sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Show da filiação

Recebi ontem, no meu email profissional, um aviso de pauta com o seguinte título: "Delegado federal Protógenes Queiroz anuncia sua filiação partidária".

Achei que fosse uma notícia relatando qual era a legenda escolhida pelo delegado. Não, era um convite para uma coletiva em que se dará o anúncio, a ser realizada no dia 2 de setembro. Até aí tudo bem: o problema é o simples fato de que não se fala qual é o partido que receberá Protógenes em suas fileiras.

Não sei qual a razão para que Protógenes só anuncie seu partido no dia 2 - indefinição a respeito não é, senão ele não convocaria a coletiva. Talvez a data seja a única possível para a organização do evento. E nada contra isso, também. Protógenes se tornou uma figura importante e nada melhor do que fazer uma boa cerimônia para sacaramentar sua entrada na vida política.

O que questiono é a espetacularização do ato. Protógenes anuncia que vai para um partido - e não diz qual. O revelará apenas em uma coletiva. Já até imagino um cartaz coberto por um pano, puxado em momento estratégico, com o logotipo da sigla agraciada despontando sob um "ooooh" de espanto coletivo. Ou mesmo um anúncio lento, sílaba por sílaba, para matar todos os ouvintes de angústia. "Protógenes vai para o.... o.... Pê...", e mais uns trinta segundos até a resposta, tal qual Pedro Bial anunciando o vencedor do Big Brother.

Não acompanhei com a atenção devida os desmandos da Satiagraha e não sei dizer se Protógenes é ou não um bom delegado, admito. Mas o que dá para dizer, sem medo de errar, é que sua carreira pós-"fama" está cada dia mais folclórica. Aos poucos, ele vai se tornando um sujeito a quem não se deve levar muito a sério. Esperemos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Uma coisa é uma coisa, outra coisa...

Falar mal do Senado virou lugar-comum no Brasil nos últimos dias. Aliás, me corrijo; a coisa vem de tempos mais idos, com a já tradicional reprovação da opinião pública aos políticos como um todo e, falando mais especificamente da "Câmara Alta", com os demandos de Renan Calheiros que estiveram entre os assuntos mais comentados em 2007.

Corrupção e incompetência encabeçam as motivações para as queixas. E há uma que tem aparecido cada vez mais com maior frequência, e é a que eu gostaria de abordar agora. Falo da repulsa aos senadores suplentes, apelidados por aí de "senadores sem voto" e até mesmo de "senadores biônicos", numa temerária comparação aos políticos empossados na marra nos tempos de ditadura.

O ataque aos suplentes se motiva - e até mesmo se justifica - por lambanças cometidas pelos próprios suplentes. Wellington Salgado (PMDB-MG, na foto), que ocupa a vaga deixada pelo ministro Hélio Costa, ganhou fama por conta de seus longos cabelos e pela defesa de parlamentares tidos como indefensáveis. E agora é Paulo Duque (PMDB-RJ) - herdeiro de vaga deixada pelo governador fluminense Sérgio Cabral Filho - que recebe destaque, por presidir a malfadada Comissão de Ética do Senado.

Endosso os que fazem críticas à atuação de Salgado e Duque. Mas discordo, e com veemência, dos que contestam a legitimidade de ambos. Como assim, "senadores sem voto" ou "senadores biônicos"? Por acaso eles chegaram a seus cargos ao burlarem a lei ou coisa parecida? De modo algum. Estão lá de maneira legítima, tanto quanto os outros senadores.

Eles, inclusive, têm a mesma legitimidade que Gilberto Kassab tinha antes das eleições de 2008; ou, puxando um pouco na memória, que Itamar Francom tinha quando foi presidente. E tanto Kassab quanto Franco gozavam de popularidade e aprovação da população, vale o registro.

Talvez seja o caso de discutir se vale a pena manter a regra atual para a suplência. Dar a vaga ao senador "desistente" ao segundo colocado nas eleições seria uma medida extrema - certamente evitaria "evasões", mas, na minha avaliação, seria bem mais ilegítimo do que dar a vaga ao suplente. Afinal, o suplente está definido desde o período eleitoral - ou seja, o eleitor votou também nele, ao indicar o senador cabeça-de-chapa. Reitero que é a mesma situação dos vices.

Resumindo: a não ser que alguém apresente uma alternativa lógica, a figura dos suplentes é válida e continuará existindo - e gerará senadores tão legítimos quanto os outros, a despeito de suas trapalhadas.

Pensando em termos de marketing político, uma dica para os candidatos ao Senado seja explorar a figura dos suplentes adversários, aproveitando os grotescos exemplos do dia-a-dia.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O indecifrável "projeto Marina"

Ainda não sei como interpretar a ascensão do movimento Marina Silva Presidente. A ideia se propaga pela internet e, aparentemente, seus autores querem que ela seja interpretada como uma sugestão espontânea, um clamor autêntico das massas virtuais; mas manifestações públicas e abertas do Partido Verde a favor da proposta, além de declarações evasivas da própria senadora, podem sugerir que a mobilização não é tão autêntica assim.

