiro de 1987. (Explicando aos não muito interessados em futebol - mesmo após mais de 20 anos, o Brasileirão daquele ano ainda gera incertezas sobre quem foi seu real campeão. O Flamengo ganhou um campeonato promovido pelos clubes, enquanto o Sport venceu aquele que foi sacramentado como oficial pela CBF. Eu até tenho minha opinião sobre o assunto, mas não vou manifestá-la, ao menos não aqui, senão a conversa desanda de vez e o assunto do post, por incrível que pareça, não é futebol).

A notícia que motivou a euforia dos torcedores do Flamengo é essa: Morreu Zé Carlos, goleiro que brilhou no Flamengo e defendeu a Seleção Brasileira. Pois é, nada que mencione alguma decisão da entidade sobre a antiga contenda. Então como é que a notificação da morte de um ex-atleta gera tamanho furor? Pelo uso da seguinte frase, ainda presente no texto: "Zé Carlos disputou 352 jogos pelo Flamengo, clube pelo qual conquistou o título brasileiro em 1987".

Ou seja: uma frasezinha aparentemente inocente reacendeu todo o assunto e motivou conclusões pra lá de precipitadas. Há duas questões que ficam como "lição de moral" desse episódio.

A primeira vai para os produtores de conteúdo e responsáveis por sites institucionais (e eu me incluo nessa, já que trabalho em um site com esse perfil). Ter veículos institucionais de comunicação é uma prática já antiga e solidificada no cenário empresarial. Mas a transformação nas comunicações fez com que eles tenham abrangência e visibilidade jamais imaginada. Alguém aí já leu o jornalzinho interno da Phillips, da General Motors, da Esso? Não, certo? Mas em poucos cliques estamos diante do site dessas empresas - que é o principal canal de emissão da voz institucional da companhia.

Portanto, qualquer notícia colocada no site da CBF (e da da Phillips, da General Motors, da Esso, do Mercadinho do Seu Luís e por aí vai) é vista como sendo uma comunicação oficial da empresa, algo deliberado pela instituição, algo que representa o que aquela entidade verdadeiramente pensa. Por conta disso, cresce e muito a responsabilidade de quem faz esse conteúdo. Se apuração, clareza e qualidade são requisitos de qualquer texto jornalístico, nesse caso em especial deve-se somar aí um belo conhecimento - e engajamento - aos valores institucionais. Senão, a coisa desanda.

E o outro prisma da "lição de moral" do episódio vai para a imprensa e também para o público em geral. Justamente porque sabemos que esses cuidados nem sempre são tomados como deveriam, é preciso que essas "informações oficiais" sejam recebidas com mais cautela. Acredito que a CBF não tenha reconhecido o Flamengo como campeão de 1987, apesar do texto que estava (e ainda está) no site sugerir isso. Não é o caso, portanto, de se soltar fogos e celebrar uma mudança radical de posicionamento de uma instituição apenas por conta de algo sugerido em um texto publicado em seu site.

Mais que isso, o que se deve pensar nesses casos é que o trabalho institucional não é feito com a qualidade que merecia.

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