segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Senado paulista: balaio de indefinições

O início da semana para a política tem sido marcado pelas repercussões da desistência de Aécio Neves à candidatura presidencial e pela divulgação da pesquisa Datafolha que, também falando sobre a corrida ao Planalto, indicou uma aproximação entre José Serra e Dilma Rousseff.

O Datafolha divulgou mais índices. Na disputa pelo governo de São Paulo, nenhuma surpresa: Geraldo Alckmin lidera com folga. Arrisco que se nenhuma hecatombe acontecer (como até mesmo uma aparentemente improvável desistência de José Serra à sucessão de Lula), Alckmin e Dona Lu já podem ir pensando como decorarão seus escritórios no Palácio dos Bandeirantes.

Mas é sobre outra pesquisa divulgada pelo Datafolha que gostaria de me pautar. Falo da disputa pelas duas vagas no Senado, a serem renovadas agora. Acredito que aí está a eleição majoritária mais imprevisível para os paulistas no ano que vem.

Dois senadores encerrarão seus mandatos em 2011: Aloizio Mercadante (PT) e Romeu Tuma (PTB). Até terceira ordem, ambos buscarão a reeleição no pleito do ano que vem. Mercadante, apesar do péssimo desempenho na eleição de 2006 e de alguns tropeços (o mais recente foi o caso "irrevogável"), deve ser eleito. Tem muita visibilidade, condensará os votos paulistas para Lula, e é bom no jogo político.

O bicho deve pegar mesmo para a vaga de Tuma.

Ele tem hoje 27% das intenções de voto. É o segundo colocado - ou seja, estaria (re) eleito.

Mas a distância que tem para seus seguidores é pequena, muito pequena, o que deixa claro que seu favoritismo não é dos mais sólidos.

Analisemos quem vem atrás de Tuma, praticamente empatados com o senador. Orestes Quércia (PMDB) é uma figura curiosa. Venceu sua última eleição em 1986 mas exerce ainda uma liderança única em São Paulo - foi reeleito recentemente presidente do PMDB estadual, com votação das mais expressivas. Tem, agora, 24 das intenções de voto. Eu acreditaria que não tende a avançar mais que isso. Seu patamar inicial é alto, mas tem certa rejeição e, aparentemente, pouco a evoluir.

Acredito que as figuras mais interessantes da disputa sejam os "artistas" Netinho de Paula (PCdoB) e Soninha Francine (PPS). Ambos têm agora 22%. É muita, mas muita coisa para quem ainda não se posicionou formalmente como candidato e pertence a partidos de porte médio ou pequeno. Sem contar que ambos terão o respaldo de candidaturas de grande porte - Netinho deverá ser o "segundo nome" da chapa petista, enquanto Soninha pegará carona na candidatura do PSDB. Ainda não se sabe se os dois se formalizarão candidatos (Netinho parece estar mais disposto), mas eu veria neles nomes de expressivo peso.

Já mais distantes estão Gabriel Chalita (PSB) e Paulo Renato (PSDB). Apesar dos baixos índices que têm hoje, não devem ser descartados, pelo peso que ambos têm na política local - vale lembrar que Chalita foi o vereador mais votado em 2008 e Paulo Renato foi bem na disputa para deputado em 2006. Aliás, no caso de Renato, se deve pensar se ele realmente se arriscará a perder uma relativamente tranquila reeleição para a Câmara.

Desde já, a disputa para as vagas paulistas no Senado vai se marcando como uma das mais interessantes das eleições no ano que vem. Alguém tem algum outro palpite?

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sai Aécio, ganha Dilma - exagero?

A essa altura todo mundo já sabe que o Aécio Neves desistiu da pré-candidatura à presidência, certo? Caso contrário, vejam matéria do O Globo a respeito.

No Twitter, onde abordo as coisas mais em tom de brincadeira, comentei a renúncia de Aécio com apenas duas palavras: Dilma eleita. Agora desenvolvo um pouco mais o assunto, mas já adianto que o foco continuará o mesmo.

Aécio não permitiu perguntas na cerimônia em que anunciou a desistência. Mas, sobre os motivos dela, nem era necessário: ele vinha atrás de José Serra em todas as pesquisas e não estava conseguindo canalizar o apoio de setores consistentes do PSDB em torno dele. Por incrível que pareça, os principais incentivadores de sua campanha vinham do outro lado da disputa, como Ciro Gomes.

Acompanho raciocínios de muita gente sobre a ex-pré-candidatura de Aécio Neves. Assim como meu amigo Alan Kardec Borges, acho que Aécio tinha mais potencial de crescimento do que José Serra - se o paulista tem mais indicações do público agora, a pouco menos de um ano da eleição, é por ser mais conhecido. E o cientista político Gaudêncio Torquato fez outra análise que endosso: com a saída de Aécio, a disputa Serra x Lula passa a ser mais um capítulo da peleja Lula x Fernando Henrique que se desenrola no Brasil desde 1994, tendo agora como jogadores José Serra e Dilma Rousseff. Com a aprovação que recebe o governo petista atual, é praticamente impossível acreditar que o eleitor não queira optá-lo por sua continuidade.

Talvez a saída de Aécio da corrida também seja uma maneira de fazer com que ele se garanta no lugar de candidato a vice (mal comparando, é como a postura do estado de São Paulo de encher a bola do Rio de Janeiro como sede da final da Copa de 2014, buscando com isso receber apoio carioca para sediar a partida de abertura). Essa hipótese se fortalece se pensarmos que o DEM, com o escândalo de José Roberto Arruda, perdeu "moral" para ocupar uma vaga naturalmente sua.

De quebra, a saída de Aécio foi também muito comemorada pela família Alckmin: a corrida de Serra ao Planalto faz com que Geraldo se torne o candidato natural ao governo paulista, em uma disputa antecipadamente ganha.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Eymael: agora, candidatura é para vencer

Desde o final de novembro, Dilma Rousseff, José Serra, Marina Silva, Ciro Gomes e Aécio Neves têm companhia. José Maria Eymael, do PSDC, é mais um pré-candidato à Presidência da República.

Apesar de dois bem-sucedidos mandatos como deputado federal e de ter disputado a Presidência em duas ocasiões (1998 e 2006), Eymael é pouco conhecido do eleitorado – seu nome é mais atrelado ao jingle que o acompanha desde 1985 - e, até segunda ordem, sua candidatura dificilmente fará frente à dos nomes mais destacados na disputa.

Mas, apesar das condições inócuas, Eymael acredita em possibilidades concretas de vitória, pautadas em dois fundamentos: o primeiro é algo que ele identifica como sendo uma demanda popular para uma “candidatura de centro”; o outro é a transformação que a política nacional tem passado após a aprovação da minirreforma eleitoral ocorrida neste ano, que permitiu um uso mais amplo da internet para as campanhas. “Essa própria entrevista que estou te concedendo é um exemplo disso”, diz o pré-candidato.

Eymael e o Blog Olavo Soares conversaram no início do mês no escritório central do PSDC, em São Paulo. A motivação para a entrevista foi o post “... um democrata cristão”, em que a candidatura à presidência de Eymael fora criticada. “Acho que nosso trabalho não tem sido bem divulgado. Então eu quero dar mais e mais entrevistas, aproveitar todas as oportunidades”.

Por que mais uma candidatura à Presidência, se uma disputa por uma vaga de deputado seria uma alternativa mais viável?
Para responder, tenho que contar uma história. Você se lembra de quando eu fui candidato a prefeito em 1985? Foi para passar a imagem da democracia cristã. Em 1965, com o Ato Institucional número 2, os partidos políticos foram extintos, e a democracia cristã fica ausente no Brasil. Até 1985, com a abertura. O PDC [Partido Democrata Cristão] fora fundado e seus dirigentes sabem que em São Paulo havia um antigo militante – e me convocam para organizar o partido aqui. Eram as primeiras eleições diretas nas capitais, após 20 anos. Um momento mágico, uma ebulição. Decidimos disputar a prefeitura, para marcar que havíamos voltado. Concorri com Jânio [Quadros, que venceria a eleição], Suplicy [Eduardo, atualmente senador pelo PT], Francisco Rossi [ex-prefeito de Osasco]... Foi então recriada a democracia cristã, e em 1986 o PDC elegeu cinco deputados constituintes. Fui votado em todos os municípios, graças à mensagem da democracia cristã, passada em 1985 e repetida na eleição de 1986. Em 1990, fui reeleito deputado. Em 92, elegemos quase 500 vereadores no estado de São Paulo. E, só um ano depois disso, acontece a segunda tragédia da democracia cristã, uma decisão equivocada da direção nacional que promoveu a fusão do PDC com o PDS [atual PP, o partido de Paulo Maluf]. Nossos números eram impressionantes: tínhamos 22 deputados federais, dezenas de deputados estaduais, três governadores, quatro senadores, quase 500 prefeitos, quase 5 mil vereadores... e num estalar de dedos acabou tudo. Dois anos depois, juntamente com mais 114 companheiros, refundamos a democracia cristã, acrescentando o S na antiga sigla – e o partido passa a se chamar PSDC. Veio 1998 e eu tinha duas alternativas: ou vou para a disputa de deputado federal, volto pro Congresso, ou desfraldo a bandeira do PSDC no Brasil inteiro pra mostrar que a gente voltou...

Como aconteceu em 1985?
Exatamente. Fazendo o mesmo papel. Mostrando que nós tínhamos voltado. Começamos a crescer, fizemos um pouco de vereadores, um pouco de prefeitos... e o divisor de águas nesse processo de crescimento foi a eleição de 2006. Naquele ano, escolhemos uma estratégia. Precisávamos mostrar duas coisas: que éramos um partido organizado em todo o país, um partido nacional; e que nós éramos um partido independente, que não estava na folha de pagamento de ninguém. Então convocamos os principais líderes nossos, que tinham condição de se eleger deputados federais, e os lançamos a governador. E eu disputei, novamente, a Presidência da República. Não mais com o objetivo de dizer que tínhamos voltado, mas para dizer que o partido era nacional e independente. O resultado dessa estratégia já colhemos na eleição de 2008: mais de 1,330 milhão de votos para vereador. Hoje, o cenário é diferente. A democracia cristã cresce, e por quatro motivos. O primeiro é o compromisso com a defesa dos valores e atendimento das necessidades da família. O segundo é a história do partido, que foi por duas vezes destruído e ressurgiu. O terceiro é a proposta central do PSDC como partido político – transformar o Estado de senhor em servidor. E o quarto pilar do crescimento é a trajetória que vem tendo nas cidades.

E como isso leva até sua pré-candidatura presidencial para 2010?
Eu seria candidato a deputado. Meus companheiros diziam: “você tem que voltar para o Congresso”. Havia uma tendência, aqui em São Paulo, para isso. E eu já tinha concordado. Mas então tivemos o terceiro Congresso Nacional da Democracia Cristã [realizado em agosto], no Rio de Janeiro. No final dele, fiquei preocupado. Vi que o PSDC se tornaria uma “colcha de retalhos”, já que os líderes locais apóiam candidatos ao governo que têm, cada um, suas preferências para a disputa presidencial. Toda essa unidade nacional que temos poderia estar ameaçada. E aí nossa assessoria de marketing, pesquisando a internet, viu um blog chamado Mente Conservadora. O articulista do blog fez um raciocínio: todas as pré-candidaturas à Presidência já declaradas estão do mesmo lado, têm o mesmo discurso. Um discurso ou de esquerda, ou de centro-esquerda. E ele dizia: “na eleição passada, eu ainda tinha uma alternativa – no segundo turno votei no Alckmin [Geraldo, do PSDB], mas no primeiro votei no Eymael. Mas agora não tenho em quem votar”. Isso nos fez pensar muito. Foi um ensinamento que a sociedade nos deu: não tem ninguém no centro. E nós somos um país que precisa de uma alternativa no centro.

