quinta-feira, 27 de julho de 2017

Resumo/análise do artigo "A coordenação federativa no Brasil: a experiência no período FHC e os desafios do governo Lula"

Texto de 2005, de autoria de Fernando Luiz Abrucio. Link para o artigo aqui.

RESUMO

Introdução
O debate sobre a questão federativa no Brasil costuma ser resumido à questão estados versus União e descentralização versus centralização. É preciso ir além disso. O foco deve estar na cooperação intergovernamental, algo ainda pouco feito nos dias "atuais". Cabe destacar que o conceito de cooperação intergovernamental adotado é o de "formas de integração, compartilhamento e decisão conjunta presentes nas federações".

Essa necessidade de cooperação ganhou relevância nos últimos anos por conta do aumento da complexidade nas relações intergovernamentais, geradas, entre outros, pelos seguintes fatores: expansão do "welfare state", com redução de recursos - necessidade de fazer mais com menos; mais necessidade de conceder autonomia a regiões em que o componente étnico é prioritário; ampliação da relação dos governos com diferentes atores, ainda que fora do setor público - quadro que motiva o fortalecimento dos entes, por conta de se ampliar a capacidade de negociação.

OCDE, em 1997, disse que não se trata de simplesmente centralizar ou descentralizar. A boa gestão caminha nas duas mãos.

O significado da cooperação federativa
A temática da descentralização ganhou força nos últimos 30 anos, pelas questões já mencionadas. Busca-se uma estrutura matricial que funcione de forma adequada - se isso não ocorrer, tensões vão persistir. Cabe destacar que a heterogeneidade que motiva a federação não é necessariamente uma questão étnica ou cultural - largas distâncias ou outros limitadores físicos podem ser considerados (e esse é o caso brasileiro).

Um método para fazer as coisas corretamente é estruturar bem os "checks and balances". São mecanismos que "restringem o poder da maioria". Isso também serve para conter tendências separatistas e regular a (saudável e desejável) competição entre os entes federativos. "O fato é que a soberania compartilhada só pode ser mantida ao longo do tempo caso estabeleça-se uma relação de equilíbrio entre a autonomia dos pactuantes e sua interdependência".

A necessidade da estruturação desse sistema se reforça com a complexidade do mundo atual, e sua transposição de fronteiras e problemas interconectados. "Mais do que um simples cabo de guerra, as relações intergovernamentais requerem uma complexa mistura de competição, coopera- ção e acomodação” (PIERSON, 1995).

É interessante ter em conta o conceito de armadilha da decisão conjunta - quadro que se identifica quando o processo é tão democrático que se torna engessado, pouco móvel, pouco aberto a inovações e traz dificuldade de responsabilizações.

Outro conceito interessante é o "race to the bottom" americano, em que estados diminuem sua carga de serviços sociais de forma a terem menor carga tributária e, em consequência, atraírem mais impostos.

Mecanismos para regular a competição federativa: criar regras que regulem o compartilhamento de tarefas; fomentar os fóruns federativos; criar cultura de respeito mútuo.

A redemocratização e o novo federalismo brasileiro

Brasil viveu, desde a república, ondas de vai e volta no sentido de fortalecimento da União e dos estados. Na República Velha, tínhamos união fraca e estados fortes; Getúlio Vargas, especialmente no Estado Novo, inverteu o quadro; entre 46-64, houve um equilíbrio; ditadura foi, também, centralizadora.

Na época da Constituinte (e mesmo antes), descentralização estava entre as palavras de ordem. Como governadores estiveram entre as figuras de frente das Diretas, as demandas dos estados ganharam muita relevância. Havia, ali, tanto propósitos nobres quanto interesses que oligarcas queriam ver preservados. Com tudo isso, a cooperação intergovernamental ficou em segundo plano. Ficamos, então, entre 1982 e 1994, com um "federalismo estadualista, não-cooperativo e muitas vezes predatório". Isso se materializou, entre outros fatores, com uma forte descentralização tributária e com a possibilidade de estados apresentarem ADINs.

Um ponto interessante que o autor destaca é que, segundo ele, a descentralização foi um estímulo para que os partidos de esquerda passassem a ter mais sucesso eleitoral. Isso porque foram fortalecidas as instâncias locais - de regulação, de acompanhamento de políticas públicas e outros mecanismos - que têm líderes vinculados à esquerda.

O autor apresenta que a descentralização não saneou todos os problemas:

"As conquistas da descentralização não apagam os problemas dos governos locais brasileiros. Em especial, cinco são as questões que colocam obstáculos ao bom desempenho dos municípios do país: a desigualdade de condições econômicas e administrativas; o discurso do “municipalismo autárquico”; a “metropolização” acelerada; os resquícios ainda existentes tanto de uma cultura política como de instituições que dificultam a accountability democrática e o padrão de relações intergovernamentais."

