A essa altura todo mundo já sabe que o Aécio Neves desistiu da pré-candidatura à presidência, certo? Caso contrário, vejam matéria do O Globo a respeito.
No Twitter, onde abordo as coisas mais em tom de brincadeira, comentei a renúncia de Aécio com apenas duas palavras: Dilma eleita. Agora desenvolvo um pouco mais o assunto, mas já adianto que o foco continuará o mesmo.
Aécio não permitiu perguntas na cerimônia em que anunciou a desistência. Mas, sobre os motivos dela, nem era necessário: ele vinha atrás de José Serra em todas as pesquisas e não estava conseguindo canalizar o apoio de setores consistentes do PSDB em torno dele. Por incrível que pareça, os principais incentivadores de sua campanha vinham do outro lado da disputa, como Ciro Gomes.
Acompanho raciocínios de muita gente sobre a ex-pré-candidatura de Aécio Neves. Assim como meu amigo Alan Kardec Borges, acho que Aécio tinha mais potencial de crescimento do que José Serra - se o paulista tem mais indicações do público agora, a pouco menos de um ano da eleição, é por ser mais conhecido. E o cientista político Gaudêncio Torquato fez outra análise que endosso: com a saída de Aécio, a disputa Serra x Lula passa a ser mais um capítulo da peleja Lula x Fernando Henrique que se desenrola no Brasil desde 1994, tendo agora como jogadores José Serra e Dilma Rousseff. Com a aprovação que recebe o governo petista atual, é praticamente impossível acreditar que o eleitor não queira optá-lo por sua continuidade.
Talvez a saída de Aécio da corrida também seja uma maneira de fazer com que ele se garanta no lugar de candidato a vice (mal comparando, é como a postura do estado de São Paulo de encher a bola do Rio de Janeiro como sede da final da Copa de 2014, buscando com isso receber apoio carioca para sediar a partida de abertura). Essa hipótese se fortalece se pensarmos que o DEM, com o escândalo de José Roberto Arruda, perdeu "moral" para ocupar uma vaga naturalmente sua.
De quebra, a saída de Aécio foi também muito comemorada pela família Alckmin: a corrida de Serra ao Planalto faz com que Geraldo se torne o candidato natural ao governo paulista, em uma disputa antecipadamente ganha.
Escolhendo um emprego
Há 2 anos
3 comentários:
Boa análise, Olavo. Algumas questões: acho que o Aécio já sabia que não tinha chances e o tal "apoio" do Ciro não passou de fancaria, já que uma aliança entre os dois era impossível. O pessebista jogou pra marcar ainda mais sua posição de opositor a Serra, que cultiva desde 2002.
Acho que Aécio tinha mais potenical de crescimento que Serra, mas, sem ser hipócrita, o jogo eleitoral e político ganharia mais com ele do que com a presença de uma velha raposa como o governador paulista. Não suporto mais ver a cara do Serra e creio que, nesse aspecto, as eleições de 2010 vão ter um efeito nausente pra mim.
Não acredito que o Aécio tenha desistido da candidatura, acho apenas que ele tomou uma decisão estratégica que já deveria estar planejada, para ganhar a simpatia de opositores que estão dentro do próprio PSDB e também penso como o Deputado Mario Heringer (PDT-MG)que a decisão do Aécio é para forçar o Serra a tomar uma atitude e parar de dizer que não é pré-candidato e que o partido que definirá isso.
Concordo com o Glauco: creio que teríamos um ambiente menos envenenado na eleição com Aécio candidato. Sobre ser vice, não creio que o mineiro precisasse de qualquer movimento para ocupar essa vaga. Mesmo antes do caso dos panetones lideranças do DEM deram declarações dizendo que abririam mão da vaga se o PSDB decidisse lançar chapa pura.
A questão aí é se Aécio se interessa em ser vice de Serra. Se perde, fica sem mandato. Se ganha, fica pelo menos quatro anos na sombra de um centralizador como Serra. É muito tempo longe dos holofotes para quem tem as ambições e o potencial do governador mineiro. Além disso, como vice, teria menos condições de influenciar nas eleições de Minas Gerais, onde lança um candidato pouco expressivo e que as pesquisas hoje mostram atrás tanto dos petistas Fernando Pimentel e Patrus Ananias quanto de Hélio Costa, do PMDB.
A vice-presidência parece não ter nenhuma vantagem para os planos pessoais de Aécio. Pensando partidariamente, seria certamente uma chapa muito forte, mas os tucanos estariam tirando um quadro jovem e muito forte do centro da cena política. Não sei se a aposta vale a pena.
Postar um comentário