sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Como seria um Tea Party brasileiro?

Houve recentemente eleições também nos EUA. Lá, "apenas" para o Congresso. O pleito apresentou um resultado que não chegou a ser surpreendente, mas sim impressionante: o Partido Republicano, de oposição a Barack Obama, deu um vareio nos democratas e decididamente complicará a vida do presidente nos próximos anos.

A não-surpresa se deve ao fato de que a popularidade de Obama vinha em declínio já há algum tempo. Ainda assim, é interessante ver como a oposição de lá ressurgiu, após ter sido dada como morta com a vitória de Obama em 2008.

Um aspecto interessantíssimo da eleição atual - mas que não se resume à votação, muito pelo contrário - é a consolidação do movimento Tea Party. Certamente você já ouviu falar sobre este grupo, tachado de "ultraconservador" e de um direitismo que faria George W. Bush envergonhar-se.

Cabe uma reflexão maior sobre o que é o Tea Party, o que eles defendem e a quê se opõem. O "ultraconservadorismo" deles faz referência às noções clássicas de direita e esquerda - e, portanto, a direita por eles apregoada é a do estado mínimo. Em suma: o que eles querem, acima de tudo, é pagar menos impostos. Querem um governo que trabalhe da menor maneira possível e que não se preocupe em estender suas mãos à toda a sociedade. Na visão dos teapartianos, a sociedade americana, historicamente, sempre deu conta de resolver seus próprios problemas, sem depender de um governo que interfira na economia e nas relações sociais para minimizar as mazelas coletivas.

Não há - ao menos explicitamente, claro - conteúdo racista, homofóbico ou anti-diversidade religiosa no Tea Party. Houve algumas manifestações isoladas (um dos seus principais líderes escreveu em seu Twitter ofensas aos latinos com teor muitíssimo similar às do caso Mayara Petruso), mas há uma preocupação grande de suas lideranças para que o grupo não seja visto sob esse prisma.

Outro aspecto interessante sobre o Tea Party é que, ao contrário do que se tem dito, o grupo não é, oficialmente, ligado ao Partido Republicano. É - ou ao menos diz ser - um movimento essencialmente popular, ou "grassroots", como eles dizem lá, numa referência às raízes da grama. Tanto que não há uma liderança formal, um registro oficial, e nem mesmo um website que seja o indicado pelo movimento. É tudo muito difuso.

Seus opositores dizem que o Tea Party de popular não tem nada, e que entre seus financiadores há gente como Rupert Murdoch, o proprietário da abertamente direitista Fox News. Mas aí é difícil cravar uma opinião nesse sentido.

De qualquer modo, o fortalecimento do Tea Party - certamente ouviremos falar ainda mais desse movimento, principalmente pelo fato de que já começam as movimentações para a sucessão de Obama - fez pensar como seria um movimento similar no Brasil.

De fato, não há, aqui, um partido que se assuma de direita. As imensas críticas ao Bolsa Família, que tanto barulho fizeram (e continuam fazendo) na internet não encontraram eco na campanha presidencial - José Serra, talvez o candidato mais ligado à direita, prometeu não só manter o Bolsa Família como até implantar seu décimo-terceiro. O único candidato que se declarou contra o programa foi... Plínio de Arruda Sampaio.

O único paralelo que se pode traçar com o Tea Party é com o famigerado movimento Cansei, que alcançou alguma repercussão aqui em 2007. Ambos foram movimentos "espontâneos", que se declaravam "apartidários" e que criticavam o governo "esquerdista" da vez.

Mas o Cansei não foi pra frente, principalmente pela ausência de propostas concretas (falar mal pode gerar algum Ibope, mas nada que não se esgote rapidamente). Em contrapartida, o Tea Party impressiona e tende a avançar ainda mais nos EUA.

Será que haveria espaço para um movimento direitista, espontâneo e forte no Brasil? A saber.

4 comentários:

Isaias Augusto disse...

A oposição no Brasil é burra e covarde. Os que teoricamente seriam de "Direita" tem medo de expor seus pontos de vista, explicá-los e chegar perto da população, em sua maioria apolítica, para passar suas propostas e tentar convencer o eleitorado. PSDB/DEM se perdem em gritaria e denuncias vazias que raramente dão resultados, seja eleitoral ou judicial. É preciso entender o momento, fazer aquela reflexão que o PT fez, ao tornar-se "paz e amor", para ganhar o eleitor. A oposição não tem plataforma, não tem propostas, não tem vínculo com a população e nem um líder carismático, ainda assim, seja lá por quais motivos, consegue uma fatia considerável do eleitorado. Será que um "esforcinho a mais" não ajudaria? Basta ter humildade, descer do palanque e se juntar ao povo...coisa que parece impossível pra oposição no Brasil.

Isaias Augusto disse...

Ah sim...e movimentos como Cansei ou TFP não podem ser levados a sério. Não carregam consigo os reais problemas que afligem a população e geralmente são criados em partidos políticos para parecerem algo "isento". Aliás, hoje em dia, não existe nenhum movimento popular espontâneo e apartidário no país...o que é lamentável.

Júlio disse...

O "Cansei" se cansou tão depressa que um de seus líderes preferiu se preocupar com a política de um certo clube de futebol...

Não sei se há possibilidade de termos um "Tea Party" no Brasil, mas o nosso seria na frente do "Impostômetro"...

David Rodrigues disse...

Fala meu amigo...

Vou deixar uma simples observação...

Posso estar errado, mas o Tea Party através de alavancagem de mídia tornou-se esse monstrinho! Ele não é congruente com muito do novo pensar americano, vejo que em pouco tempo este movimento poderá deixar de existir.

Visto que o Obama foi uma inovação necessária aos olhos de todos para os americanos continuarem a serem os mesmos... com as mesmas idéias.

Agora o grande dilema que entra em áreas americanas e não naquelas cidades maravilhosas como los angeles e new york, que não são nenhum pouco americanas, é entender que os Estados Unidos não dão mais as cartas e apenas podem definir a pauta.


Parabéns pelo blog!

Abs