Note-se que entre os efeitos descritos estão dois que entram em contradição entre si: o "municipalismo autárquico" e a "metropolização acelerada". O primeiro preconiza que os municípios são entes soberanos e devem ser vistos como tal. Já o segundo fala da evolução dos problemas urbanos, algo que, em muitos casos, acarreta na transposição de fronteiras.

Mais sobre o municipalismo autárquico:  "o bom andamento da descentralização no Brasil foi prejudicado pelo municipalismo autárquico, visão que prega a idéia de que os governos locais poderiam sozinhos resolver todos os dilemas de ação coletiva colocados às suas populações".

O autor acrescenta que, além disso, há poucos estímulos para os consórcios.

Cabe destacar que, além de tudo, nós temos no Brasil desde a CF-88 regiões metropolitanas mais frágeis do que as que existiam à época do regime militar. E, sim, isso é mais um reflexo do "municipalismo autárquico".

Em suma, "O principal problema da descentralização ao longo da redemocratização foi a conformação de um federalismo compartimentalizado, em que cada nível de governo procurava encontrar o seu papel específico e não havia incentivos para o compartilhamento de tarefas e a atuação consorciada".

Ou seja, a cooperação fica em segundo plano.

Federalismo sob FHC: principais mudanças

Para desenvolver essa linha argumentativa, o autor considera que os efeitos da gestão FHC tiveram início desde a vigência da "era do Real" - algo que se inicia bem antes da implantação da moeda, e que diz respeito a outras decisões econômicas, além de fatores externos ao poder público brasileiro. Caracterizam essa época o aumento de investimentos estrangeiros, o efeito positivo de algumas decisões tomadas nas gestões Collor e FHC, o apoio de diversos segmentos a FHC, etc.

Com isso, a "era do Real", por todos os seus desdobramentos, teve grande impacto na descentralização administrativa brasileira.

Entre os fatores que explicam isso: o fim da hiperinflação, que regulamentou melhor as transferências; a crise nos bancos estaduais; o excesso do gasto com pessoal, que pesa muito nas contas estaduais.

Coordenação federativa na era FHC: avanços, dilemas e problemas

FHC tomou sete medidas para gerenciar a descentralização e coordenar a relação entre os diferentes entes federativos. Entre elas: aliar isso a objetivos de reformulação do Estado; condicionar repasse de recursos à fiscalização da sociedade; mudar a Constituição e criar leis para tal.

Mas, acima de tudo, "o tema central da agenda federativa de FHC foi a questão financeiro-fiscal". As já faladas crise dos bancos e legitimidade do governo FHC, juntas, abriram caminho para que governo reestruturasse o sistema bancário.

A Lei de Responsabilidade Fiscal foi outra ação neste sentido. Ela disciplinou os gastos públicos e, ao criar regras a serem seguidas por todos os entes federativos, criou normas que vinham "de cima pra baixo". Porém, falhou ao não fomentar as discussões intergovernamentais.

Na área social, a gestão do SUS e o Fundeb foram dois exemplos positivos.

Já nas políticas urbanas foi onde a gestão FHC apresentou suas principais falhas. A metropolização cresceu, a CF continha amarras para a cooperação intergovernamental e o governo FHC não evoluiu, ao não apresentar a criação do Ministério das Cidades e nem propor outras alternativas.

De todo modo, a atuação de FHC foi, no todo, positiva. Principalmente por combater o modelo predatório vinculado ao estadualismo. Além disso, outro mérito foi a implantação de mecanismos diretos de transferência de renda, o que fortaleceu o protagonismo federal.

Os desafios do governo Lula

- oito problemas que permanecem como desafios a serem superados:

  • Mudar o ICMS para neutralizar efeitos da guerra fiscal
  • Fortalecer mecanismos de avaliação de políticas públicas
  • Fortalecer a capacitação de gestores locais e municipais
  • Montagem de uma ordem regulatória das políticas urbanas
  • Ampliação e reforço dos mecanismos coordenadores nas áreas de educação e saúde
  • Aprimoramento das políticas de transferência de renda, vinculando repasses a programas de capacitação
  • Adoção de políticas de desenvolvimento que combatam desigualdades regionais
  • Fortalecimento dos fóruns federativos



segunda-feira, 17 de julho de 2017

Roteiro de viagem - Serra Gaúcha, Porto Alegre e Foz do Iguaçu - julho de 2017

Mais um texto feito para ajudar gente que procura dicas de viagem no Google. Espero ajudar.

