quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A candidatura Gabeira é mais do que um "palanque de Serra"

Os jornais noticiam hoje que o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) topou sair candidato ao governo de seu estado. A aliança que sustentará sua candidatura deverá também ter a participação de PSDB, PPS e DEM.

A notícia é importante pelos vários desdobramentos que a cercam. O primeiro é que, vencendo ou perdendo, se realmente se confirmar candidato Gabeira não estará no Congresso a partir de 2011. Nos últimos anos, Gabeira tem sido um dos deputados de maior relevância na Câmara e se tornou uma espécie de "farol ético" na casa - principalmente após seu quebra-pau com Severino Cavalcanti.

É também surpreendente a participação de Gabeira na disputa pelo governo porque seu nome era dado como certo ao Senado - o próprio deputado havia dado declarações dizendo que não concorreria ao governo porque não teria como fazer frente à candidaturas mais estruturadas, principalmente à do atual governador, Sérgio Cabral Filho (PMDB).

Mas, em nível federal, a principal consequência do anúncio de Gabeira será o peso de sua candidatura à corrida presidencial. Os partidos que devem apoiar o seu PV são os "três mosqueteiros" da oposição a Lula, e comporão a chapa de José Serra na disputa ao Planalto. Com a confirmação da aliança, Serra terá o famigerado "palanque estadual" que os tucanos temiam que não ocorresse no Rio.

Sabemos que o sucesso de uma candidatura não necessariamente leva a outra candidatura aliada a também desfrutá-lo. Ou seja: ainda que Gabeira arrebente na disputa pelo governo do Rio de Janeiro, não se pode afirmar que José Serra também terá boa votação no estado. Claro que uma coisa não é totalmente incompatível da outra, mas também não é tão automática como muitos pressupõem. Serra terá que ralar no estado da segunda maior cidade do Brasil, até porque a popularidade de Lula por lá é das mais fortes.

Mais do que um "palanque para Serra", o principal resultado da aliança Gabeira-trinca oposicionista é a possibilidade de ver a união PV-PSDB-DEM-PPS se repetindo no plano federal. Muito se fala que a pré-candidatura de Marina Silva seria uma espécie de "suporte" ao projeto de José Serra; e até mesmo a possibilidade da senadora se inscrever como vice do paulista tem ganhado corpo. Agora, com o principal expoente do PV se unindo aos partidos de oposição na disputa por um governo estadual, as especulações fazem mais sentido que nunca.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sobre o filme do Lula... ou melhor, o filme e o que o cerca

Quando tomou corpo o fato de que estava sendo produzido o "filme do Lula", muitas análises já começaram a pipocar por aí. Elas ficaram ainda mais fortes quando se divulgou que o filme estrearia no início de 2010, ano em que o Brasil elegerá justamente o sucessor do atual presidente da República. Tornaram-se mais presentes quando o filme iniciou sua materialização em traillers na internet e nos cinemas. E agora, quando o filme já está em circuito comercial e pode ser visto por todos os interessados, estão abertas a quem queira fazê-las.

Grande parte delas não tem como objeto Lula, o filho do Brasil, e sim a carreira política do presidente e a eleição que determinará quem o sucederá. Ou seja: mais do que discutir o filme em si, o que mais se fala da obra é o contexto que a cerca.

Inevitável, claro. Lula não é o primeiro presidente/líder político a ter sua carreira retratada na dramaturgia. Nem mesmo no Brasil: há poucos anos, JK fazia sucesso na Rede Globo. Mas o filme é uma exceção por se tratar de uma personalidade política no auge de sua carreira. Ainda que a história contada na obra se encerre muito antes de Lula ser o que é hoje, e ainda que o atual presidente não dispute eleições em 2010, é uma situação, digamos, desconfortável.

Assisti ontem ao filme. Para não cair no senso comum de escrever laudas e laudas sobre a influência da obra sem conhecê-la.

E saí do cinema com a seguinte opinião: é pouco provável que Lula, o filho do Brasil influencie a corrida eleitoral de 2010. Não é preciso dizer que Dilma Rousseff nem nenhum outro pré-candidato deste ano não chega a ser sequer citado na obra - ou seja, uma relação direta não pode ser estabelecida. O máximo que a obra pode fazer é impulsionar um pouco mais o prestígio de Lula - o que, no cenário atual, no qual esse prestígio já está pra lá de elevado, não chega a ser uma consequência das mais determinantes.

Num Brasil em que não se consegue definir a inteligência do povo - ou melhor, se atribui inteligência ou burrice popular de acordo com o que queremos que o povo pense - a distância entre "assistir o filme do Lula" e "votar na Dilma" parece ser maior do que muitos consideram.

Talvez seja o caso de pensar no que o filme pode fazer em relação à corrida eleitoral de 2014 - quando, para muitos, Lula tentará a todo custo recuperar a presidência, para suceder seja sua cria Dilma ou um opositor. Mas ainda há muito chão até lá. E não falam que o brasileiro é um povo sem memória?

Sobre o filme em si, cabe destacar também a impecabilidade da produção, a atuação magistral de Rui Ricardo Diaz (o que pode ser um fardo para o ator) e, falando de maneira bem pessoal, um "orgulho bairrista" de ver as para mim tão comuns paisagens de São Bernardo retratadas em gravações de alta qualidade.

Ah, e pra fechar: um dos momentos mais importantes do filme acontece ainda antes do seu início, em uma citação que talvez não possa ser vista pelos adeptos de cópias piratas. Na tela preta do cinema, caracteres aparecem com soberania e autoridade para dizerem que "o filme foi produzido sem o apoio de leis de incentivo, graças ao apoio de patrocinadores". Interessante. Bem que mais grandes produções nacionais poderiam seguir a trilha, e não apenas um ligado ao universo político, não?