E o senhor se coloca como sendo um candidato precisamente de centro, ou de centro-direita?
De centro. Somos autores da maior parte das conquistas dos trabalhadores na Constituição de 1988. Esse é o nosso cenário. E a visão foi se cristalizando: não só o PSDC queria uma candidatura própria, mas a sociedade a queria. Em outubro, realizamos em Aracaju o encontro dos presidentes dos diretórios estaduais do PSDC. E lá, vários companheiros diziam o seguinte: “enquanto discutimos aqui, a sociedade exige que lancemos uma candidatura!”. Foi muito interessante essa observação. Fora da gente, a candidatura estava sendo impulsionada. No final do encontro, chegou-se à conclusão que o PSDC deve ter uma candidatura própria à presidente - numa resposta àquela parcela da população que não se sente representada naquelas candidaturas já colocadas. E não há nem mais o propósito de 2006, nem o de 1998. Agora é realmente uma campanha pra disputar. Não que a anterior não fosse, todas foram; mas nós sabíamos das nossas limitações. Agora não, nós vamos disputar para ganhar.

E como o senhor avalia as chances de vitória no ano que vem?
Temos um cenário novo, completamente novo. Essa entrevista que estou dando para você, se fosse realizada em 2006, poderia fazer com que o Ministério Público entrasse com uma ação contra mim por propaganda antecipada. Eu só podia dar entrevistas após a convenção – ou seja, a partir de julho. Teria julho, agosto e setembro. Agora eu posso dar entrevistas para rádio, televisão, jornal. Só não posso pedir votos; posso falar propostas, princípios, histórias. Então nossa primeira estratégia é usar essa abertura imensa que a reforma eleitoral permitiu. Falando, no Brasil inteiro, da temática da democracia cristã, da proposta de transformar o estado de senhor em servidor. Sabemos que quando as pessoas conhecem a democracia cristã o efeito que ocorre é fantástico. E a legislação estabeleceu isonomia de candidatos. Está no texto da lei.

Qual a expectativa do senhor para o dia-a-dia da campanha?
Vai ser uma campanha muito forte. E é uma candidatura que se espera [por parte da população], não uma utopia. Vai ter muita gente que vai querer se engajar, num processo realmente forte. Na última vez que fui para Brasília, tomei um táxi e o taxista me reconheceu. E disse: “na eleição passada, em 2006, eu e minha patroa gostávamos de você. Mas não votamos no senhor, e sim no Lula, porque tínhamos certeza que ele iria cuidar dos pobres. Mas essa Dilma... essa Dilma!”. E isso me faz pensar: quantas outras famílias podem ter essa mesma ideia?

Uma coisa que marcou o senhor na eleição passada foi a questão da cadeira vazia [nos debates para o primeiro turno da eleição presidencial de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu, e sua ausência foi criticada por todos os candidatos; José Maria Eymael fez menções, no horário eleitoral, à “cadeira vazia” deixada pelo presidente]...

Sim, a cadeira vazia... marcou mesmo. Mas eu tenho um bom relacionamento com o Lula. Fomos constituintes juntos. E, no segundo turno de 2002, o PSDC apoiou o PT. A frase “a esperança venceu o medo” tem origem na gente! A nota oficial que fizemos de apoio ao Lula foi emitida no dia seguinte em que a Regina Duarte, no horário eleitoral, disse que tinha “medo” do Lula. Na nota, falávamos: “no momento em que, na sucessão presidencial, a força da esperança se opõe às forças do medo, o PSDC apóia as forças da esprança e apóia Luiz Inácio Lula da Silva”. Quando passamos isso para o coordenador de campanha do Lula ele sacou que a frase era forte, e fez a junção em “a esperança venceu o medo”. No mesmo dia, à noite, a frase já estava no site do PT.

Como é a relação do senhor com o jingle que leva seu nome, o “ei, ei, Eymael”?
O jingle é a minha pele... Vou te contar como ele nasceu. Estávamos em uma reunião, em 1985, para definir com que nome eu seria candidato a prefeito. A reunião chegava ao seu fim, e com uma certeza: eu poderia ser candidato com qualquer nome, menos Eymael. Poderia ser JM, José Maria, mas Eymael jamais, o povo teria dificuldades em pronunciar. Nisso, um companheiro nosso, o José Raimundo de Castro, alfaiate e compositor de música popular, ergueu o braço e disse: “mas se a gente ensinar o povo a dizer Eymael, ele não esquece mais”. E pediu dois dias para tentar encontrar um jeito para isso. Se reuniu com amigos também compositores e, após dois dias, às 17 horas, ele me ligou. Depois ele me contou que pedira para um auxiliar na alfaiataria segurar o microfone enquanto ele tocava o violão. Mas aí ele cantou o jingle. Na hora, senti ali que ele tinha feito um sucesso. Eu disse: “Castro, a partir de hoje devo a você minha história na política”. Foi coisa de gênio! Ele teve a genialidade de ver no meu “Ey” o “ei” brasileiro. Mas, durante muito tempo, houve muita gente que conhecia o jingle, e não o candidato. Então houve um processo, com muito esforço, de mostrar também o candidato – e sem tirar a alegria do jingle. Afinal, ele é um instrumento, e não um fim em si próprio.

O senhor não teme que esse jingle possa criar um “Efeito Enéas” – ou seja, a existência de um voto “brincalhão” que seria direcionado ao senhor?
Sim, isso poderia acontecer. Mas é por isso que nós temos mudado a abordagem de nossos programas eleitorais. É um assunto que preciso administrar, para não cair na brincadeira.

O jingle será usado na campanha de 2010?
De maneira dosada. Agora, eu quero passar minha proposta. Sem tirar a alegria do jingle. Ele terá um lugar na campanha, mas administrado.

O senhor é a principal figura do PSDC, o expoente nacional da sigla. Não teme um partido centrado exclusivamente na sua pessoa?
Nós temos líderes muito fortes, em todas as regiões do Brasil. O partido não tem dono. Mas já cheguei à conclusão que os partidos precisam de líderes de referência.

E o senhor se sente confortável nessa posição?
Sim, me sinto. Isso me incomodava no passado, mas hoje não mais.

Nas últimas eleições, seu filho, que adotou o nome político de Eymael Filho, foi candidato, mas obteve poucos votos. Ele disputará de novo em 2010? Quais as suas expectativas sobre a carreira dele?
Não sei se ele disputa de novo. Ele tem uma aspiração política, mas precisa trabalhar mais. E não achar que só o nome Eymael vai levá-lo ao sucesso. Precisa ir para a rua!

Qual a postura do PSDC em relação ao aborto?
Somos contra, a não ser nas exceções já previstas pela lei hoje [estupro e risco à saúde da mãe].

Descriminalização das drogas?

Nossa postura é de apoio ao dependente, e dureza ao traficante. Mas sem descriminalizar.

Pena de morte?
Somos contrários, em todas as circunstâncias.

União homossexual?
Nossa postura é a mesma da Constituição Federal hoje. A Constituição diz que se deve respeitar a opção sexual das pessoas. Não temos nada contra um contrato civil entre dois homossexuais. O que não concordamos é que se dê a esse contrato a feição de um casamento.

O PSDC tem núcleos de homossexuais, como há em alguns partidos?
Não.

Poderia vir a ter?
Não, não é algo que se encaixa em nossas bandeiras. Por exemplo: a Parada Gay é uma livre manifestação; mas o PSDC não participaria. O PSDC não critica, mas também não integra.

E em relação à obrigatoriedade do voto, o que diz o partido?
Estou convencido que o voto deve ser facultativo. Sou um defensor disso. Hoje, com a obrigatoriedade, os eleitores são levados a uma não-reflexão. Quem vota porque quer, e não porque é obrigado, analisa, examina melhor os candidatos. O que temos hoje é um sistema de fundo partidário e de comunicação com uma profunda, imensa desproporção. Mas acredito que, para 2010, isso não terá tanta influência, por conta da possibilidade que temos de nos posicionar como pré-candidatos um ano antes do pleito.

E isso é mais um motivo para crer em vitória?
É. Será difícil? Claro. Mas há um espaço imenso, como nunca houve, para a democracia cristã. Será o ano mais importante da nossa história. Os brasileiros vão conhecer a democracia cristã.

Fotos: Olavo Soares

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

PT exibe programa caprichado

O PT exibiu, ontem, em rede nacional, seu programa partidário gratuito. Aquele do qual todos os partidos dispõem, com inserções em anos não-eleitorais e que são destinadas à promoção do partido, e não dos candidatos. Em síntese - as peças podem fazer de tudo, menos pedir votos a candidatos futuros.

E a peça impressiona. Sua qualidade técnica é simplesmente irretocável. Não concebo um programa, em termos técnicos, melhor do que esse. Enquadramentos precisos, efeitos especiais na medida, falas bem-estruturadas... enfim, uma obra prima. Sinal que teremos alta qualidade técnica no horário eleitoral do ano que vem. Não vi o programa das outras siglas, alguém pode comentar se o nível está tão alto ou se o PT é uma exceção?

Quanto ao conteúdo, há alguns aspectos interessantes a destacar. Em primeiro lugar: Lula e Dilma aparecem em quantidade quase que igual na peça. Não há muita prevalência de um sobre outro. A figura da "Dilma gerente", enfatizada pelo próprio Lula em entrevistas, é o que se destaca. Dilma aparece sendo a responsável pelos projetos Minha Casa Minha Vida, Pré-Sal e PAC - que curiosamente têm mais espaço na publicidade do que o Bolsa Família, colocado em certa coadjuvância.

Chama a atenção ver também que Dilma é simplesmente chamada de "ministra". Seu cargo completo - ministra-chefe da Casa Civil - não é em nenhum momento mencionado, tanto nas falas quanto nos créditos inseridos abaixo de sua figura. E, com exceção de uma pequena citação de Lula, a figura da "mulher" e seus estereótipos costumeiros também não se faz presente.

Outras figuras do governo Lula aparecem, mas com destaque ínfimo. Uma reunião ministerial forjada tem Dilma na cabeceira e os outros ministros à sua volta. Que não emitem sons, apenas simulam o debate.

Além de Lula e Dilma, as duas únicas "autoridades" a falarem são Ricardo Berzonini e José Eduardo Dutra, respectivamente presidente atual e futuro do PT nacional - suas aparições acontecem para justificar a questão "partidária" do programa.

Como crítica, acho que a menção ao PSDB foi exagerada. Lula e o governo PT gozam de aprovação tamanha que acredito não ser necessária a citação do nome de partido e presidente anteriores. Uma comparação do governo atual com "governos de antes" seria mais interessante. Sabem aquela coisa do "falem mal, mas falem de mim"? Acredito que ignorar o PSDB e FHC seria mais lucrativo.

Vejam abaixo o programa e emitam suas opiniões.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O povo que não concorda comigo é burro

Mais uma pesquisa positiva para Lula: levantamento CNI/Ibope diz que o governo federal tem aprovação (soma de ótimo e bom) de 72%. A mesma pesquisa indica que a figura de Lula é aprovada por 83% dos brasileiros. É a segunda maior aprovação já registrada para o governo, perdendo apenas para a aferida em dezembro de 2008.