Minha viagem foi para a Serra Gaúcha (quatro noites em Bento Gonçalves e três em Gramado), Porto Alegre (uma noite) e Foz do Iguaçu (três noites em Foz e duas em Puerto Iguazu, o lado argentino das cataratas). Um total, portanto, de 13 noites.

Antes de entrar em detalhes, cabe dizer que foi uma viagem MUITO bacana. E, em termos logísticos, fácil de se fazer. Há voos diretos de Brasília (onde moro) a Porto Alegre, o ponto de partida para a Serra Gaúcha; também há ligação direta entre Porto Alegre e Foz, um voo rápido e tranquilo; de Foz para Brasília eu não utilizei um voo direto, mas fiz uma escala rápida em Curitiba. A cidade se liga de forma direta a outros destinos importantes, como São Paulo e Rio de Janeiro.

Outro comentário geral antes dos pormenores: tanto no Rio Grande do Sul quanto em Foz eu estive de carro alugado (no RS pela Localiza, em Foz pela Movida). Como estava em um grupo de cinco pessoas no RS, não há a menor dúvida de que essa foi uma opção, além de confortável, mais econômica - pagar trânsferes individuais, táxis e ônibus seria algo mais caro. Já em Foz, embora não possa afirmar com certeza de que financeiramente tenha sido uma boa (até acho que sim), o que se ganhou em comodidade foi fundamental.

Bento Gonçalves
O trajeto de carro entre o aeroporto de Porto Alegre e Bento Gonçalves é relativamente rápido e tranquilo - ainda que a estrada seja, em grande parte, de pista simples.

Fiquei lá no hotel Mont Blanc. É um hotel de nível mediano. Tem como ponto fraco os quartos (sem armários, sem cofres e com um banheiro apertado e feio) e como ponto forte a localização e o ótimo café da manhã. Dispõe também de uma equipe atenciosa. O estacionamento é gratuito.

Os passeios realizados na cidade foram os seguintes:

- Vale do Rio das Antas: fiz um circuito inspirado neste post do blog Café Viagem. Dediquei cerca de três horas ao roteiro. Fui direto ao Belvedere do Espigão e depois fui parando nos pontos do sentido Bento Gonçalves da estrada: Capitano Brutus (que infelizmente estava fechado), Casa Bucco, Tenda do Teco e Sud Brau. Os pontos altos foram o Espigão e sua vista maravilhosa e a ótima (e gratuita) visita à fábrica da Sud Brau - feita sem necessidade de agendamento. Por questão de tempo, não fui às vinícolas mencionadas no Café Viagem. Ah, sim: somente depois de retornar do Vale das Antas é que ouvi falar do Restaurante Giratório Mascaron, que parece ser divertido e está a apenas 8 km do Belvedere do Espigão, ponto inicial/final do passeio.

- Caminhos de Pedra: percorri de carro o circuito dos Caminhos de Pedra (alguns links: aqui e aqui). Minhas paradas - todas simpáticas - foram Doceria Pedrebon, Salumeria Caminhos de Pedra, Casa na Árvore, Casa do Tomate, Casa da Ovelha e Casa das Cucas. Com exceção da Casa da Ovelha (ingressos a R$ 50), todas as outras têm entrada franca. Recomendo todas as etapas. Faço menção específica à Casa na Árvore, que não aparece em muitas rotas, tem uma fachada um tanto intimidadora, mas é muito divertida! Ah, sim: é um percurso a ser feito de carro. Nem pense em ir a pé ou de transporte coletivo. Há quem faça também de bicicleta.

- Vinícolas: fui à Casa Valduga, à Don Laurindo e à Lídio Carraro. E tive experiências completamente distintas em cada uma delas. A visita à Valduga tem uma pegada de excursão; no meu dia, por exemplo, estava em um grupo com cerca de 30 pessoas. O guia foi muito atencioso e simpático, mas não dá pra fazer milagre com um grupo tão grande. Custa R$ 40, pagos na hora. Já a Don Laurindo foi a mais fraca das visitas. Recebemos uma explicação rápida - e com má vontade - e depois fomos deixados na sala com degustação livre dos vinhos. O preço é R$ 30, abatidos em compras na loja. Já a Lídio Carraro... foi simplesmente a visitação mais legal que fiz a uma vinícola na vida. Foi diferente de todas as outras: não percorri corredores com barris nem plantações. O processo é todo feito em uma mesa, em que a funcionária conta a história da vinícola e fala sobre os vinhos. Tudo muito interessante e que cria aquela vontade de beber todos os vinhos que se vê pela frente. Preço de R$ 25, conversíveis em compras.

