segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sobre a candidatura de famosos e engraçadinhos

Romário, Mulher-Pêra, Kiko do KLB, Tiririca e tantos outros: as eleições de 2010 terão uma série de candidatos, digamos, exóticos. Além dos famosos por outros ramos que não a política, teremos aquela já tradicional chuva de figuraças durante o horário eleitoral que se passarão a integrar o folclore das eleições.

A aparição dessas pessoas é o gatilho para que críticas ao processo eleitoral - e ao Brasil como um todo - pipoquem por aí. "Eleição virou festa", "só no Brasil mesmo pra um cara desses ser candidato", "e o povão ainda vota nisso", "com certeza um sujeito desses estará eleito"...

Cabem as críticas, está longe de ser errado não gostar de ver gente sem nenhum preparo tentar a carreira política. O problema é que essas observações são, na maioria dos casos, imprecisas.

Pelo seguinte motivo: em geral, essas candidaturas exóticas não dão certo.

É fácil de detectar isso. É só lembrar das eleições passadas, das figuras engraçadas que surgiram por aí, e lembrar de quantos tiveram sucesso nas urnas. São poucos. Pouquíssimos.

Enéas Carneiro, claro, é o exemplo mais célebre. Ele usou como ninguém os 15 segundos de que dispunha em 1989 para ser o terceiro candidato mais votado à Presidência em 1994 e ser eleito e reeleito deputado federal em 2002 e 2006 com votações assombrosas. Não foi escolhido por suas propostas, ideologias ou sei lá o quê, e sim pela imagem folclórica que construiu no horário eleitoral.

Mas trata-se de uma exceção. Em geral, as eleições são amplamente dominadas por candidatos que fazem campanhas sérias. Gente que tem propostas razoáveis - concorde-se ou não com elas - que faz campanha de maneira convencional, que adota um visual tradicional. Nas Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores por aí, o número de eleitos "engraçadinhos" é muito pequeno. E no Executivo, então, nem se fala - a chance de um "cômico" ganhar uma prefeitura, governo estadual ou Presidência (!) é nula.

É importante expor essa questão por dois motivos. O primeiro é limpar a barra do povão. Afinal, está claro que, não, o povão não "vota em famoso" - os que triunfaram nas urnas são exceções, repito. E o segundo motivo é passar aos candidatos que ter uma candidatura engraçadinha é algo que pode garantir um lugar no folclore, visualizações no Youtube, entrevistas e assim por diante, mas votos mesmo, nome na urna, pouco provável.

Um comentário:

Júlio disse...

Raciocínio correto. Faltou dizer que a lógica do poder econômico predomina na campanha e determina em grande parte os resultados das eleições.

Ou seja, ganha quem tem mais dinheiro para investir em material de campanha, contratação de cabos eleitorais e, não raro, a compra de uma vaga no partido.

A lógica acaba se reproduzindo na propaganda eleitoral porque os partidos maiores - isto é, os que tem mais recursos financeiros - controlam a maior parte do tempo.

Os candidatos "famosos" e "engraçadinhos", de alguma forma, vão contra essa lógica. Sua chance de sucesso é se enquadrar no chamado "voto de protesto", mas nos últimos anos ele tem se focado em um único nome, ou em poucos deles, vide Enéas e Clodovil. Por isso, na hora das apurações, as "celebridades" e "figuras" sempre são exceção nos resultados.

Quem poderia explorar bem o filão do "protesto" são os partidos da chamada "esquerda ideológica", mas por algum motivo eles não conseguem seduzir um grande número de eleitores. Mas isso é assunto para outra discussão...