De qualquer forma, não deixa de ser uma situação interessante. Em primeiro lugar, por acarretar a saída de mais um quadro histórico do PT - mais uma pessoa tradicionalmente ligada a uma causa, que ocupou um ministério relacionado a ela, que por desavenças deixou o governo e, posteriormente, o partido do presidente Lula, e até que acabou concorrendo à Presidência. Roteiro idêntico ao de Cristovam Buarque, o primeiro ministro da Educação do atual presidente. Marina, é bom lembrar, assumiu o Meio Ambiente logo no início do primeiro mandato de Lula e deixou o cargo em situação pouco harmônica.

É também o caso de se pensar como será o jogo eleitoral caso a candidatura de Marina pelo PV se confirme. Com ela, teríamos três mulheres com candidaturas a serem levadas a sério - as outras duas são Heloísa Helena (PSOL) e a favorita Dilma Rousseff (PT). Das três, arrisco dizer que Marina seria a que teria um discurso mais convicente, a de uma plataforma de campanha mais autêntica. Heloísa tende a repetir o discurso vago da "ética", sem propostas consistentes, e Dilma proporá a continuidade do governo Lula - o que é uma plataforma séria, mas, cá entre nós, pouco ousada e "pessoal".

Mas sabemos que o PV não tem condições - ao menos não hoje - de vencer uma eleição presidencial. Ao menos não com o quadro que se desenha. E acredito que nem uma aliança com outros partidos tiraria o favoritismo perene de PT e PSDB. Justamente por isso, Marina talvez não queira concorrer - disputar a presidência significaria abrir mão de uma reeleição quase certa ao Senado.

Resta saber se o PT apresentará alguma manifestação oficial ao caso. O partido não abrirá mão da candidatura de Dilma e não parece estar muito preocupado com a perda de Marina. O PV, enquanto isso, comemora.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O que é realmente "oficial"?

A comunidade flamenguista se animou na semana passada: corriam rumores de que a CBF, em seu site, havia reconhecido o Flamengo como o campeão brasileiro de 1987. (Explicando aos não muito interessados em futebol - mesmo após mais de 20 anos, o Brasileirão daquele ano ainda gera incertezas sobre quem foi seu real campeão. O Flamengo ganhou um campeonato promovido pelos clubes, enquanto o Sport venceu aquele que foi sacramentado como oficial pela CBF. Eu até tenho minha opinião sobre o assunto, mas não vou manifestá-la, ao menos não aqui, senão a conversa desanda de vez e o assunto do post, por incrível que pareça, não é futebol).

A notícia que motivou a euforia dos torcedores do Flamengo é essa: Morreu Zé Carlos, goleiro que brilhou no Flamengo e defendeu a Seleção Brasileira. Pois é, nada que mencione alguma decisão da entidade sobre a antiga contenda. Então como é que a notificação da morte de um ex-atleta gera tamanho furor? Pelo uso da seguinte frase, ainda presente no texto: "Zé Carlos disputou 352 jogos pelo Flamengo, clube pelo qual conquistou o título brasileiro em 1987".

Ou seja: uma frasezinha aparentemente inocente reacendeu todo o assunto e motivou conclusões pra lá de precipitadas. Há duas questões que ficam como "lição de moral" desse episódio.

A primeira vai para os produtores de conteúdo e responsáveis por sites institucionais (e eu me incluo nessa, já que trabalho em um site com esse perfil). Ter veículos institucionais de comunicação é uma prática já antiga e solidificada no cenário empresarial. Mas a transformação nas comunicações fez com que eles tenham abrangência e visibilidade jamais imaginada. Alguém aí já leu o jornalzinho interno da Phillips, da General Motors, da Esso? Não, certo? Mas em poucos cliques estamos diante do site dessas empresas - que é o principal canal de emissão da voz institucional da companhia.

Portanto, qualquer notícia colocada no site da CBF (e da da Phillips, da General Motors, da Esso, do Mercadinho do Seu Luís e por aí vai) é vista como sendo uma comunicação oficial da empresa, algo deliberado pela instituição, algo que representa o que aquela entidade verdadeiramente pensa. Por conta disso, cresce e muito a responsabilidade de quem faz esse conteúdo. Se apuração, clareza e qualidade são requisitos de qualquer texto jornalístico, nesse caso em especial deve-se somar aí um belo conhecimento - e engajamento - aos valores institucionais. Senão, a coisa desanda.

E o outro prisma da "lição de moral" do episódio vai para a imprensa e também para o público em geral. Justamente porque sabemos que esses cuidados nem sempre são tomados como deveriam, é preciso que essas "informações oficiais" sejam recebidas com mais cautela. Acredito que a CBF não tenha reconhecido o Flamengo como campeão de 1987, apesar do texto que estava (e ainda está) no site sugerir isso. Não é o caso, portanto, de se soltar fogos e celebrar uma mudança radical de posicionamento de uma instituição apenas por conta de algo sugerido em um texto publicado em seu site.

Mais que isso, o que se deve pensar nesses casos é que o trabalho institucional não é feito com a qualidade que merecia.