Sobre os restaurantes em Bento Gonçalves, destaco o Canta Maria Expresso, uma espécie de 'fast-food regional', gostoso e com preços justos; o excelente Pizza Entre Vinhos, que proporciona uma verdadeira imersão nos vinhos da região; o ótimo Cobo Wine Bar, especializado nos vinhos locais mas que também tem pratos ótimos; e o Maria Valduga, na vinícola Casa Valduga, onde se come muito - tanto em quantidade quanto em qualidade. Fui ainda no Cabernet, que fica no hotel Dall'Onder. Não é ruim, mas não chega a ser grande coisa.

Um comentário importante sobre o deslocamento em Bento Gonçalves. O turismo lá é, como se sabe, todo pautado nos vinhos. E reparei que muitos, mas muitos mesmo!, turistas bebem e dirigem sem o menor pudor. Não vi nenhuma fiscalização por lá nos dias em que estive na cidade. Eu preferi fazer as coisas certinhas e, quando estava no volante, não bebi; já quando ia beber (por exemplo, na visita às vinícolas e na Entre Vinhos), fui de táxi ou Uber. E não foram experiências das mais confortáveis... pegar um táxi/Uber no centro de Bento Gonçalves é fácil; o problema é a volta. Há poucos carros disponíveis nas regiões mais distantes, como as vinícolas. O deslocamento entre a Don Laurindo e a Lídio Carraro, que é de menos de 5 km, acabou levando mais de meia hora, se somado o tempo de espera do Uber.

Pra fechar as informações sobre a cidade, um registro fora do circuito turístico habitual. Nós tínhamos a intenção de correr em alguns dos dias em que estávamos lá. Pedimos indicação no hotel e a funcionária sugeriu a pista de corrida do SESI, que fica na rua Miguel Gaieski. Valeu muito a pena!

Gramado
A viagem entre Bento Gonçalves e Gramado é até rápida, mas a estrada não é das melhores. Principalmente nos trechos iniciais, entre Bento e Caxias do Sul. Não tivemos problemas, mas a dica que deixo é fazer o percurso de dia, como fizemos.

No caminho, paramos em Nova Petrópolis - cidade que já seria uma etapa natural do trajeto. Lá, fizemos os dois passeios turísticos básicos, o Labirinto Verde e o Parque do Imigrante. Coisa rápida e divertida (especialmente o parque). Vale encaixar no trajeto. Na cidade, tivemos uma refeição simples, rápida e barata no Bistrô 289.

O hotel em Gramado foi a Pousada Solar da Serra, uma ótima pedida. Localização perfeita, estacionamento gratuito, café da manhã bom, equipe pra lá de educada e com estacionamento incluído.

Fiz os passeios básicos: Mini Mundo, Aldeia do Papai Noel (ambos com ingressos comprados na hora; a Aldeia só aceita pagamento em dinheiro) e o Parque do Caracol, em Canela. Todos bem bacanas. Além deles, fui ao Snowland, em Gramado. Bem, avaliar a experiência no Snowland não é algo para poucas palavras... o parque é lindo, a experiência na neve é bem bacana e o tubing (descida de boia pelo tobogã de neve) é divertida. De resto, o parque peca feio pela estrutura. Em uma única palavra: FILAS!!! Há fila para tudo no Snowland. Para entrar no parque (mesmo para quem comprou pela internet, o que foi meu caso), para patinar no gelo, para adentrar à Montanha de Neve (o ápice do passeio). No fim das contas, posso dizer que passei em filas a maior parte do tempo em que estive no Snowland. Não sei se voltaria lá. Para quem não tem crianças, é um passeio beeeeeem questionável.

Falando agora em restaurantes. Comi um ótimo churrasco no El Cordero e um fondue satisfatório no St. Hauberts. Mas o ponto alto da cidade foi o jantar na Cantina de Vicolos. Na boa, talvez a massa ao molho de fondue com quatro queijos tenha sido a melhor que comi na vida. Absurdamente boa. Imperdível!

Porto Alegre
Como não conhecia direito a capital gaúcha, optei por passar um fim de semana lá antes de continuar a viagem a Foz do Iguaçu. Fiquei lá no hotel Ibis Moinhos de Vento, que é bem localizado e segue o bom padrão da rede Ibis.

Lá, visitei a Arena Grêmio. O estádio é perto do aeroporto e tem estacionamento (pago e seguro) em sua parte interna. A visita custa R$ 32 (se incluir o museu, fica R$ 40), com uma hora de duração. É um passeio bacana, com acesso a vestiários, gramados, camarotes e diferentes lances de arquibancada. Apesar de ser voltado a torcedores do time, não há o menor constrangimento para quem, como eu, não é gremista. É possível comprar o ingresso com antecipação, mas eu comprei na hora, sem o menor problema.

