terça-feira, 11 de agosto de 2009

Uma coisa é uma coisa, outra coisa...

Falar mal do Senado virou lugar-comum no Brasil nos últimos dias. Aliás, me corrijo; a coisa vem de tempos mais idos, com a já tradicional reprovação da opinião pública aos políticos como um todo e, falando mais especificamente da "Câmara Alta", com os demandos de Renan Calheiros que estiveram entre os assuntos mais comentados em 2007.

Corrupção e incompetência encabeçam as motivações para as queixas. E há uma que tem aparecido cada vez mais com maior frequência, e é a que eu gostaria de abordar agora. Falo da repulsa aos senadores suplentes, apelidados por aí de "senadores sem voto" e até mesmo de "senadores biônicos", numa temerária comparação aos políticos empossados na marra nos tempos de ditadura.

O ataque aos suplentes se motiva - e até mesmo se justifica - por lambanças cometidas pelos próprios suplentes. Wellington Salgado (PMDB-MG, na foto), que ocupa a vaga deixada pelo ministro Hélio Costa, ganhou fama por conta de seus longos cabelos e pela defesa de parlamentares tidos como indefensáveis. E agora é Paulo Duque (PMDB-RJ) - herdeiro de vaga deixada pelo governador fluminense Sérgio Cabral Filho - que recebe destaque, por presidir a malfadada Comissão de Ética do Senado.

Endosso os que fazem críticas à atuação de Salgado e Duque. Mas discordo, e com veemência, dos que contestam a legitimidade de ambos. Como assim, "senadores sem voto" ou "senadores biônicos"? Por acaso eles chegaram a seus cargos ao burlarem a lei ou coisa parecida? De modo algum. Estão lá de maneira legítima, tanto quanto os outros senadores.

Eles, inclusive, têm a mesma legitimidade que Gilberto Kassab tinha antes das eleições de 2008; ou, puxando um pouco na memória, que Itamar Francom tinha quando foi presidente. E tanto Kassab quanto Franco gozavam de popularidade e aprovação da população, vale o registro.

Talvez seja o caso de discutir se vale a pena manter a regra atual para a suplência. Dar a vaga ao senador "desistente" ao segundo colocado nas eleições seria uma medida extrema - certamente evitaria "evasões", mas, na minha avaliação, seria bem mais ilegítimo do que dar a vaga ao suplente. Afinal, o suplente está definido desde o período eleitoral - ou seja, o eleitor votou também nele, ao indicar o senador cabeça-de-chapa. Reitero que é a mesma situação dos vices.

Resumindo: a não ser que alguém apresente uma alternativa lógica, a figura dos suplentes é válida e continuará existindo - e gerará senadores tão legítimos quanto os outros, a despeito de suas trapalhadas.

Pensando em termos de marketing político, uma dica para os candidatos ao Senado seja explorar a figura dos suplentes adversários, aproveitando os grotescos exemplos do dia-a-dia.

Um comentário:

Doug disse...

Ontem, o Demóstenes Torres (senador, DEMo-GO) deu 3 alternativas interessantes:

1- Senador ser impedido de disputar outra eleição, não podendo deixar o cargo nem pra ser Ministro, ou;
2- No lugar do Suplente, entra como Senador o Deputado mais votado do estado na vaga do Senador. E na Câmara é que vai um suplente (normalmente um candidato que quase conseguiu votação pra ser eleito)
3- A vaga fica "vaga", e na próxima eleição, mesmo que seja de prefeito, ja aproveita-se e elege-se um novo senador.