Como os números serão avaliados pela classe política? Simples: petistas dirão que é o "reconhecimento popular pelas boas ações do governo", enquanto demo-tucanos retrucarão falando que "as massas estão sendo iludidas por falsas benesses e não conseguem captar a realidade". De quebra, petistas dirão também que Lula é popular apesar da mídia, e a oposição falará que ele é popular por causa da mídia. Ah, e a Globo também será citada como protagonista para tal.

Interessante é que se fizermos uma volta rápida no tempo - mais precisamente, 11 e 15 anos - veremos o "povo" dando uma resposta, nas urnas, diametralmente oposta ao que se vê agora. O candidato Lula era derrotado duas vezes, e em primeiro turno, por Fernando Henrique Cardoso. O que se dizia na época? Petistas falavam que o povo era burro e caía na conversa oficial, enquanto tucanos elogiavam a sabedoria popular em reconhecer um governo que fazia um bom trabalho.

Já está mais do que na hora de se perceber que não se pode cravar a inteligência (ou a falta dela) do povo de maneira tão simplista e abstrata. Nem o "povo" era inteligente em 1998 e emburreceu, e nem era idiota há 11 anos e evoluiu para uma sabedoria ímpar nos dias atuais. A questão é que talvez não exista um "povo" como tal, essa massa tão amorfa, volúvel e sem opinião própria como tradicionalmente é descrita.

Talvez seja o caso de se dedicar um pouco mais de tempo a pesquisas qualitativas, análises mais detalhadas e precisas para que se entenda, de maneira precisa, o que o tal do "povo" anda pensando. Para evitar julgamentos cujo maior parâmetro é a conveniência.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Resultados que ensinam

Ontem, o Santos FC elegeu um novo presidente. Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, com 1.882 votos, venceu Marcelo Teixeira, que teve 1.129. Teixeira tentava vencer sua sexta eleição consecutiva.

Falo mais sobre os aspectos "futebolísticos" da eleição no Futepoca. Aqui, queria abordar mais questões de marketing político que se fizeram presentes na disputa.

Antes de mais nada, é preciso entender como funcionam as eleições do Santos. No clube, votam associados com mais de três anos de filiação. É um universo de cerca de 10 mil pessoas. Mas, tradicionalmente, são cerca de 2.500 os votantes - o voto não é obrigatório.

Num cenário como esse, fica evidente que uma tarefa essencial para ambos os grupos que disputam o poder é a captação de novos eleitores - mais prioritária do que o convencimento e a tentativa de reversão de quem vota do outro lado. Afinal, é mais fácil convencer quem ainda não tem opinião formada do que tentar cooptar aquele que tem posição firme de outro lado.

A oposição do Santos tem atuado nesse sentido desde 2002. Já visando os próximos pleitos, se iniciou aí uma campanha pela associação de torcedores. Além dos benefícios relacionados ao cotidiano de torcedor (como meia-entrada e garantia de ingressos nos jogos), sempre foi enfatizada a possibilidade de colaborar para a modificação dos destinos do clube.

Toda essa situação explica a euforia que estavam apoiadores da oposição santista ontem, ainda antes da apuração, quando foi anunciado o total de votantes: 3.024 pessoas. Acreditava-se que grande parte desse contingente era formada por novos sócios, e, desse grupo, a ampla maioria deveria estar do lado da candidatura de Luís Álvaro.

Quando foi concluída a apuração, os números evidenciaram que a ideia fazia sentido.

Mas é quando comparamos os números de 2009 com os das eleições anteriores é que conseguimos ter certeza da eficácia da tática.

Em 2003, Marcelo Teixeira teve 1.525 votos; Luís Álvaro, 990. Em 2005, foram 1.335 votos para Marcelo Teixeira contra 748 para Paulo Schiff, o escolhido da oposição na ocasião. Teixeira e Schiff se enfrentaram novamente em 2007 - mais uma vitória de Teixeira, que teve 1.367 votos contra 617 do opositor.

E agora, em 2009, Luís Álvaro recebeu 1.882 votos e Marcelo Teixeira, 1.129.

Percebe-se que a votação de Marcelo Teixeira caiu, sim; mas de maneira muito, mas muito menos significativa do que o crescimento dos votos da oposição. Apenas numa comparação entre 2007 e 2009, vê-se que foi um aumento de mais de 200%.

Votos que eram de Marcelo Teixeira e que migraram de lado? Parte deles, talvez. Mas mais que isso, a chave foram os novos eleitores. Gente que não se fazia presente nos outros anos (por inúmeros fatores, entre eles restrições estatutárias) e que agora puderam depositar seus votos.

De certo modo, a eleição de Luís Álvaro lembra, nesse sentido, o triunfo de Barack Obama nos EUA em 2008. O "Yes, We Can" do americano se materializou muito mais com a atração de novos eleitores do que com a retirada de votos dos republicanos.

O recado que fica é um tanto quanto óbvio, mas que vale ser ressaltado: o foco tem que estar nos eleitores, sempre. De nada adianta fazer pirotecnias que só vão alcançar aqueles que não têm poder para reverter a eleição.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"... um democrata cristão"

Release que recebi hoje dizia: em reunião realizada em Aracaju, presidentes dos diretórios estaduais do PSDC assinaram uma conclamação para que o líder maior da sigla, José Maria Eymael (foto), se candidate à presidência da República. Se confirmada, a corrida presidencial de Eymael será a terceira de sua história - ele tentou o Planalto anteriormente em 1998 e 2006, quando obteve, respectivamente, o nono lugar (entre 12 candidatos) e o sexto (entre sete postulantes).

Mais uma vez, é evidente que Eymael disputará o pleito sem chances de vitória. Seu partido é pequeno e sua carreira política é inexpressiva - se pode falar, com sobras, que sua principal realização é ter emplacado o jingle "ei, ei, Eymael / um democrata cristão", um dos mais célebres da história do Brasil (sem exagero algum).

Curioso é que, ao disputar a presidência, Eymael abre mão de uma candidatura na qual poderia ter sucesso - a para a Câmara dos Deputados. Eymael foi eleito deputado federal por duas vezes, em 1986 e 1990. Ancorado na popularidade de seu jingle e nas propostas da democracia cristã, seria um candidato competitivo para a Câmara.

A insistência de Eymael chama a atenção também pelo fato de marcar uma trajetória diferente da que se vê entre os candidatos "nanicos". Geralmente, estes entram em disputas majoritárias para marcar posição, ganhar certa reputação e colher os frutos disso nas eleições proporcionais - Enéas e suas absurdas votações em 2002 e 2006 são exemplos disso. Já Eymael faz o oposto.

Também não se pode dizer que sua candidatura seja um "lançamento do partido", como a que de Heloísa Helena em 2006, quando abriu mão de uma relativamente garantida reeleição para o Senado para tentar a improvável vitória presidencial. O PSDC não é novidade e segue pequeno como fora desde 1998, quando Eymael tentou a presidência pela primeira vez.

De qualquer modo, boa sorte a Eymael. Em 2006, além do jingle, ele se fez presente na eleição presidencial quando, no debate, ironizou a ausência de Lula e fez inúmeras referências à "cadeira vazia".

E bem que o PSDC merecia um melhor site, hein? O atual dá vontade de chorar.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

É pra isso?

Em momentos como o atual, marcado pela descrença nas instituições por parte dos cidadãos, os políticos precisam mostrar serviço. Mostrar que trabalham, que fazem coisas úteis para a sociedade.

E, por isso, o "jogar para a torcida" acaba acontecendo muitas e irritantes vezes.

É o que se passa agora, com a lei que isenta o pagamento das tarifas de estacionamento dos shoppings centers a quem consumir 10 vezes o valor da referida tarifa.

Não entendo nada de Direito, então não vou arriscar nenhum palpite sobre a possível inconstitucionalidade da lei - que é o que estão alegando os proprietários de shopping, que tentarão derrubar a medida.

O que discuto são as questões políticas relacionadas à lei.

Precisamos mesmo de uma lei que determine que um shopping não possa cobrar por um serviço que efetivamente presta?

É dessa "proteção" que o cidadão sente falta?

Não há outros pontos melhores para que os deputados da Assembleia Legislativa se debrucem?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Aécio vive

Números divulgados na semana passada evidenciam que a campanha presidencial está longe de chegar a um encaminhamento definitivo. Levantamento realizado pelo Vox Populi e divulgado pela IstoÉ mostra o governador mineiro Aécio Neves (PSDB) em segundo lugar em uma pesquisa espontânea de intenção de voto. Quem está à sua frente? Lula, que não participará da disputa.

Aécio teve 11%. O que, em uma pesquisa espontânea, e realizada a pouco menos de um ano da eleição, é muita, mas muita coisa. Porque as pesquisas espontâneas apontam o piso de uma candidatura. A não ser que haja escândalos ou algum outro fator externo, é quase impossível ver uma candidatura indo para patamares abaixo dos apontados em pesquisas espontâneas.

Isso, somado à baixa rejeição - Aécio tem 5%, contra 11% de Serra e 12% de Dilma, também segundo Vox Populi e IstoÉ - faz com que Aécio se encha de musculatura para uma eventual campanha.

Endosso a análise do amigo Alan Kardec Borges no Voto é Marketing. Serra lidera a maior parte das pesquisas hoje, mas grande parte desse triunfo pode ser seguramente atribuído ao fato dele ser o pré-candidato mais conhecido do eleitorado - foi ministro, candidato à presidência e é governador do estado mais populoso do Brasil.

Serra cresceria se conseguisse canalizar todos os votos de oposição a Lula. Acontece que o governo federal tem sido muito bem avaliado, então é mais lógico pensar que sua candidata sai à frente (lembrando que não se trata de "transferência de votos", e sim da avaliação de uma gestão, o que é bem diferente).

O quadro de 2006 também nos faz pensar que Aécio pode ser, para o PSDB, uma opção mais sólida do que Serra. Naquela eleição, lembremos, Lula perdeu nos três estados do Sul e também em São Paulo. Este eleitorado, via de regra, tenderá a votar novamente no candidato do PSDB, seja qual for. A chave, para os tucanos, seria reverter a boa margem que Lula tem no restante do Brasil.

Mais carismático, menos "paulista", mais acessível, Aécio parece ser mais viável do que José Serra.

E o Vox Populi dá sustentação a isso, pela primeira vez.

Serra segue sendo tratado como o principal candidato tucano à presidência. E declarações de Aécio, sinalizando uma candidatura ao Senado, já soaram como uma certa desistência. Mas uma dica ao mineiro é manter a toalha nas mãos. Ainda não é hora de jogá-la.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Sai de baixo

Um homem qualquer bater em uma mulher qualquer já é coisa feia (e, mais que isso, crime). Se o homem é famoso, além de crime é motivo de grande repercussão. Agora, quando o cara é famoso, governador de um estado e pré-candidato a presidente do Brasil, aí a história ganha repercussões astronômicas.

A pessoa em questão é Aécio Neves, governador de Minas Gerais e que briga com José Serra para ser o candidato do PSDB à sucessão de Lula.