Fui ao Mercado Público de Porto Alegre, na região central da cidade. Foi uma experiência com altos e baixos. Os baixos são pelo espaço em si, que é feio, malcheiroso e as barracas vendem poucas coisas interessantes a quem está de passagem - não há muitas opções de petiscos. Já o alto foi pelo ótimo restaurante Naval, com porções de qualidade e chopp caprichado.

De lá, fui a pé até a Usina do Gasômetro, famoso espaço cultural da cidade. Dei sorte de no dia estar havendo um festival em comemoração ao dia do rock, com uma série de shows, bancas de cerveja artesanal e barracas de comida. Bem bacana. A sugestão é ver a programação para descobrir o que rolará de bom, pra ver se vale a pena a visita.

No dia seguinte, fui ao Brique da Redenção. Um ambiente divertido, com uma profusão de barracas de tudo quanto é coisa, artistas, diversas comidas... enfim, um clima ótimo. Depois tomei um chopp e comi uns petiscos no Armazém da Redenção.

Outra coisa que fiz na cidade foi correr no Parque Moinhos de Vento, o popular Parcão. Um bom lugar para a corrida.

Foz do Iguaçu /  Puerto Iguazu
Agora falarei sobre Foz. Modéstia à parte, acho que esse roteiro de quatro dias em Foz do Iguaçu que montei está bem redondinho. Tanto que descreverei abaixo dia por dia. Lembro que a primeira noite não entra nessa conta, já que serviu apenas para chegada de Porto Alegre, instalação no hotel (o Ibis do centro da cidade - bem recomendado!) e jantar no Taj, um rodízio japonês de nível médio; como o preço não era dos mais salgados, até valeu a pena.

Dia 1 - Corrida na Vila A e Itaipu

Começamos o dia correndo, no Gramadão da Vila A. Um lugar de nível, digamos, médio. Não é perto do centro da cidade (coisa de 15 minutos de carro), a pista de corrida tem subidas que dificultam a atividade e o parque em si não é dos mais bonitos. Mas serviu para o que estávamos procurando.

À tarde, fui para Itaipu - e tive uma visita ótima! A usina tem uma série de passeios. Escolhi dois: o Circuito Especial (que é a visita à usina propriamente dita) e o Porto Kattamaran. Iniciei o Circuito Especial às 13h. O tour tem 2h30 de duração e contempla um passeio pelo lado externo da usina e depois pela parte de dentro, com direito a ver as turbinas e a sala de controle. Já o Porto Kattamaran é uma experiência bem diferente - trata-se de uma volta de barco pela barragem formada pelo Rio Paraná. Fomos às 17h e pegamos o por do sol, e uma paisagem espetacular. Sobre Itaipu, só tenho elogios a fazer. Os passeios são ótimos e o lugar é muito, mas MUITO bem estruturado. É um passeio redondinho do começo ao fim. A boa experiência começa pelo site oficial do turismo de Itaipu, que expõe todos os passeios e coloca até uma linhazinha do tempo para que o visitante se organize melhor. Chegando lá na usina, basta ir ao guichê e informar o número do pedido - não é necessário imprimir. Todos os passeios têm como ponto de partida o centro de visitantes da usina, um espaço muito bem estruturado, com lanchonete/restaurante, loja de souvenirs, banheiros e até caixas automáticos.

Cabe registrar que Itaipu é distante do centro de Foz, coisa de uns 20 minutos de carro. Não sei como funciona a ida de transporte coletivo, mas acredito que deve ser bem demorada.

Saindo de lá, passamos ao lado da Mesquita da cidade e nos esbaldamos na doceria árabe Albayan, logo ao lado.

Fechamos o dia jantando no Capitão Bar, ao lado do Ibis. O ambiente é muito legal, já a comida que pedimos não foi das melhores...

Dia 2 - Cataratas brasileiras

Fomos do Ibis até o parque nacional do Iguaçu de carro em cerca de 20 minutos. O percurso é bem tranquilo. Muitas pessoas combinam o parque das cataratas com o Parque das Aves, que fica em frente. Nós não fizemos isso; até estava em nossos planos, mas nosso passeio adotou outro rumo (que será explicado mais adiante).

Ao se chegar nas imediações do parque, começa aquele tumulto típico de lugares turísticos, com uma profusão de ônibus, carros andando devagar e gente oferecendo estacionamento. Optamos por parar no estacionamento oficial do parque, que custou R$ 22 pela diária. Não é um preço dos mais baratos, mas é mais seguro e mais próximo da entrada e saída do parque.

