Infelizmente, há quem ainda ache (e são muitas pessoas) que o consultor - ou "marketeiro" - político é um cara que fica inventando fórmulas e truques para vender um candidato para a população indefesa, que acaba votando no sujeito como se estivesse comprando um sabonete (sim, a metáfora é sempre o sabonete).
É preciso que se diga que tal imagem se consolidou, também, pela ação de maus consultores e políticos, que acabaram, mesmo, fazendo com que a população se iludisse por candidaturas péssimas.
Mas o fato é que consultoria política é uma atividade muito menos "mágica" do que o senso comum acredita. Não se trata de nada além de pesquisar o cenário eleitoral, aferir os interesses das pessoas e preparar um projeto que atenda às necessidades expostas. Por exemplo: se uma pesquisa diz que a principal reivindicação em uma cidade é a saúde, que adianta um candidato fazer toda a sua campanha falando de educação, transporte ou segurança?
Em termos eleitorais, a adequação se faz também quando se identifica os principais pontos fortes e fracos do candidato diante do eleitor, e realiza-se um trabalho com base neles. Nada de "transformação", nada de "enganação".
No vídeo abaixo, que encontrei abaixo no Youtube, há um exemplo perfeito do marketing político sendo muitíssimo bem aplicado. Trata-se da campanha eleitoral da cidade de São Paulo em 1992, quando os principais candidatos eram Eduardo Suplicy (PT) e Paulo Maluf (pelo partido equivalente ao atual PP). Luiza Erundina (PT) era a prefeita da cidade na época, e ainda não havia a figura da reeleição.
Já existia uma certa tradição eleitoral em São Paulo - que chegou ao seu ápice na eleição para governador de 1990, dois anos antes do pleito sobre o qual falamos agora - que dizia que Maluf sempre disparava nas pesquisas, mas que na hora H perdia a eleição. O motivo era simples: assim como Maluf era ferrenhamente amado por grande parte do eleitorado, era odiado, com muita intensidade, por outra fatia tão significativa quanto a anterior. E embora vencesse os primeiros turnos, na segunda metade se via atropelado pela somatória de praticamente todos os votos dos outros concorrentes.
A campanha de 1992 trabalha com precisão sobre o cenário. Note-se, pelo vídeo, que o foco está no público jovem - ou seja, num eleitorado tradicionalmente anti-Maluf. Isso se deve não apenas a uma tentativa de "conversão" do novo público, mas também pelo fato de acreditar que não havia muito o que fazer com o público mais velho, de posição mais consolidada (e, em grande parte, simpática a Maluf).
É muito boa também a referência aos candidatos derrotados Alyosio Nunes (à época no PMDB, hoje senador eleito pelo PSDB) e Fábio Feldmann (hoje no PV, à época do PSDB). Como já dito, reverter uma tendência natural de rejeição dos votantes em outros nomes era imprescindível para que Maluf chegasse à vitória.
Por fim, o refrão "a gente não tem nada contra o Suplicy / a gente não quer mais é o PT mandando aqui" é genial. Aceita que Suplicy é um candidato carismático, e que portanto ofensas diretas a ele poderiam causar uma repulsa do eleitorado; e trabalha sobre a rejeição habitual que parte do eleitorado tem ao PT, algo que vigora até os dias atuais.
Em que pese a épica presença do grupo Polegar e o exagero nas pinturas das caras dos cantores, trata-se de uma ótima peça.
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