A "notícia" (as aspas, nesse caso, são necessárias) tem corrido a internet desde o início da semana. Seu emissor inicial foi Juca Kfouri - em seu blog, o jornalista esportivo afirmou que Aécio foi visto dando um empurrão e um tapa em sua "acompanhante" (mais uma vez, aspas essenciais) em uma festa no Rio de Janeiro. Mais do que divulgar, Juca bancou o fato: atualizou o post dizendo que havia recebido um comunicado da assessoria de Aécio desmentindo o ocorrido e que não mudaria uma só vírgula do que escrevera.

O anunciado por Juca Kfouri foi o complemento de história levantada por Joyce Pascowitch no Glamurama. Lá, a colunista dizia que numa festa do estilista Francisco Costa, "um dos convidados mais importantes e famosos" do evento havia dado um tapa em sua acompanhante.

A nota de Pascowitch não declarava e nem chegava a insinuar quem seria o cidadão praticante do ato. Pelo fato do seu site ser mais ligado ao mundo da moda, celebridades e afins, jamais se havia pensado em relacionar o dito com o governador mineiro. Mas Juca fez a ponte, e a confusão foi armada.

Agora começam as interpretações para o caso. Muita, muita gente na internet tem dito que a repercussão da notícia teria o dedo de José Serra - que, assim, detonaria de vez as chances de Aécio ser o candidato tucano.

Acho meio conspiratória a teoria. Serra está à frente nas pesquisas, tem recebido mais apoio das lideranças do PSDB e é bem improvável que perca o posto para Aécio (com ou sem agressão). Sem contar a possibilidade - que não deve ser descartada - da criação de uma chapa "puro sangue" tucana, com Serra para presidente e Aécio para vice. Assim, não seria muito inteligente, por parte do paulista, lançar mão de tal expediente para o mineiro.

Da minha parte, não levo muita fé nessa "armação orquestrada por Serra", como alguns têm sugerido.

Quanto a Aécio e à agressão em si... ah, isso eu deixo para a polícia, que é quem tem que tomar conta desse tipo de história.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Yes, os republicanos também can

Quando Obama venceu, muitos se ocuparam em celebrar seu triunfo como sendo um símbolo da "mudança de mentalidade" americana. Segundo essa análise, os estadunidenses, ao eleger o democrata, mostrariam ao mundo que são diferentes do que foram em 2000 e, principalmente, em 2004, ao eleger e reeleger George W. Bush.

Mas aí o tempo passa e mostra que tal análise foi um tanto quanto imprecisa. Ou que nem deveria ter sido feita.

Em eleições realizadas nessa semana, o Partido Republicano, de Bush e opositor a Obama, teve três vitórias das mais expressivas. Conquistou a prefeitura de Nova York (favas contadas, já que a reeleição de Michael Bloomberg era dada como certa) e os governos dos estados de Nova Jersey e Virginia, com Christopher Christie e Robert McDonell.

Nova Jersey e Virginia são estados importantes. Respectivamente, o nono e o 12º mais populoso da nação. E ambos localizados no Leste americano, tido como mais moderno e democrata.

Nos EUA, os republicanos têm celebrado suas vitórias como uma espécie de "ressurreição" do partido - combalido e até mesmo tido como morto após a vitória de Barack Obama no ano passado. E há quem julgue que as vitórias de Christie e McDonell são, acima de tudo, uma derrota do próprio Obama, acontecida na primeira grande eleição após a chegada do ex-senador à Casa Branca.

Vale lembrar que, também ontem, o Maine, estado no Nordeste americano, rejeitou o casamento gay em consulta às urnas.

O que tudo isso demonstra? Que o pensamento conservador nos EUA ainda é forte e não pode ser desprezado. E que não se modifica em apenas uma eleição. A vitória de Obama foi emblemática e expressiva, mas, se pegarmos a história - e não só dos EUA - veremos que regimes democráticos são assim mesmo, marcados por alternâncias sucessivas de governantes e, mais que isso, de linhas de pensamento. Nada fora do que é, ou deveria ser, o padrão.

Em tempo: não condeno, de forma alguma, a existência desse "pensamento conservador" estadunidense. Inclusive, o valorizo - a democracia tem que ter todas as correntes e acho interessante que, por lá, os conservadores não tenham vergonha de se assumir como tal (diferente da hipocrisia brasileira, quando os sujeitos mais direitistas recusam-se a se denominar assim).

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O "caso Uniban" e o jornalismo

(Antes de mais nada: esse blog endossa quase que a integralidade das manifestações de repúdio aos estudantes da Uniban que expulsaram a moça da faculdade. Não tenho muito a acrescentar nesse sentido, e por isso o post abaixo segue outro foco.)

Já é de conhecimento geral o ocorrido na Uniban, campus universitário localizado em São Bernardo, semanas atrás - uma moça foi para a aula usando um traje, digamos, impróprio, foi hostilizada por colegas por conta disso, chamada a plenos pulmões de "puta" (e outros termos) e teve que deixar a faculdade escoltada por policiais.

Interessante é a trajetória que o assunto fez até chegar ao chamado "conhecimento geral" citado acima.

Eu - e a maioria das pessoas com quem falei a respeito - tive meu primeiro contato com a questão por meio das tais fontes virais. Minha primeira referência foi o Twitter - mais precisamente, o do Arnaldo Branco. Sua mensagem remetia ao post "Polanskis do ABC", do blog Boteco Sujo, criado no dia 28 de outubro, e "twittado" no mesmo dia.

Ainda no dia 28, o "caso Uniban" pipocou por Twitters e blogs dos mais diversos e se tornou, com sobras, o assunto mais repercutido na internet nacional.

E não tardou muito para que se tornasse pauta dos veículos da grande mídia nacional. Folha, Estado, TV Globo, as rádios de destaque, enfim; todos correram atrás do caso para darem suas versões do tema. Em um primeiro momento, com matérias tímidas, em que a estudante não citava seu nome nem mostrava seu rosto; depois, veio o "escancaramento" pleno, com a moça dando a cara a tapa. O ápice disso veio com a participação dela no Geraldo Brasil, na Record, e no Fantástico da Globo.

Isto posto, vamos às reflexões.

Ponto 1: a "blogosfera" (termo odioso, mas vá lá) teve sucesso. Conseguiu fazer com que um assunto que nela nasceu se tornasse o mais comentado no Brasil (e não só entre os blogueiros) em toda a semana. Inverteu o que habitualmente se faz na net, com as notícias dos grandes portais servindo de base para posts e outros trabalhos. É fato que o ocorrido jamais chegaria ao conhecimento público se não fosse o barulho que causou, inicialmente, a um grupo restrito de pessoas.

Daí vale também destacar que a repercussão do caso só se deu devido à extensa captação de imagens que se tinha em mãos. É fácil sacar que o peso de um vídeo que mostra uma pessoa sendo hostilizada por toda uma universidade é imensamente maior do que relatos que eventualmente digam a mesma coisa. Não foi necessariamente o fato que correu, e sim as imagens dele. Visíveis, chocantes e intrigantes - e por isso mesmo propensas à disseminação.

Mas agora vem uma conclusão de certo modo contraditória. Se por um lado registramos o "triunfo" dos blogueiros e da comunicação viral, por outro precisamos da mídia convencional para que ele seja sacramentado. Não apenas porque a ação de Record, Folha, Globo e outros dá uma certa "legitimidade" à questão, mas também porque o que os grandes grupos fizeram, no caso (com exceções, é claro), foi jornalismo. Foram à Uniban, buscaram mais depoimentos, ouviram fontes que deram novas visões ao caso, investigaram o tema a fundo.

Por limitações de diversas vertentes - financeira, de equipamento, de disponibilidade, etc, etc - os blogs não foram (e raramente são) capazes de dar uma continuidade a temas que levantam. Se têm potencial pra isso? Opa, têm e de sobra. Mas precisariam aderir, a seu trabalho, técnicas e preceitos do jornalismo convencional.

Muito se fala hoje que "a internet transformou o jornalismo" - e não apenas por ser um novo suporte tecnológico, mas sim por dar a ele uma nova mentalidade. De acordo, e quem questiona isso está cerca de 20 anos atrasado em relação ao resto do mundo. Mas o que casos como da Uniban sugerem é que deveria acontecer uma retroalimentação. O jornalismo ajudando os blogs a se transformarem, a se consolidarem como veículos efetivos de comunicação. E não somente "espalhadores" de assuntos.

Abaixo, um dos vídeos originais do caso - cada vez mais raros.


quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Bom para ambas as partes

Não deu tanta repercussão assim (eu pelo menos não vi) uma notícia interessante ocorrida na segunda-feira: o PP lançou o deputado Celso Russomano como pré-candidato ao governo de São Paulo.

É de certo modo compreensível o desprezo ao fato. O PP, em São Paulo, não é um partido com cacife para fazer um governador. E a eleição para o Palácio dos Bandeirantes deve mesmo ficar entre os nomes do PSDB (Geraldo Alckmin, Aloysio Nunes Ferreira ou uma terceira opção) e o que contará com PT em sua chapa (Ciro Gomes ou algum petista de carreira), com vantagem para os tucanos.

Mas o que interessa mesmo é discutir quais seriam os interesses do PP com o anúncio.

Celso Russomano é deputado federal desde 1995. Na eleição passada, em 2006, foi o segundo candidato mais votado em São Paulo, com 573.524 votos - ficou atrás apenas de seu colega de legenda Paulo Maluf (a votação expressiva de ambos fez com que coubesse ao PP o "efeito Enéas" da vez, com Aline Correa conseguindo uma vaga na Câmara com míseros 11.132 votos). A fama de Russomano vem de sua trajetória como repórter, pautada pela marca de buscar a defesa do consumidor e eternizada com o bordão que dá nome a esse post no falecido "Aqui Agora", jornalístico do SBT.

O quadro descrito acima deixa ainda mais curiosa a pré-candidatura de Russomano ao governo do estado. Afinal, sua reeleição para a Câmara é certa - tão certa como o insucesso que terá na briga pelo cargo de governador. Russomano, inteligente que é, deve ter noção de tudo isso.

Parece que PP e Russomano querem mostrar certa força para se colocarem como alguém interessante a ser cortejado. Ganhar aparição na mídia, falar sobre seu "projeto de campanha", aparecer com alguns pontos nas pesquisas de intenção de voto... e na hora H abrir mão da candidatura e concorrer com folga à vaga de deputado.

Russomano não tem aparecido nas pesquisas para o governo. Paulo Maluf, eterno candidato, é o nome do PP colocado à disposição dos eleitores nos levantamentos. Acredito que, apesar da visibilidade do jornalista, ele não terá - ao menos em um primeiro momento - o retorno do ex-prefeito.

Foto: William Volcov / Agência Estado

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Assunto complicado, reflexões despertas

Uma das notícias de mais impacto do mundo político nessa semana foi a cassação de 13 vereadores de São Paulo, ocorrida ontem. A decisão, em primeira instância, pune todos os parlamentares pelo mesmo motivo: terem recebido doações tidas como ilegais pela Justiça Eleitoral.

Todas as doações condenadas têm a mesma origem: a Associação Imobiliária Brasileira (AIB). São dois os problemas que estariam nas doações, segundo a sentença. O primeiro é o peso das verbas no montante disponível para o candidato durante a campanha - esse corte, inclusive, foi o que determinou que somente os vereadores para quem a doação da AIB representou mais de 20% do total de campanha perdessem o mandato.

