quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A primeira marca do governo Dilma

Foram anunciados na semana passada os novos logomarca e slogan do governo federal. Eles substituem o "Brasil - Um país de todos" que, intocado durante os oito anos da gestão Lula, às vezes parecia mesmo uma marca de Estado, e não de governo. Oito anos não é pouca coisa. Confira:

Agora vamos às opiniões. Aliás, antes delas, uma contextualização. Como disse o amigo Alan Kardec Borges no Voto é Marketing, em post de 2009, logomarca e slogan costumam figurar entre as prioridades dos políticos que assumem seus mandatos. As peças estabelecem um dos primeiros sinais de uma mudança real, tangível; o cidadão que se depara com uma obra (ou propaganda na TV, ou qualquer outra coisa relacionada) que traz a nova identidade visual percebe que a administração se modificou, que há um novo governo em curso. É, por isso, vital.

(Pequeno parêntese: não sei como funciona em outros países, mas aqui no Brasil acredito que haja um pequeno abuso na utilização das logomarcas. A cada quatro anos, uma cidade/estado/país está sujeita a ter sua identidade visual por completo, e aí lá se vão consideráveis somas de dinheiro para adaptação aos novos padrões. Sem contar os logotipos que se utilizam, sem muito disfarce, das marcas dos partidos do governante da ocasião. Mas isso é uma opinião pessoal, que não serve para mudar o quadro atual. Prossigamos.)

A nova logomarca do governo federal, intencionalmente, traduz o que Dilma Rousseff propôs o tempo todo em sua campanha - continuidade, mas com um toque pessoal e de evolução. É o que se observa. A peça é, de certo modo, parecida com a do governo Lula (ao lado). Prosseguem as letras grandes, o "BRASIL" em caixa alta, exposto de maneira horizontal.

Onde se vê a diferença - e gritante - é no uso das cores. A logomarca de Dilma é mais sóbria do que a de Lula, e bem menos ousada. Enquanto a do governo anterior abusava de cores distintas, para reforçar mesmo a ideia da pluralidade, a atual fica no verde-amarelo, com o losango da bandeira nacional exposto sobre o A de Brasil. Fica a impressão que a nova marca quer ser vista como mais séria, mais "disciplinada" que sua antecessora. Comparação pura e simples? A de Lula ganha. Em duas palavras (ou é uma só por conta do hífen?), é possível definir a marca atual como sem-graça.

Quanto ao slogan... bem, aí arrisco dizer que a gestão anterior ganha, e de goleada. "Um país de todos" é uma frase simples, direta, precisa e de muito conteúdo. Lula assumiu o poder pregando a inclusão, e fez disso a marca de seu governo. "Um país de todos" traduz essa filosofia como talvez nenhuma outra marca conseguiria.

"País rico é país sem pobreza" é, também, outra tradução de uma meta de governo - já que o Brasil se tornou mais "rico" e "desenvolvido" nos últimos anos, é hora de transformar essa condição em uma melhoria efetiva na qualidade de vida dos brasileiros, acabando com a pobreza. Até aí tudo bem. O principal problema está no fato da frase ter, digamos, pouco apelo publicitário. "País rico é país sem pobreza" é uma frase mais longa, mais rebuscada, que não soa tão imediata quanto "Um país de todos". Além de ter um caráter meio até de certo modo marcial - parece um lema de exército, uma declaração de fé, um trecho de hino. Quebrou a "simpatia inclusiva" da marca anterior para uma pegada mais agressiva, mais forte.

As intenções da marca são boas - como já dito, frase e logotipo reforçam bem a ideia da continuidade com progressão. Mas talvez a escolha das peças pudesse ser feita com mais capricho. É claro que não é isso que determinará (e nem de longe!) o sucesso ou fracasso do governo Dilma, mas um pouquinho mais de qualidade viria bem.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Já conhece o Partido Militar Brasileiro?

Em novembro, joguei aqui uma dúvida no ar sobre como seria um "Tea Party brasileiro". O post da ocasião foi inspirado pelo sucesso que o movimento ultraconservador Tea Party, liderado por Sarah Palin, estava (e ainda está) fazendo nos EUA. Questionei o fato do Brasil não ter um partido político assumidamente de direita.

E parece que a resposta foi encontrada: no final de janeiro, uma convenção nacional foi o impulso que faltava para a consolidação da ideia do Partido Militar Brasileiro (PMB). Agora, o PMB aguarda os trâmites burocráticos para ser juridicamente um partido político e já disputar as eleições de 2012.

(Curiosidade: se realmente utilizar a sigla PMB, o Partido Militar Brasileiro trará de volta ao cenário político o acrônimo do Partido Municipalista Brasileiro, que existiu durante a década de 1980 e cujo feito de maior notoriedade foi ter atraído Silvio Santos para a campanha presidencial de 1989, em candidatura que viria a ser cassada.)