A primeira impressão que tivemos do parque foi negativa. Isso porque havia um mar de gente do lado de fora - e chegamos cedo, por volta de 9h30 - e filas se formavam de modo descontrolado. Poucos funcionários organizavam a espera e orientavam os visitantes. Ouvimos gente reclamando que havia pegado uma fila imensa à toa, por não ter recebido a orientação devida. Nós quase fizemos isso: compramos os ingressos no site oficial do parque e, ao chegarmos no meio dessa confusão, nos colocamos na fila de quem havia comprado pela internet. Só com um tempo na fila nos ligamos de que não precisaríamos ter esperado, já que a confirmação do ingresso que vinha no email (e estava no meu celular) continha um QR Code. Com isso, pudemos sair da fila dos ingressos e... ir para outra fila, a dos ônibus. Pelo menos já estávamos dentro do parque.

O esquema dos ônibus é a lógica principal do parque. São quatro paradas. As duas primeiras são as do Poço Preto e a do Macuco Safari, ambos passeios não contemplados no ingresso básico das cataratas. A terceira dá acesso à primeira visão das cataratas e a uma trilha rápida que leva à Garganta do Diabo (onde estão as mais famosas cataratas, as que vemos na TV). Nessa parada desce a quase totalidade dos turistas. A quarta é a Porto Canoas, que já desemboca no acesso mais rápido à Garganta e também dá em um 'centrinho', com lojas e o restaurante Porto Canoas.

A Garganta do Diabo é realmente sensacional e digna de toda a fama que Foz tem. É claro que há muitos turistas, aquele empurra-empurra típico dos lugares cheios, mas, bem, é parte do jogo.

Então cabe falar sobre os outros dois passeios que fiz no parque. Primeiro comentário: comprei os ingressos de ambos na hora. Ao longo de todo o parque há guichês de venda, então o ato da compra é algo simples. Também não há necessidade de reservar pela internet. Até porque aconteceu algo muito positivo quando fomos lá - a trilha do Poço Preto, cujo ingresso custava R$ 281, saiu por R$ 150! Quase metade do preço! Já no Macuco pagamos os R$ 215 de tabela.

Sobre o Poço Preto: o passeio começa com uma trilha de 9 km, que pode ser percorrida a pé, de bicicleta ou de carro, à escolha do cliente. Depois faz-se um trecho rápido de barco, que culmina em um percurso igualmente rápido de caiaque; por fim, outra trilha, bem menor que a anterior, que o cliente também escolhe como fazer. É um passeio muito, mas muito bacana. E não exige nenhum preparo físico dos excepcionais. Acho que qualquer um que não tenha limitações físicas consegue encarar.

Já o Macuco Safari é um dos passeios mais famosos do Iguaçu - é aquele em que se vai debaixo de uma cascata (não é a Garganta do Diabo, vale destacar). É feito em três etapas: primeiro um trecho rápido de carro, depois outra caminhada leve pela floresta e por fim o passeio de barco propriamente dito. O cliente escolhe se quer fazer o percurso "seco" ou "molhado" - como o nome diz, a diferença está entre entrar com tudo na cachoeira ou não. Fiz o molhado, que é divertidíssimo. E é tudo muito bem estruturado, com armários para deixar as coisas e vestiário para trocar de roupa.

Iniciei o Macuco por volta de 17h30, o que fez com que acabasse sendo um dos últimos turistas a sair do parque.

Foi um dia muito legal e no qual tudo se encaixou direitinho.

De volta ao centro de Foz, jantei no Hokkai, um restaurante de pratos saborosos, mas rodízio com cardápio restrito e preço pouco camarada.

Dia 3 - Ciudad del Este, Marco das Três Fronteiras e ida à Argentina

Acordei cedo para encarar a viagem ao Paraguai.

Li muito para me programar para esse destino. Como não sou muito de fazer compras, meu interesse era, inicialmente, mais por curiosidade do que qualquer outra coisa. Mas ao ver os preços, vi que o rolê compensava demais. Pesquisei no Compras Paraguai e dei atenção especial ao Mega Eletrônicos, do qual tinha lido boas referências. A dica é ver o preço em reais/dólares e chegar lá com dinheiro vivo. A loja aceita cartão, mas aí há acréscimos. O atendimento na Mega é bom, mas é preciso ter paciência extra na hora de retirar os produtos. A fila é grande e demorada. Além do Mega, fui na Monalisa, uma das lojas mais badaladas e especializada em artigos de luxo, como roupas e cosméticos.