O segundo ponto chave está na própria existência da AIB. Em abril, a Folha apresentou uma reportagem que sugeria que a entidade - a segunda maior doadora na campanha de 2008 - seria apenas uma laranja do Secovi, o sindicato patronal do setor imobiliário de São Paulo. A lei eleitoral determina que associações de classe, como os sindicatos, não podem fazer doações a campanhas.

Os vereadores cassados ainda não perderam o mandato. Tal situação só ocorrerá se a sentença for mantida nas duas outras instâncias que tramitará - inclusive no Tribunal Superior Eleitoral.

O caso é interessante e nos dá uma série de elementos para pensar. O principal deles: vejo como positivo, muito positivo, o fato das doações se tornarem o "assunto da vez" na política. Acho que o fortalecimento da democracia passa pela crença nas instituições eleitorais e acredito que a cultura das doações é elemento-chave para isso. A lição vem dos EUA: lá, doações pequenas, de contribuintes individuais, são tradicionais e colaboram para um sentimento de participação - e foram decisivas para o triunfo de Barack Obama, especialmente em sua disputa democrata com Hillary Clinton.

Talvez a questão motive também um debate sobre a própria legislação eleitoral: numa dessas, o assunto faz com que se discuta, por exemplo, a possibilidade de permitir a participação de sindicatos e outras entidades correlatas como doadoras.

Enquanto isso, a disputa judicial pega fogo, a Câmara vive dias de choque e os vereadores se posicionam. Carlos Bezerra Júnior (PSDB), um dos cassados, divulgou em seu site uma nota oficial que explica muito bem sua postura frente ao caso.

A lista completa dos vereadores cassados pode ser encontrada aqui.

Atualizando: Três vereadores já tiveram a cassação suspensa e pode ser que mais gente também se beneficie (leia mais aqui). Talvez, como acontece com alguma frequência no Brasil, ninguém perca o mandato e as coisas fiquem como antes. E é por isso que, acredito eu, mais do que a cassação de um ou outro nome, o importante da história é levar o debate sobre as doações para uma posição de destaque.

Tirando a poeira

Amigos, pretendo atualizar mais esse blog. Peço desculpas aos eventuais leitores que sobraram pelo atraso.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Show da filiação

Recebi ontem, no meu email profissional, um aviso de pauta com o seguinte título: "Delegado federal Protógenes Queiroz anuncia sua filiação partidária".

Achei que fosse uma notícia relatando qual era a legenda escolhida pelo delegado. Não, era um convite para uma coletiva em que se dará o anúncio, a ser realizada no dia 2 de setembro. Até aí tudo bem: o problema é o simples fato de que não se fala qual é o partido que receberá Protógenes em suas fileiras.

Não sei qual a razão para que Protógenes só anuncie seu partido no dia 2 - indefinição a respeito não é, senão ele não convocaria a coletiva. Talvez a data seja a única possível para a organização do evento. E nada contra isso, também. Protógenes se tornou uma figura importante e nada melhor do que fazer uma boa cerimônia para sacaramentar sua entrada na vida política.

O que questiono é a espetacularização do ato. Protógenes anuncia que vai para um partido - e não diz qual. O revelará apenas em uma coletiva. Já até imagino um cartaz coberto por um pano, puxado em momento estratégico, com o logotipo da sigla agraciada despontando sob um "ooooh" de espanto coletivo. Ou mesmo um anúncio lento, sílaba por sílaba, para matar todos os ouvintes de angústia. "Protógenes vai para o.... o.... Pê...", e mais uns trinta segundos até a resposta, tal qual Pedro Bial anunciando o vencedor do Big Brother.

Não acompanhei com a atenção devida os desmandos da Satiagraha e não sei dizer se Protógenes é ou não um bom delegado, admito. Mas o que dá para dizer, sem medo de errar, é que sua carreira pós-"fama" está cada dia mais folclórica. Aos poucos, ele vai se tornando um sujeito a quem não se deve levar muito a sério. Esperemos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Uma coisa é uma coisa, outra coisa...

Falar mal do Senado virou lugar-comum no Brasil nos últimos dias. Aliás, me corrijo; a coisa vem de tempos mais idos, com a já tradicional reprovação da opinião pública aos políticos como um todo e, falando mais especificamente da "Câmara Alta", com os demandos de Renan Calheiros que estiveram entre os assuntos mais comentados em 2007.

Corrupção e incompetência encabeçam as motivações para as queixas. E há uma que tem aparecido cada vez mais com maior frequência, e é a que eu gostaria de abordar agora. Falo da repulsa aos senadores suplentes, apelidados por aí de "senadores sem voto" e até mesmo de "senadores biônicos", numa temerária comparação aos políticos empossados na marra nos tempos de ditadura.

O ataque aos suplentes se motiva - e até mesmo se justifica - por lambanças cometidas pelos próprios suplentes. Wellington Salgado (PMDB-MG, na foto), que ocupa a vaga deixada pelo ministro Hélio Costa, ganhou fama por conta de seus longos cabelos e pela defesa de parlamentares tidos como indefensáveis. E agora é Paulo Duque (PMDB-RJ) - herdeiro de vaga deixada pelo governador fluminense Sérgio Cabral Filho - que recebe destaque, por presidir a malfadada Comissão de Ética do Senado.

Endosso os que fazem críticas à atuação de Salgado e Duque. Mas discordo, e com veemência, dos que contestam a legitimidade de ambos. Como assim, "senadores sem voto" ou "senadores biônicos"? Por acaso eles chegaram a seus cargos ao burlarem a lei ou coisa parecida? De modo algum. Estão lá de maneira legítima, tanto quanto os outros senadores.

Eles, inclusive, têm a mesma legitimidade que Gilberto Kassab tinha antes das eleições de 2008; ou, puxando um pouco na memória, que Itamar Francom tinha quando foi presidente. E tanto Kassab quanto Franco gozavam de popularidade e aprovação da população, vale o registro.

Talvez seja o caso de discutir se vale a pena manter a regra atual para a suplência. Dar a vaga ao senador "desistente" ao segundo colocado nas eleições seria uma medida extrema - certamente evitaria "evasões", mas, na minha avaliação, seria bem mais ilegítimo do que dar a vaga ao suplente. Afinal, o suplente está definido desde o período eleitoral - ou seja, o eleitor votou também nele, ao indicar o senador cabeça-de-chapa. Reitero que é a mesma situação dos vices.

Resumindo: a não ser que alguém apresente uma alternativa lógica, a figura dos suplentes é válida e continuará existindo - e gerará senadores tão legítimos quanto os outros, a despeito de suas trapalhadas.

Pensando em termos de marketing político, uma dica para os candidatos ao Senado seja explorar a figura dos suplentes adversários, aproveitando os grotescos exemplos do dia-a-dia.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O indecifrável "projeto Marina"

Ainda não sei como interpretar a ascensão do movimento Marina Silva Presidente. A ideia se propaga pela internet e, aparentemente, seus autores querem que ela seja interpretada como uma sugestão espontânea, um clamor autêntico das massas virtuais; mas manifestações públicas e abertas do Partido Verde a favor da proposta, além de declarações evasivas da própria senadora, podem sugerir que a mobilização não é tão autêntica assim.

De qualquer forma, não deixa de ser uma situação interessante. Em primeiro lugar, por acarretar a saída de mais um quadro histórico do PT - mais uma pessoa tradicionalmente ligada a uma causa, que ocupou um ministério relacionado a ela, que por desavenças deixou o governo e, posteriormente, o partido do presidente Lula, e até que acabou concorrendo à Presidência. Roteiro idêntico ao de Cristovam Buarque, o primeiro ministro da Educação do atual presidente. Marina, é bom lembrar, assumiu o Meio Ambiente logo no início do primeiro mandato de Lula e deixou o cargo em situação pouco harmônica.

É também o caso de se pensar como será o jogo eleitoral caso a candidatura de Marina pelo PV se confirme. Com ela, teríamos três mulheres com candidaturas a serem levadas a sério - as outras duas são Heloísa Helena (PSOL) e a favorita Dilma Rousseff (PT). Das três, arrisco dizer que Marina seria a que teria um discurso mais convicente, a de uma plataforma de campanha mais autêntica. Heloísa tende a repetir o discurso vago da "ética", sem propostas consistentes, e Dilma proporá a continuidade do governo Lula - o que é uma plataforma séria, mas, cá entre nós, pouco ousada e "pessoal".

Mas sabemos que o PV não tem condições - ao menos não hoje - de vencer uma eleição presidencial. Ao menos não com o quadro que se desenha. E acredito que nem uma aliança com outros partidos tiraria o favoritismo perene de PT e PSDB. Justamente por isso, Marina talvez não queira concorrer - disputar a presidência significaria abrir mão de uma reeleição quase certa ao Senado.

Resta saber se o PT apresentará alguma manifestação oficial ao caso. O partido não abrirá mão da candidatura de Dilma e não parece estar muito preocupado com a perda de Marina. O PV, enquanto isso, comemora.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O que é realmente "oficial"?

A comunidade flamenguista se animou na semana passada: corriam rumores de que a CBF, em seu site, havia reconhecido o Flamengo como o campeão brasileiro de 1987. (Explicando aos não muito interessados em futebol - mesmo após mais de 20 anos, o Brasileirão daquele ano ainda gera incertezas sobre quem foi seu real campeão. O Flamengo ganhou um campeonato promovido pelos clubes, enquanto o Sport venceu aquele que foi sacramentado como oficial pela CBF. Eu até tenho minha opinião sobre o assunto, mas não vou manifestá-la, ao menos não aqui, senão a conversa desanda de vez e o assunto do post, por incrível que pareça, não é futebol).

A notícia que motivou a euforia dos torcedores do Flamengo é essa: Morreu Zé Carlos, goleiro que brilhou no Flamengo e defendeu a Seleção Brasileira. Pois é, nada que mencione alguma decisão da entidade sobre a antiga contenda. Então como é que a notificação da morte de um ex-atleta gera tamanho furor? Pelo uso da seguinte frase, ainda presente no texto: "Zé Carlos disputou 352 jogos pelo Flamengo, clube pelo qual conquistou o título brasileiro em 1987".

Ou seja: uma frasezinha aparentemente inocente reacendeu todo o assunto e motivou conclusões pra lá de precipitadas. Há duas questões que ficam como "lição de moral" desse episódio.

A primeira vai para os produtores de conteúdo e responsáveis por sites institucionais (e eu me incluo nessa, já que trabalho em um site com esse perfil). Ter veículos institucionais de comunicação é uma prática já antiga e solidificada no cenário empresarial. Mas a transformação nas comunicações fez com que eles tenham abrangência e visibilidade jamais imaginada. Alguém aí já leu o jornalzinho interno da Phillips, da General Motors, da Esso? Não, certo? Mas em poucos cliques estamos diante do site dessas empresas - que é o principal canal de emissão da voz institucional da companhia.

Portanto, qualquer notícia colocada no site da CBF (e da da Phillips, da General Motors, da Esso, do Mercadinho do Seu Luís e por aí vai) é vista como sendo uma comunicação oficial da empresa, algo deliberado pela instituição, algo que representa o que aquela entidade verdadeiramente pensa. Por conta disso, cresce e muito a responsabilidade de quem faz esse conteúdo. Se apuração, clareza e qualidade são requisitos de qualquer texto jornalístico, nesse caso em especial deve-se somar aí um belo conhecimento - e engajamento - aos valores institucionais. Senão, a coisa desanda.