Como já falei naquele post sobre o Tea Party e em outras ocasiões, acho, sinceramente, que faz falta ao Brasil um partido que se assuma de direita, que não tenha medo de encampar a bandeira do conservadorismo. Não são as minhas ideologias, mas acredito que faz bem ao Brasil saber quem defenda essas posturas.

O que há, hoje, são pessoas de direita pulverizadas entre as inúmeras siglas, que defendem uma ou outra causa direitista durante as campanhas eleitorais, de maneira difusa.

E há muitos partidos no Brasil? Sem dúvida! Mas o PMB - se cumprir o que está prometendo - será um partido que "valerá", que terá uma razão de existir. Tal qual PCO e PSTU, seus inversos ideológicos, defenderá uma causa que não é contemplada por outras siglas. O problema do excesso de partidos no país não tem a ver com as siglas do tipo do PMB e das pequenas de esquerda, e sim das dezenas de partidos fisiológicos com base programática nenhuma e que só servem como balcões de candidatura.

Um aspecto interessante sobre o PMB é que ele tende a ser o partido brasileiro com a maior proporção de mulheres entre seus filiados - como, pela lei atual, os militares não podem participar de partidos políticos, é possível que suas esposas entrem na sigla e a administrem, como ocorre com os sindicatos da categoria.

Veja mais a respeito no site do Partido Militar Brasileiro, e vá formulando sua opinião.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Freakonomics e o tostines eleitoral

Estou lendo Freakonomics, livro de 2005 escrito por Steven Levitt e Stephen Dubner que já tem um quê de clássico. Virou sucesso instantâneo, gerou sequências (e obras nele inspiradas) e deve estar garantindo um bom rendimento aos seus autores.

Em síntese, o que o livro traz é uma série de pesquisas produzidas por Levitt que buscam contestar algumas verdades absolutas e apresentar relações entre fatos aparentmente distantes entre si. Por exemplo: lá se diz que a probabilidade de uma criança morrer em uma casa com piscina é muito maior do que a que há em uma casa com uma arma de fogo; que professores mentem para que seus alunos tenham melhores resultados em exames que avaliam o desempenho das escolas (e que tal fraude pode ser descoberta com apenas um pouquinho de esforço); e que a redução da criminalidade nos EUA é fruto da liberação do aborto décadas atrás, e não de políticas de combate ao crime, e por aí vai.

Como disse Ubiratan Leal em texto em que analisou Soccernomics (uma obra inspirada em Freakonomics), "números não são subjetivos, mas a escolha deles e o modo de usá-los são". É por isso que se deve ter uma bela dose de cautela ao analisar conclusões que Freakonomics trata como verdades absolutas. Números são inquestionáveis e revelam muita coisa, mas colocar um pé atrás sobre o que se vê nunca é mau negócio.

E é sobre um dos dados também apresentados em Freakonomics que eu queria debater. O livro cita uma pesquisa de Levitt que analisou a relação entre o dinheiro das campanhas eleitorais e o sucesso dos candidatos. Há o consenso geral de que quanto mais dinheiro tem uma campanha, mais provável que ela seja bem sucedida; Levitt contesta isso, dizendo que, de fato, as campanhas com mais dinheiro são as que se dão bem - mas isso se deve ao fato de que os doadores já sabem que as campanhas tendem a ser vitoriosas, e utilizam isso como critério para investir suas quantias. Ou seja, a campanha tem dinheiro porque deverá dar certo, e não o oposto.

É mais uma representação clássica do "dilema de Tostines". Levitt crava que "são fresquinhas porque vendem mais", ou seja, têm dinheiro porque vencerão a disputa. E aí?

Admito que, tentando transpor o caso à realidade brasileira, ainda não formulei uma opinião derradeira a respeito. É fato que o comportamento eleitoral aqui, para as campanhas majoritárias (presidente, governadores, prefeitos) é mais previsível do que parece. Era óbvio que PT e PSDB polarizariam a disputa nacional em 2010, como vêm fazendo desde 1994; nos planos estaduais e municipais, há situações que são também bem previsíveis, de modo que um doador já pode saber para que lado a disputa tende a pender.


Por outro lado, nós não convivemos aqui com a figura das doações individuais (a menos não em caráter expressivo). Ou seja, a tal "motivação" para doar em uma campanha não é uma questão decisiva.

Tendo a acreditar que a opinião de Levitt valha para as eleições majoritárias brasileiras, mas não para as proporcionais (deputados e vereadores), porque neste universo específico o desconhecimento dos candidatos por parte da população e o excesso deles faz com que ter dinheiro seja um fator essencial para o triunfo.

Algum outro palpite?

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

"Pensar global e agir local" - mesmo!