Mas acho que as dicas mais importantes a serem passadas são sobre acesso ao Paraguai e travessia da Ponte da Amizade. Fiz uma rotina em que tudo deu certinho: parei o carro do lado brasileiro e atravessei a pé, na ida e na volta. Eu tinha lido muito sobre "armadilhas" na hora de parar o carro (no Brasil), como pessoas que praticamente obrigam os turistas a estacionarem em seus estabelecimentos. Recebi abordagens, mas nada mais agressivo. Fui andando sem muita referência e acabei caindo no Estacionamento Pampa (infelizmente, não acho aqui o endereço e perdi o cartão que recebi de lá). O proprietário do espaço, Beto, é um cara pra lá de simpático. Paguei R$ 20 pelo período. Mais do que recomendado! Atravessar a Ponte da Amizade a pé é cansativo e um tanto quanto tenso, mas nada de mais.

Ao sair de lá, fomos ao Templo Budista de Foz, que é um dos pontos turísticos mais célebres da cidade. Não é nada de mais, mas é de graça e vale a passada. Abre todos os dias, com exceção das segundas-feiras. O ideal é conciliar com Itaipu, já que é relativamente próximo da usina.

A próxima etapa do dia foi algo de cunho utilitário: a retirada do seguro Carta Verde, indispensável para quem vai de carro alugado à Argentina. Isso se faz em um escritório muito próximo da fronteira (aqui o endereço). O processo é extremamente rápido - em cerca de 5 minutos se obtém o papel. O escritório funciona em horário comercial e abre inclusive aos domingos (mas por menos tempo). O seguro custou R$ 48, por três dias. Há opções para mais e menos dias, mas não me recordo dos preços. Cabe destacar que esse é um serviço completamente independente da Movida, onde aluguei o carro. Algumas locadoras (Localiza e, se não me engano, Hertz) não permitem mais a ida à Argentina. Já em outras, pelo que li na net, é possível alugar o carro já com a Carta Verde.  Ah, sim: apesar do "indispensável" que escrevi acima, a Carta Verde não é pedida na fronteira (sobre a qual falarei mais adiante). É um documento que deve ser apresentado apenas se exigido, o que não aconteceu comigo.

Com a Carta Verde resolvida, fui ao último passeio em território nacional, o Marco das Três Fronteiras. No Brasil, o espaço é pago (R$ 19 reais, comprados na hora) e tem um quê de superprodução/parque temático. O ponto alto, segundo consta, é o por do sol, o qual não vi. A vista de lá é linda e o ambiente em si é bem bacana. Vale ir, mas... o Marco argentino é mais legal (falarei sobre ele no próximo dia). Se você for aos dois países e precisar sacrificar um dos marcos por conta de tempo, descarte o brasileiro.

Enfim, foi hora de atravessar a fronteira rumo a Puerto Iguazu, na Argentina. Antes disso, um comentário: comprei pesos em Foz do Iguaçu, em uma casa de câmbio ao lado do Ibis em que me hospedei.

A primeira etapa do processo foi passar a alfândega brasileira. Algo que se faz em instantes, sem nenhuma parada (não sei se é sempre assim, ou se foi algo de momento). Depois cruza-se o rio, onde a ponte indica precisamente a fronteira e permite aquelas fotos com um pé em cada país. Tudo parecia calmo e tranquilo, até que... o trânsito engarrafou de vez. Aquilo de parar o carro, ficar andando só em primeira marcha, puxar o freio de mão e por aí vai. Dois motivos explicam o congestionamento. O primeiro é que estávamos em horário de pico (por volta de 18h), e a fronteira segue a mesma rotina de qualquer outro lugar do mundo quando se fala em hora do rush. O outro é que pouco após a ponte está o Free Shop de Puerto Iguazu. Eu tinha lido que o shopping tinha seu horário de pico justamente no início da noite, e não deu outra. Mas sobre o Free Shop, cabe dizer que é um espaço bacana, bem bonitão, organizado. Os preços não são excelentes como os do Paraguai, mas sem dúvida são melhores do que os de uma loja convencional.

Na passagem pela alfândega argentina, um funcionário olhou os passaportes (facultativos para brasileiros; mas é divertido ter o carimbo) e outra fez perguntas rápidas - questionou se eu carregava algo no porta-malas, eu disse que sim, que eram minhas malas particulares, e fui liberado sem problemas.