E o outro prisma da "lição de moral" do episódio vai para a imprensa e também para o público em geral. Justamente porque sabemos que esses cuidados nem sempre são tomados como deveriam, é preciso que essas "informações oficiais" sejam recebidas com mais cautela. Acredito que a CBF não tenha reconhecido o Flamengo como campeão de 1987, apesar do texto que estava (e ainda está) no site sugerir isso. Não é o caso, portanto, de se soltar fogos e celebrar uma mudança radical de posicionamento de uma instituição apenas por conta de algo sugerido em um texto publicado em seu site.

Mais que isso, o que se deve pensar nesses casos é que o trabalho institucional não é feito com a qualidade que merecia.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Deixemos a fé pro que é de fé

Tempos atrás, eu estava assistindo Jô Soares, coisa que raramente faço. Um dos entrevistados do dia era um ufólogo. Em uma das suas primeiras falas, o cidadão (cujo nome infelizmente não lembro) deixou claro que, na avaliação dele, falar de discos voadores é algo que não pode ficar no campo das crenças. "Me perguntam se eu 'acredito' em discos voadores. Respondo que não é algo de 'acreditar', de 'ter fé', e sim de saber se o negócio existe ou não", disse, em linhas gerais, o pesquisador.

Toda essa introdução é para falar de um dos assuntos que mais recebeu destaque no noticiário internacional dos últimos dias, o vídeo que - supostamente - mostra líderes das Farc declarando que a entidade guerrilheira doou dinheiro para a vitoriosa campanha de Rafael Correa à presidência do Equador, em 2006.

O escândalo se detonou e começaram as gritas de tudo quanto é lado. Os direitistas estufam o peito pra dizer "é isso mesmo, eu já sabia, esse povo tá tudo mancomunado, tem dedo do Hugo Chávez aí" e por aí vai. Já o pessoal da esquerda retruca com coisas como "que nada, isso é manipulação, não tem nada a ver, as Farc não fazem parte do Foro de S. Paulo", e et cetera.

Ora, eu recorro à filosofia do já citado ufólogo pra emitir minha opinião. Ou o vídeo é verdadeiro ou não é. Não há meio-termo. Se for verdadeiro, houve efetivamente a doação de dinheiro das Farc para a campanha no Equador. Eu não conheço a legislação equatoriana, mas duvido que seja muito diferente da brasileira - aqui, é proibido que campanhas eleitorais recebam verbas do exterior, seja de quem for. Ou seja: ainda que as Farc fossem um lar de franciscanos, não poderiam contribuir financeiramente no processo eleitoral. Caso o Equador siga normas similares às brasileiras, a eleição de Correa se torna irregular (repetindo, no caso do vídeo ser verdadeiro) e, se a sanção para isso for a destituição do presidente do cargo, que assim seja.

Agora, se o vídeo é falso, trata-se de uma bela de uma armação. Uma tentativa clara de dar descrédito a um governo eleito democraticamente. Que as entidades - colombianas, equatorianas, ou até mesmo as duas - façam a sua parte e encontrem quem fomentou esse comprometedor boato.

É mais simples do que parece - e, assim como na questão dos OVNI's, não é o caso de ficar acreditando em uma hipótese ou em outra.

O vídeo, para quem ainda não viu, vai abaixo.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

É positivo

Você conhece Emidio de Souza? A não ser que você seja da região de Osasco ou um ávido devorador do noticiário político, muito provavelmente sua resposta será "não". Então é bom que se acostume a esse nome: Emidio, cada vez mais, é um forte pré-candidato do PT ao governo do estado.

Emidio é prefeito de Osasco - eleito em 2004, reeleito em 2008 - e, antes disso, foi deputado estadual e vereador. Tem sido colocado na lista dos pré-candidatos do PT e uma série de conjecturas tem feito com que seu desconhecido nome ganhe força.

O primeiro e mais importante motivo é a falta de nomes petistas para o projeto. É só lembrar o que aconteceu na eleição passada. Um ano (2005) antes do pleito, falava-se de três possíveis candidatos do PT: o deputado João Paulo Cunha, a ex-prefeita Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante. Mercadante acabou candidato e levou surra histórica de José Serra, que venceu no primeiro turno.

Peguemos esses três nomes e o analisemos no contexto atual. João Paulo Cunha, ainda em 2005, foi envolvido no escândalo do mensalão e o máximo que pode almejar hoje é o posto de deputado federal que mantém. Marta Suplicy saiu muito fragilizada após a derrota no pleito de 2008 da capital e é praticamente impossível que vença alguma eleição majoritária em São Paulo. Já Mercadante até que tem sua força, mas é mais negócio destiná-la ao Senado - ele tentará, ano que vem, renovar o mandato que obteve após as eleições de 2002.

Então o fato é que o PT não renovou seus quadros. Inlcusive, o nome que ainda está na frente de Emidio é o do deputado Antonio Palocci, que tem prestígio e força eleitoral, mas que sofreu um belo arranhão na sua imagem com o "escândalo do caseiro".

Arrisco um palpite: Emidio só deixará de ser candidato caso o PT abra mão de sua candidatura majoritária e embarque na aventura Ciro Gomes ou, como se cogita, a uma aliança com o PDT para a candidatura do prefeito de Campinas, Dr. Hélio.

Digo isso porque, até segunda ordem, a eleição para o governo do estado está nas mãos do PSDB, e seria suicida, da parte do PT, queimar Antonio Palocci e impedi-lo de buscar uma relativamente fácil reeleição ao mandato de deputado. Enquanto isso, Emidio é prefeito de Osasco e continuará ainda que dê vexame nas eleições do ano que vem. Ou seja: tem muito a menos que perder do que o ribeirão-pretano.

Acho que seria saudável ao PT o lançamento de Emidio. Assim, o partido se reoxigenaria, exporia um novo quadro para a opinião pública e deixaria claro que não é um partido composto somente pelos seus caciques. Entrevistei Emidio umas três vezes quando trabalhava no Visão Oeste e posso dizer que é um cara centrado, trabalhador, que não tem jeito de quem irá se deslumbrar com a grande responsabilidade que carregará. Sem dúvida, vai somar ao debate político do estado.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Reflexões sobre uma cassação

Na madrugada de hoje, o Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato de Marcelo Miranda (foto), governador de Tocantins. A medida se deu por conta de "abuso de poder político" durante as eleições de 2006.

Há três coisas a se analisar em relação a essa notícia. E nenhuma a respeito da cassação em si, se foi correta ou não, até porque para opinar quanto a isso eu precisaria estar mais inteirado no processo, o que é o caso.

Primeiro ponto: como é que só agora, na metade de 2009, é que o TSE consegue se pronunciar sobre algo que ocorreu em 2006? As eleições foram naquele ano, o ato em questão se concluiu ali, então por que o assunto permaneceu indefinido até agora? E o pior: Miranda ainda permanecerá no cargo até que forem esgotados todos os recursos. Ou seja: daqui a alguns meses, o ano vira, começa o eleitoral 2010 e é capaz da cassação anunciada aos quatro cantos não ter nenhum efeito. Falho em termos de punição é inadmissível se pensarmos que um estado precisa saber se tem, pra valer, um governador ou não.

Segundo ponto: as acusações que pairam sobre Miranda se referem a doações de óculos e terrenos a moradores do estado. Ele alega que, enquanto governador (foi reeleito em 2006), não poderia deixar de trabalhar "apenas" por estar disputando uma eleição. Complicado, não? Repito que não conheço a fundo o caso do Tocantins, mas taí uma questão que o Brasil ainda não conseguiu definir - o que é atribuição do gestor em exercício e o que é "medida eleitoreira". Será que a reeleição realmente cabe por aqui? Ou será que mídia e tribunais exageram ao ver ações supostamente eleitoreiras em trabalhos da rotina de um governo?

Terceiro ponto: esse é mais uma crítica aos jornalistas do que ao processo da cassação propriamente dito. Já vi por aí gente falando que a cassação de Miranda é um "desrespeito à vontade do povo de Tocantins" - assim como o que foi dito quando Jackson Lago (Maranhão) e Cássio Cunha Lima (Paraíba) perderam seus mandatos, e é o que sempre se fala quando um governante é sacado do poder. Tal argumentação é das mais frouxas. Ora, não existe a manifestação correta da "vontade do povo" se as regras de uma eleição são desrespeitadas. Quando uma eleição é falha (repito que não sei se esse é o caso do Tocantins), ela não pode ser interpretada como a verdadeira manifestação dos cidadãos. Simples. Então, se o caso do Tocantins for realmente esse, que se desconsidere a eleição em questão, e que o povo seja ouvido em um pleito justo.

Aliás, nesse último quesito, cabe um paralelo ao mundo do futebol. Há times que disputam campeonatos e acabam rebaixados por terem perdido pontos, punição que receberam por terem escalado irregularmente alguns jogadores. Logo vem a voz dos "justos": "isso é um absurdo, o time ganhou dentro de campo e fora tiraram os pontos, isso é uma imoralidade!". Imoralidade é ignorar uma regra. Se o time está numa competição, tem que seguir os princípios dela - o que inclui estar sujeito a punições caso pise na bola. Neste caso, não cabe o chororô nem a repetição de chavões contra as "viradas de mesa".

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mudanças fracas, mas melhor que nada

Ontem, deputados se acertaram e anunciaram o que - até agora - será modificado na legislação eleitoral no que se refere ao uso da internet nas campanhas. Um resumo está no blog do Fernando Rodrigues.

Endosso as críticas que o blogueiro do UOL faz às modificações. São mais tímidas do que o que se esperava e também deixam claro que o governo sugere o "não pode nada" simplesmente por não ter condições de fazer uma fiscalização mais correta, mais precisa. E ainda trazem bizarrices como a proibição a candidatos que queiram comprar espaços publicitários em páginas da internet. Ora, qual é - ou qual seria - a diferença de comprar meia página na Folha e um banner no Terra?

Por outro lado, celebro a autorização que a lei dá às doações de pessoas físicas pela internet. Principalmente porque permitirá que o procedimento seja feito de maneira incrivelmente simples, com o interessado fazendo suas contribuições com cartão de crédito ou débito. Como já falei outras vezes, permitir - e incentivar - doações individuais é algo que colabora e muito para a transparência do processo eleitoral e também para que o sentimento de participação seja ampliado. É uma forcinha pra democracia, portanto.

Claro que a cultura do Brasil ainda não contém esse tipo de procedimento. Em épocas de descrença geral na política, quem que tá a fim de dar parte do seu suado salário a um candidato? Mas não é nada que não possa ser mudado com um trabalho bem feito.

Tenho curiosidade de saber como será a postura dos partidos quanto a isso, e se eles realmente estão dando valor à essa possibilidade, ou se preferem as arrecadações pelo sistema antigo.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O conceito de GOTV se aplicaria no Brasil?

Textos sobre campanhas políticas dos EUA - como os da Politics Magazine, que assino - sempre mencionam a relevância de um tal "GOTV" no processo eleitoral.

O termo não me parecia claro e admito que o "TV" que compõe a palavra me fazia pensar que se tratava de uma questão técnica, algo como transmissão de imagens, nessa linha. Mas nada que a internet e a Wikipedia não resolvam: descobri que GOTV é abreviação para Get Out The Vote; numa tradução literal, algo como "arrancar o voto".

Nos EUA, o GOTV é feito majoritariamente por instituições não diretamente ligadas a partidos políticos. São grupos que defendem causas como direitos da minorias, aumento da participação política de jovens e imigrantes, entre outros temas. O Rock The Vote, que ficou famoso com o triunfo de Obama no ano passado, é o mais conhecido.

