sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Os "frenemies" de Obama

O português é uma língua belíssima. Mas, em um aspecto específico, perde feio do inglês: a capacidade de síntese. É impressionante como naquele idioma se consegue exprimir significados complexos com duas ou três palavras. Merece destaque também a possibilidade de junção de duas palavras para se chegar numa terceira, algo que está em várias línguas, mas no inglês parece que soa melhor do que em qualquer outra.

Com base nisso, você sabe o que é um frenemy? É até óbvio deduzir: é a soma de "friend" com "enemy", resultando em uma palavra que se refere àquelas pessoas que podem ser amigas e inimigas ao mesmo tempo.

O site politico.com, dos EUA, traz a lista dos 10 maires frenemies de Barack Obama. Gente que está do lado do novo presidente mas dos quais Obama não pode tirar o olho.

A lista inclui gente como o vice-presidente Joe Biden (foto). Biden é experiente e isso certamente foi um dos componentes que colaborou para a vitória de Obama - bastava comparar sua trajetória com a de sua oponente, a já folclórica Sarah Palin. Mas ao mesmo tempo, é chegado numa gafe. Durante a campanha falou que Obama era o "primeiro afro-americano inteligente e bem apessoado", e, ainda antes de ser nomeado vice (quando disputava a indicação democrata para a presidência), cansou de criticar a inexperiência do agora presidente.

Confira a lista completa aqui.

Ao ver essa relação, fiquei pensando em quem seriam os frenemies do nosso presidente. Quem é esse povo que está do lado de Luiz Inácio Lula da Silva mas vez ou outra acaba dando uma cutucada no "hômi"?

O primeiro nome que me veio à mente foi o do "Joe Biden de Lula", José Alencar. O vice-presidente volta e meia se expressa publicamente contra a política econômica do governo - a alta taxa de juros é o seu principal alvo. Quem também não poderia ficar de fora de uma relação dessas são os "aloprados" do PT, nas palavras do próprio presidente, que de vez em quando colocam toda a administração na berlinda.

Quem mais vocês sugeririam?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

John Neschling no olho da rua

Uma notícia interessante que saiu hoje foi a demissão de John Neschling do cargo de maestro da Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp). A história não é relevante apenas pela sua dimensão cultural, e sim por outros aspectos envolvidos.

Neschling é uma unanimidade. Todas as opiniões que se ouve sobre ele batem na mesma tecla: é uma pessoa extremamente competente no que faz, mas ao mesmo tempo é dono de um caráter não dos mais elogiáveis. A grossura com os músicos que comanda é célebre; o maestro, no comando da Osesp, não fazia a menor cerimônia na hora de repreender alguém que estivesse fazendo um trabalho - ainda que só um pouquinho - em desacordo com as ordens do chefe.

Isso ficou bem claro em reportagem que a Piauí publicou no ano passado. O texto é longo e revela o fato de que Neschling é uma personagem que merece, mesmo, um bom espaço. Justamente por essas questões relatadas, sua competência e sua grosseria.

Mas a demissão de agora não se explica unicamente por um, digamos assim, "desvio de comportamento" do regente. A coisa é mais grave. Neschling nunca se entendeu muito bem com José Serra, governador do estado e seu chefe. Do alto de sua arrogância, o maestro não tolerava as ingerências de Serra no seu trabalho. E a coisa só poderia dar em confusão.

Agora Neschling segue o seu caminho. E, o mais importante, espera-se que a Osesp também siga o seu. É inegável que o maestro, em seus mais de 10 anos de trabalho, transformou a cara da orquestra. Tomara que quem o substituirá consiga manter a excelência - e se for um pouquinho menos grosseiro, melhor ainda.

P.S.: falar de música erudita me faz lembrar do trabalho de assessoria que fiz com a Orquestra de Câmera Paulista. Foi uma experiência bem legal. Recomendo a entrevista que fiz com Vera e Tânia, respectivamente viúva e filha de Camargo Guarnieri. Foi divertido.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Onde está a colher?*

Se você tiver algum tempinho, leia a seguinte notícia: Prefeito assina protocolo de intenções para implantação do SUS na Santa Casa, do site da prefeitura de São Bernardo.

E se o tempo ainda estiver sobrando, leia essa outra: Prefeito de São Bernardo prestigia estréia do São Bernardo na Copa SP.

Notou alguma coisa? Se não, eu aponto: cadê o nome do prefeito? As duas matérias falam sobre ações da pessoa sem citar o seu nome. 

A contestação da minha parte tem razão de ser, não é pura chatice: São Bernardo, como tantas outras cidades do Brasil, trocou de prefeito no dia 1, de modo que fica a dúvida se os textos estão falando do mandatário atual ou do anterior. Pelas datas mencionadas nos textos (dias 6 e 5, respectivamente), nota-se que o citado é o prefeito atual. Mas outra notícia, publicada em 19 de dezembro e que fala sobre algo ocorrido dois dias antes, também cita "o prefeito" sem dizer o nome da pessoa - dá até para interpretar que se trata do prefeito que já deixou o cargo, mas mesmo assim é indiscutível que caberia a citação do seu nome, ainda que a sucessão não tivesse ocorrido.

Ah, antes que eu me esqueça e cometa a mesma falha: o prefeito atual, da Santa Casa e da Copa SP, é Luiz Marinho (PT); o antigo, William Dib (PSB).

*- o título desse post é uma referência à cena final de "Um príncipe em Nova York", comédia sensacional estrelada por Eddie Murphy. O filme acaba com uma cena na barbearia em que um frequentador do local conta uma piada aos que lá trabalham. A piada em questão diz que um homem pede uma sopa em um restaurante e insiste para que o garçom a prove. O garçom quer saber o motivo do pedido - a sopa está quente? está fria? está sem sal? - e quando finalmente cede à solicitação e vai provar a sopa, pergunta onde está a colher. E então o cliente fala: Ahá!  Ou seja, o problema é que a colher estava faltando. Aí termina a piada (que não é das melhores, concordo). O efeito que os textos da prefeitura causam é semelhante: fala-se tanto do "prefeito", mas não se explica quem ele é...