Poucos minutos após a alfândega está a cidade de Puerto Iguazu. Lá, nos hospedamos no bom Hotel Saint George. O hotel tem aquele jeitão de um estabelecimento que pretende ser luxuoso mas não consegue, e entrega como resultado final algo entre o decadente e o cafona. Mas nada que prejudique a hospedagem. Tem estacionamento, está próximo da rodoviária da cidade e de bons restaurantes, e a ida de lá para as cataratas, de carro, é fácil e rápida.

Fechamos o dia jantando no La Rueda. Ótimo restaurante, com preços razoáveis. A sequência "experiência argentina" (ou coisa parecida, não lembro o nome exato) é uma boa pedida - empanadas, churrasco argentino e panquecas com doce de leite.

Dia 4 - Cataratas argentinas

Como já dito, a ida do Saint George ao parque argentino das cataratas é simples. São 17 km de distância, em uma estrada de boas condições, quase que uma linha reta.

O ingresso ao parque custa 500 pesos. Informação mais do que importante: o pagamento é feito exclusivamente em dinheiro vivo e em pesos. O estacionamento custa 100 pesos, também a ser pago em dinheiro.

Curiosamente, mesmo com uma única opção de pagamento e sem possibilidade de compra online, não há filas para entrar no parque. É um processo muito mais rápido do que o do Brasil.

Ao entrar no parque, há o primeiro pulo do gato, a primeira coisa a se prestar atenção. Assim como no Brasil, o parque é dividido em setores que são acessíveis via transporte coletivo - mas na Argentina, usa-se trens em vez de ônibus. Há a Estação Central, a Estação Cataratas (ponto de partida para as trilhas Superior e Inferior e a Ilha San Martin) e a Estação da Garganta do Diabo.

Os trens saem a cada meia hora. Sim, é um intervalo muito grande - imensamente maior do que o dos ônibus brasileiros. Mas perdê-los não é um problema dos maiores, já que a caminhada entre a Estação Central e a Cataratas é de 700 metros. A questão maior é entre a Cataratas e a Garganta do Diabo. O percurso é grande e, no sentido Garganta, é na subida.

Agora falarei sobre os passeios propriamente ditos. A Garganta do Diabo é, evidentemente, a mesma que se vê do lado brasileiro. A visão é diferente - confesso que não sei hierarquizar e afirmar se é melhor ou pior. É igualmente sensacional.

A trilha Inferior é MUITO bacana. Embora não inclua a Garganta do Diabo, dá acesso a uma série de cachoeiras, onde o turista pode se molhar pra caramba. E também é o caminho para a Ilha San Martin. Essa ilha tem o acesso feito pelo mesmo ponto onde se faz o "macuco argentino", e nela se chega por um percurso de cerca de dois minutos via barco. O passeio é grátis e imperdível! A trilha Inferior e, principalmente, a Ilha têm caminhadas que exigem algum preparo físico. Não é recomendado para idosos ou pessoas com deficiência.

Já a trilha Superior é mais sem-gracinha, especialmente na comparação com todo o resto. Como eu a fiz por último, acabou sendo um "fim de festa", digamos assim.

Destaco que o roteiro que segui, nessa ordem - Garganta do Diabo / Inferior / Ilha San Martin / Superior - é o que mais costuma ser feito.

Fiquei cerca de seis horas no parque. No retorno, fui parado por uma espécie de blitz policial em que tive que pagar 50 pesos, por conta de uma taxa turística para quem visita as cataratas. É algo obrigatório e que tem que ser feito também em dinheiro vivo.

Tirei o resto do dia para passear na cidade. Dei uma volta pelos comércios, comprei vinhos bons e baratos na Vinoteca Don Jorge e comi alguns petiscos na divertida Feirinha (sim, o nome é "Feirinha" mesmo, em português! É impressionante a quantidade de brasileiros, turistas e comerciantes, nesse local). Ainda fui ao Marco das Três Fronteiras - ou melhor, Hito Tres Fronteras, na língua local. Falei acima que o marco brasileiro é legal, mas perde do argentino. O motivo disso é que o lado dos vizinhos tem muito mais espontaneidade e vivência. A entrada ao marco em Puerto Iguazu é franca. Com isso, o espaço ganha um quê muito bacana de praça pública, com artistas, vendedores de diferentes tipos de artigo, e um agradável misto de turistas e locais que enchem e curtem bem o ambiente. Reforço o que falei anteriormente: se você tiver pouco tempo e só puder ir em um marco, escolha o argentino.

Encerrei o dia jantando no Nino. A comida (parrillada) estava gostosa, mas demorou MUITO. O atraso comprometeu a qualidade do processo.

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Encerro o post dizendo que retornei ao Brasil, direto à Movida, sem problemas, e com grande rapidez na travessia da fronteira. Passei de madrugada, então não havia trânsito algum.