A chave para que esses grupos tenham tamanha relevância no processo eleitoral de lá é o voto não-obrigatório. Afinal, com a participação nas urnas sendo voluntária, é preciso que os agentes da campanha política se preocupem em fazer com que os eleitores se preocupem, em primeiro lugar, em ir até as urnas; posteriormente, em um segundo momento, é que chega a hora de tentar fazer com que a pessoa vote em determinado candidato.

Por essa ótica, talvez seja impossível pensar no GOTV sendo aplicado no Brasil. Porque aqui todo mundo tem que votar, querendo ou não. Mas será mesmo que é o caso de descartarmos em definitivo a ideia?

Eu acredito que não, e explicarei meu ponto de vista. Talvez, para as eleições majoritárias, em que há menos de uma dezena de candidatos e o nome de dois ou três cidadãos manipula o debate eleitoral, realmente não faça sentido.

Mas para as proporcionais, dá pra pensar em GOTV sim. Com a seguinte linha de trabalho: o GOTV, aqui, poderia ser aplicado no sentido de fazer com que eleitores de determinada causa se concentrassem em determinados candidatos, que fossem condizentes com suas propostas. Por exemplo: uma entidade ligada à questão dos deficientes aplicaria o GOTV para que seus simpatizantes se sentissem compelidos a votar - e também a arrancar votos - em um candidato que se encaixasse em sua proposta. Nesse caso, o "get out the vote" se aplicaria no sentido da mobilização que a expressão sugere, e não necessariamente no comparecer ou não às urnas.

No fim das contas, cabe ao GOTV a mesma ótica de outras técnicas de campanha aplicadas nos Estados Unidos: todas são muito válidas, desde que bem estudadas e condicionadas às realidades locais.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Congresso tenta reagir

Na manhã de hoje, o Congresso Nacional lançou a campanha "O Congresso faz parte da sua história". A iniciativa, capitaneada de maneira conjunta por Câmara e Senado, tem como objetivo tentar algo praticamente impossível: melhorar a imagem do Congresso junto à opinião pública.

A linha-mestra da campanha será mostrar aos brasileiros que realizações do Congresso estão presentes no dia-a-dia dos cidadãos. Para isso, as peças mostrarão depoimentos de pessoas beneficiadas por medidas como Lei Maria da Penha, Código Nacional de Trânsito, Código de Defesa do Consumidor e outros.

Numa breve analisada, dá pra dizer que, tecnicamente falando, o trabalho está bem feito. As peças estão bonitas, a mensagem é adequada e, por que não dizer, a causa é nobre. Mas acontece que não há campanha publicitária que consiga reverter milagres. Se a imagem do Congresso vai de mal a pior, não há ninguém mais responsável por isso do que os próprios parlamentares.

O presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP), em discurso realizado ontem, falou que há "perseguição" por parte dos grupos de mídia que querem "roubar" dos parlamentares seu legítimo posto de defensores do povo. Peraí, Sarney. Quando a mídia elenca denúncias sobre a gestão pública - e no caso em que as denúncias em questão são procedentes, bem apuradas, e etc - não há nada de confronto deliberado nem nada desse tipo. Claro, é indiscutível, que existe uma série de exageros por parte da mídia (e isso inclui desde os famigerados grandes grupos até a tal "mídia independente"), mas, via de regra, o que é falado por aí procede sim.

Utopicamente, anseio por outro efeito da campanha: que ela mostre para o cidadão o quanto o Congresso realmente é importante, e que isso faça com que os populares em geral se interessem em fazer com que as coisas mudem - e se interessem de verdade, não somente espalhando emails nem entrando me comunidades no Orkut.

Veja abaixo um dos vídeos da campanha. No site oficial tem mais coisa.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Internet nas campanhas eleitorais

O site IDG Now! traz hoje uma interessante entrevista com a deputada Manuela D'Ávila (PCdoB-RS). Na pauta, o uso da internet nas campanhas eleitorais.

O assunto tem aparecido com mais frequência no noticiário desde o início do mês, quando o também comunista Flávio Dino (MA) apresentou projeto para a liberação da internet nas campanhas. “Sem internet é impossível fazer campanha. A internet é uma praça virtual da pós-modernidade. Não há sentido a legislação continuar neste obscurantismo”, disse Dino ao G1, ao explicar o seu projeto.

Acho que é consenso o fato de que precisa-se ampliar o uso da internet nas campanhas eleitorais brasileiras. O problema - e é aí que mora a aprovação ou não do tema - é a regulamentação da rede. A internet, feliz ou infelizmente, é vista como terra de ninguém e desprovida de um controle oficial. Conciliar isso com o corretamente rígido sistema eleitoral brasileiro, e suas regras bem ditadas para as campanhas, é um problema.

Mas acredito que o posicionamento mais danoso que o Brasil poderia adotar quanto a isso é simplesmente o virar as costas e admitir sua incompetência para gerenciar a questão. Acho - e aí é um palpite de quem está de fora, mas não é tão absurdo assim - que as experiências de outros países estão aí para serem aprendidas. O caso de Obama nos EUA é o mais emblemático. Além dele, certamente em outras nações há um bom mecanismo para uso e controle da internet nas campanhas eleitorais. Por que não estudar o que está dando certo fora e aplicar para a nossa realidade?

Em tempo: a bancada do PCdoB precisa se afinar quanto a esse tema. No podcast citado acima, Manuela D'Ávila cita, além da propaganda, a intenção de estimular a arrecadação de recursos pela internet; já Flávio Dino foi autor de proposta que sugeriu o financiamento público das campanhas. Como já disse aqui anteriormente, fico com a proposta da gaúcha: a arrecadação pela internet, além de transparente, é um baita estímulo para que os cidadãos se sintam mais interessados em participar do processo eleitoral como um todo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ciro governador de São Paulo: um plano mirabolante

A Folha traz hoje uma notícia que já vem circulando nos últimos dias e que, aparentemente, tem ganhado força: a possibilidade de Ciro Gomes, deputado federal pelo PSB do Ceará, ser candidato a governador de São Paulo nas eleições do ano que vem. A medida, segundo a Folha, serviria para unir o bloco governista em São Paulo - ainda que isso representasse uma não-candidatura do PT - e, de quebra, fazer com que o PSDB não tivesse vida tão fácil assim na tentativa de fazer o sucessor de José Serra.

A hipótese é bem curiosa, e pode ser analisada de diferentes pontos de vista. A eles:

- PT: ter que abrir mão de disputar o governo do maior estado do Brasil - e berço do partido - seria um belo tapa na cara do PT. O partido ficou fragilizado em São Paulo após agressivas derrotas nas últimas eleições. Em 2002, mesmo com Lula tendo sido eleito presidente, Genoino fez apenas figuração no segundo turno contra Geraldo Alckmin; em 2004, Marta Suplicy não conseguiu ser reeleita prefeita da capital; em 2006, Lula perdeu para Alckmin em São Paulo na disputa presidencial e, na corrida ao governo, Serra venceu no primeiro turno; e em 2008, Marta teve uma candidatura decadente e, no segundo turno, mal ofereceu resistência a Gilberto Kassab na disputa pela prefeitura paulistana. Nomes que, anos atrás, figurariam como candidatos naturais do PT passam por fragilidades eleitorais ou foram vítimas de escândalos, como a própria Marta Suplicy e também José Genoino, Antonio Palocci, João Paulo Cunha e outros. Sem esquecer de Paulo Skaf, presidente da Fiesp e que aparecia como possível nome do PSB na disputa pelo governo, mas cujo nome foi sensivelmente debilitado após a deflagração da operação Castelo de Areia da Polícia Federal.

Por outro lado, o PT, talvez já sabendo que não tenha condições de incomodar a supremacia tucana em São Paulo, acabe por agir de maneira inteligente por não investir em uma briga já perdida. Mas não deixa de ser irônica a situação.

- Eleição presidencial: há quem diga que a indicação de Ciro para a disputa do governo paulista seria uma tática do PT para tirá-lo da corrida à Presidência da República. Não vejo sentido nisso. Afinal, uma possível candidatura Ciro só teria força se ela fosse a oficial do governo (o que não ocorrerá, a não ser que a saúde de Dilma Rousseff piore consideravelmente) ou da oposição - outra possibilidade impossível. Fora disso, o Brasil já dá mostras que, para 2010, irá repetir a polarização PT-PSDB que tem vivenciado nas disputas presidenciais desde 1994. Não há sentido em crer que uma candidatura de outra sigla seria incômoda o suficiente para que o PT pense em manobras para realocá-la. Mas é saudável ver o PT se dispondo em abrir mão de uma candidatura majoritária para fortalecer sua base. O partido sempre foi acusado de centralizador, talvez assim sinalize positivamente que está mais apto ao diálogo.

- Sucesso eleitoral?: até segunda ordem, o governador que sentará na cadeira principal do Palácio dos Bandeirantes em 2011 será um tucano. É bem difícil imaginar que o PSDB perca a supremacia que mantém desde 1994 no estado. Aliás, a maior ameaça para o partido hoje, ao meu ver, não está em seus opositores clássicos, e sim no DEM, mais precisamente na figura de Gilberto Kassab (eu apostaria em um ótimo desempenho de Kassab se ele se aventurasse a disputar o governo estadual). O PT está fraco, pelos motivos citados acima, e não há outra corrente com força suficiente para entrar no jogo.

Além disso, gostaria de saber como o paulista reagiria à candidatura de um "forasteiro" nas eleições estaduais. Veja bem que não se trata de uma questão "xenófoba" ou coisa parecida - afinal, se pensarmos de maneira legalista, Ciro é paulista, já que nasceu em Pindamonhangaba, a mesma cidade de Geraldo Alckmin. Mas ele pertence à política do Ceará e sua chegada à São Paulo teria tudo para ser interpretada pelo eleitor como um oportunismo dos mais descarados. Não é a mesma situação, por exemplo, de Luiza Erundina, nordestina de nascimento mas radicada em São Paulo e vivente da política do estado. Em gente com essas características o paulista vota e sem problemas. Questiono é a reação a quem chega ao estado unicamente para a disputa de uma eleição.

Se bem que depois da aprovação aos planos eleitorais de José Serra - que disputou e venceu a prefeitura da capital em 2004 nitidamente para ganhar tempo para 2006, quando foi eleito governador em primeiro turno -, talvez não seja mais o caso de bancar a "consciência eleitoral" do paulista.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

A culpa é nossa

Longa vida à democracia e à liberdade de opinião. Vida curta, curtíssima, à pouca informação e, principalmente, aos conceitos errôneos que se originam por causa dela.

Há poucos conceitos aos quais a situação se aplica tanto quanto aos famigerados Diretos Humanos.

Certamente o leitor já ouviu alguém maldizer os direitos humanos por aí. "Esse povo dos direitos humanos fica tomando conta de bandido, enquanto isso o cidadão de bem sofre"... não é assim? Isso quando não aparecem outros raciocínios do tipo "vai todo mundo tomar conta do bandido e ninguém se preocupa com a vítima...".

E é aí que entra a frase que abre o post. Se uma pessoa acha que "bandido tem tudo que morrer" (ou "bandido bom é bandido morto, na frase clássica"), até vá lá. É uma opinião - da qual discordo, que fique claro - mas não deixa de ser uma opinião. E a sociedade democrática tá aí para que ouçamos opiniões e interajamos com ela de acordo com o necessário.