O ocorrido é antigo, mas recente texto publicado no Congresso em Foco me fez lembrar do caso e deu a ideia de discutir o tema aqui. Apesar de ser algo das eleições do ano passado, trata-se de uma questão que permanece ativa e, mais que isso, tende a se aprofundar no próximo ano.

Em 2010, como todos sabem, o fenômeno das eleições foi o Tiririca, deputado mais votado em São Paulo e que fez uma campanha baseada na brincadeira, na tiração de sarro, e que se beneficiou do descrédito do brasileiro em relação à política.

A qualidade das peças (e não estou sendo irônico: a campanha queria fazer rir e estimular o "voto de protesto", e nisso foi muito eficiente) fez com que as propagandas de Tiririca corressem o Brasil e se tornassem exemplos concretos do que se convencionou chamar de marketing viral.

Talvez durante as eleições vocês tenham visto o vídeo abaixo, do candidato Henrique Oliveira, do PR do Amazonas:



Do mesmo partido e tendo o mesmo número de Tiririca, Henrique convocou o humorista para dar uma força na sua campanha. Utilizar "famosos" como cabos eleitorais na campanha televisiva não chega a ser nenhuma novidade, mas... será que Henrique Oliveira traria Tiririca para sua campanha se o fenômeno já não estivesse em curso?

Evidente que não! Henrique Oliveira se aproveitou de algo que ocorria - a fama da inusitada campanha de Tiririca que, por meio da internet, repercutiu muito, mas muito além do seu público inicial, os eleitores paulistas.

O caso nos mostra que nas campanhas atuais, na tal da "era do Youtube", as referências geográficas em uma campanha eleitoral podem ser minimizadas. Candidatos de diferentes regiões podem se aliar em prol de uma plataforma comum, e ocorrências nacionais podem ser repercutidas com mais facilidade.

Em 2010, a indignação nacional contra José Sarney foi muito, mas muito menos explorada do que poderia pelos candidatos ao Congresso. Ele é um senador do Amapá, mas sua conduta vem sendo reprovada por brasileiros de todos os cantos; uma campanha bem estruturada pode utilizar o fato inclusive na disputa em um cargo de Câmara Municipal. Além de soluções práticas (asfaltamento de ruas, mais postos de saúde, melhorias na educação, etc), os eleitores querem um político com o qual se identifiquem, nutram afinidade. E a internet está aí pra isso.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Os famosos foram empossados. E aí?

Ontem, como todos sabem, ocorreu a posse dos deputados e senadores eleitos (ou reeleitos, ou que nem chegaram a ser eleitos mas se beneficiaram com a licença dos que preferiram outros cargos, mas enfim). Na ocasião também foram eleitos - ou melhor, e aí com mais precisão, reeleitos - os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, respectivamente José Sarney (PMDB-AP) e Marco Maia (PT-RS).

Naturalmente, a posse dos novos parlamentares ganhou destaque nos veículos de comunicação. Mas, à parte das eleições de Maia e Sarney, o que recebeu mais enfoque da imprensa foi a chegada dos parlamentares-celebridades: Tiririca (PR-SP), Romário (PSB-RJ), Popó (PRB-BA), Jean Wyllys (PSol-RJ) e outros.

Quase sempre, a citação a esse tipo de parlamentar é em tom de crítica: o triunfo deles escancara a fragilidade do sistema nacional, só ganharam porque são famosos, não acrescentarão nada à política e assim por diante.

Aí é hora de reiterar o que já disse aqui outras vezes. Não acredito - mesmo! - que o fato de uma pessoa ser "famosa" a faz menos (nem mais, evidentemente) preparada para a vida pública. Com exceção de Tiririca, que durante a campanha fez escárnio da função de deputado, os outros ganharam as eleições falando sério, apresentando propostas e tudo o mais - exatamente da mesma forma como fizeram os outros candidatos. Se beneficiaram de sua fama prévia? Evidentemente. Em eleições proporcionais, com uma overdose de candidatos e pouquíssimo espaço no horário eleitoral gratuito, já ser conhecido da população ajuda bastante. Mas é incorreto (e perigoso!) afirmar que essas pessoas só foram eleitas por conta de sua fama. Não fosse por isso, nomes como Agnaldo Timóteo, Maguila, Vampeta e Dinei (todos concorreram por São Paulo em 2010) não teriam ficado a ver navios.

É cômodo colocar a culpa no "povo" - assim, de forma abstrata - e amaldiçoar o trabalho das celebridades na vida pública desde seu início. Mas, infelizmente, a qualidade dos legisladores brasileiros anda tão baixa que não temos nenhuma garantia que políticos "convencionais" fariam melhor trabalho. Boa sorte a Jean Wyllys, Popó, Romário e companhia. O Brasil precisa deles, quer queiram os críticos, quer não.