O preocupante, nesse caso, é colocar os coitados dos direitos humanos como responsáveis pela "proteção ao bandido", de acordo com esse senso.

Tal raciocínio veio à tona ontem, quando a Anistia Internacional soltou um relatório sobre os direitos humanos em todo o planeta. Na parte relacionada ao Brasil, o analista da ONG foi direto ao ponto: "existe um conceito infeliz no Brasil que é que os direitos humanos só defendem bandidos".

Tim Cahill, o responsável por assuntos brasileiros da Anistia, foi além: o conceito de que só "bandidos" são beneficiados "é popularizado e utilizado por pessoas que têm interesse em mantê-lo", de acordo com reportagem do UOL.

Não entrarei nesse mérito. Não sei se tem gente que ganha com isso, nem cabe a mim julgar. Mas que já passou da hora desse conceito ser revertido, isso é verdade. E ninguém melhor pra dar esse passo inicial do que a mídia. Que tal falar que moradia, emprego, saneamento, alimentação - para bandidos e "cidadãos de bem" - são direitos humanos? Que tal ensinar isso na escola, que tal propagar a ideia de que os direitos humanos são algo que, na prática, todo mundo concorda?

Inclusive, a liberdade que um sujeito tem de falar que "bandido tem tudo que morrer" também está inclusa nos direitos humanos, só pra deixar claro...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Reforma? Deixa pra lá

Esqueçam o dito há pouco tempo nesse blog sobre a reforma política brasileira. Noticiário que circula hoje - tendo como principal referência o Blog do Josias - diz que líderes de quatro partidos que inicialmente aderiram ao projeto, PP, PTB, PSB e PR, resolveram voltar atrás e disseram que farão o possível para que os dois principais projetos da reforma, a lista fechada e o financiamento público, não avancem.

Em nome de uma suposta unidade da base, visando 2010, PT e PMDB aceitaram e decidiram também deixar de lado a proposta.

Como eu falei anteriormente, não via com bons olhos a reforma (nesses termos que foram apresentados). Acredito que a lista fechada permitirá uma "caciquização" dos partidos e o financiamento público inibirá a participação individual e não será tão eficaz assim para acabar com os lobbies. Mas, por outro lado, acho complicado ver que uma proposta que no mínimo traria discussão de alto nível foi derrubada por conveniências eleitorais.

Eleição única
Falando em eleições, o deputado Sandro Mabel (PR-GO) apresentou hoje um projeto curioso, como informa a Agência Brasil: a prorrogação de todos
os mandatos vigentes até 2012, para que assim o Brasil tenha uma única temporada eleitoral.

Mabel justifica sua medida com base nos altos custos que uma eleição representa. De fato, não é pouca grana. Há outra questão, porém, que eu considero primordial: com uma única temporada eleitoral, os governantes teriam mais solidez para trabalhar e não teriam que, ano sim, ano não, ficar com aquela pecha do "é ano de eleição". 

Por outro lado, nem dá para a gente se animar muito: na mesma matéria da Agência Brasil está fala de Ricardo Barros (PP-PR), que praticamente enterra a ideia. “Não vejo consenso sobre isso e acho que isso não vai ser aprovado”, falou o deputado.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Vitória de Kassab: triunfo do “agendamento”

Ontem, fui à Universidade Anhembi-Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, para assistir a um evento dos mais interessantes: a apresentação das estratégias de assessoria de imprensa que a agência Fator F usou durante a campanha de Gilberto Kassab nas eleições municipais do ano passado. A apresentação foi conduzida pelos diretores da Fator F Roger Ferreira e Emerson Figueiredo.


Contextualizando: Kassab começou a corrida eleitoral com dois referenciais muito fortes sobre si, um positivo e um negativo. O positivo era o de ser o então prefeito da cidade; e o negativo era ser um nome desconhecido de grande parte do eleitorado, já que ele assumiu a chefia do executivo quando o titular do cargo, José Serra, iniciou sua bem-sucedida trajetória ao governo do estado.

Com base nessas realidades, a meta desenhada pela equipe de comunicação era pautar a mídia. A necessidade disso se explicava pela situação eleitoral: Kassab tinha como principais adversários Marta Suplicy e Geraldo Alckmin, dois peso-pesadíssimos da política paulista. Se não fosse feito um trabalho consistente com a mídia, Kassab sumiria do dia-a-dia da cobertura eleitoral. Capas de jornais e destaques de internet iriam para tudo o que fosse relacionado a Marta e Alckmin, e a candidatura Kassab seria relegada aos rodapés das páginas, junto com as dos nanicos.

Para pautar a imprensa, a assessoria da campanha se baseou em dois argumentos: o primeiro era o fato de Kassab ser o atual prefeito da cidade, e por isso ter consigo uma necessidade latente de cobertura midiática (afinal, com eleição ou não, a cidade precisa saber o que o seu prefeito está sabendo). A outra era a boa costura política que trouxe o PMDB à candidatura de Kassab e com isso deu à campanha tempo de horário eleitoral superior aos candidatos. Além de tudo, era um prefeito que tinha uma boa avaliação e se baseava em bandeiras como a Lei Cidade Limpa, referendada pela maioria dos paulistanos.

De posse desses argumentos, os assessores “martelavam” com os jornalistas o fato de que o candidato Kassab não poderia ser desprezado. Dia-a-dia, os profissionais se esforçaram para imprimir a mensagem que dizia que o candidato “intruso”, a ser ignorado, era Geraldo Alckmin, e não Gilberto Kassab; afinal, todas as campanhas políticas (ao menos boa parte delas) se baseia no duelo situação versus oposição. E quem pode representar melhor a situação do que o próprio prefeito?

Tal tática não tomou corpo com ataques à candidatura de Alckmin. Pelo contrário: mais do que tentar derrubar o tucano, a principal meta era ignorá-lo. Deixá-lo de fora da disputa. O que a campanha buscava era uma polarização com a candidatura de Marta Suplicy – assim, fortaleceria o já citado debate situação x oposição e jogaria a disputa eleitoral para um julgamento da qualidade da administração vigente, acima de qualquer coisa.

Os ataques à candidatura Marta se basearam nos “25 desafios”, série de perguntas que Kassab lançava aos jornalistas cujo mote era promover uma comparação entre sua gestão e a da petista (mais uma vez, focando o debate na aprovação do governo, baseado nos bons números que vinham das pesquisas). Ao enfatizar esses ataques, a campanha acabou por despertar reações adversas da candidatura do PT, que também passou a atacar Kassab – que era o que a campanha do prefeito mais desejava, por trazer a ele os holofotes. Enquanto isso, Geraldo Alckmin era deixado de lado.

Também foi abordada na apresentação a questão de José Serra, que, embora institucionalmente estivesse ao lado de Geraldo Alckmin, sempre desejou uma vitória de Kassab. Roger Ferreira e Emerson Figueiredo enfatizaram que, claro, não se pode desprezar o peso de um governador numa corrida; mas afirmaram que a relevância de Serra na campanha se deu mais por questões políticas do que puramente eleitorais. O paulistano não votou em Kassab por ele ter o apoio de Serra. Votou porque estava satisfeito com a sua gestão, e desejava a continuidade desse trabalho.

Em resumo, a vitória de Kassab, em termos de assessoria de imprensa (claro que eleição se vence ou se perde por inúmeros fatores, os apresentadores não sugeriram que essa é a única explicação para a vitória), se deveu pelo sucesso do agendamento que a campanha do prefeito conseguiu. Mais do que destacar qualidades ou realizações do prefeito, a ambição da equipe era fazer com que Kassab se tornasse pauta, se tornasse visível – em suma, estivesse inserido na agenda da disputa eleitoral paulistana. Com isso, era a vez da boa aprovação do governo se converter em votos (o que historicamente acontece) e administrar as questões do dia-a-dia.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Marca, um emblema derradeiro

O escândalo da vez do Congresso está na disputa pela relatoria do processo de cassação do deputado Edmar Moreira (sem partido-MG). O cargo pertencia a Sérgio Moraes (PTB-RS), que lutou o quanto pôde para mantê-lo; agora, a vaga está com Nazareno Fonteles (PT-PI), mas Moraes pretende acionar até o Supremo Tribunal Federal para que ele não perca a condição.

Seria - e é - apenas mais um bate-boca rotineiro da Câmara dos Deputados. Mas ele explica algumas coisas, elementos que não podem deixar de ser analisados quando vimos como a opinião pública se porta em relação às questões da política.

Em primeiro lugar, analisemos quem é o deputado que originou toda a crise. É o mineiro Edmar Moreira. Pergunte para seu vizinho, para o porteiro do prédio, para um colega de escola, se ele sabe quem é Edmar Moreira. Muito provavelmente, a resposta será negativa. Agora, inverta o questionamento - indague-o sobre o deputado do castelo. Não tenha dúvidas: seu interlocutor saberá de quem se trata.

Edmar Moreira virou "celebridade" por causa do castelo que possui em Minas Gerais e não declarou à Receita Federal. É por isso que está sendo investigado pela Câmara, certo? Errado! O processo que corre contra ele se baseia no mau uso que ele faz da famigerada verba indenizatória - Moreira é dono de uma empresa de segurança e, segundo a denúncia, destinava a essa empresa parte do orçamento de que dispunha.

Acontece que é o castelo que entrou para a história. É essa a imagem que entrou para o dia-a-dia da opinião pública, é isso que aparecerá nas retrospectivas de 2009. O caso nos faz lembrar do ocorrido em 2001 (ou 2002? Se alguém precisar a data, agradeço), quando Roseana Sarney despontava como uma das favoritas para a eleição presidencial mas viu seus planos irem por água abaixo quando uma montanha de dólares irregulares foi apreendida pela Polícia Federal. Ou seja: já havia outras histórias cabeludas por trás dela, mas foi só com a imagem que seu prestígio - e sua candidatura - tiveram um golpe derradeiro>

O outro aspecto a ser destacado não se refere a Edmar Moreira, e sim ao outro sujeito do escândalo atual, Sérgio Moraes. Este entrou para o cotidiano do noticiário (alguém de fora do RS já tinha ouvido falar dele? Eu admito que não) não exatamente pela estranha postura de defender Edmar Moreira, e sim por dizer que estava "se lixando" para a opinião pública.

Ao falar essa expressão, Moraes, mais do que "desrespeitar" a tal da opinião pública, fez algo muito pior para sua carreira: aliou sua personalidade a um bordão, a uma gag que poderá ser repetida por seus adversários sempre que possível. Não importa o que fizer daqui por diante: Moraes sempre será o cara que "se lixa" para a opinião pública.

Lembro de post que escrevi esses dias, sobre Lula e a marolinha. O presidente fez bobagem ao menosprezar a crise, mas bobagem ainda maior a dar à sua opinião uma frase depreciativa que acabou por servir de munição para seus adversários.

Mais um exemplo? Vamos lá. Em 2005, Roberto Jefferson foi à mídia para denunciar um suposto esquema para compra de congressistas. A denúncia fez barulho, acabou por derrubar muita gente do governo e dificultar a reeleição de Lula. Pergunto: será que teria esse mesmo impacto se Jefferson, bom de mídia que é, não tivesse dado a ela o sonoro, marcante e eficaz nome de "mensalão"?

Moral da história: é preciso ter um baita cuidado com as marcas. As que se cria e as que se recebe.