quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Eymael: agora, candidatura é para vencer

Desde o final de novembro, Dilma Rousseff, José Serra, Marina Silva, Ciro Gomes e Aécio Neves têm companhia. José Maria Eymael, do PSDC, é mais um pré-candidato à Presidência da República.

Apesar de dois bem-sucedidos mandatos como deputado federal e de ter disputado a Presidência em duas ocasiões (1998 e 2006), Eymael é pouco conhecido do eleitorado – seu nome é mais atrelado ao jingle que o acompanha desde 1985 - e, até segunda ordem, sua candidatura dificilmente fará frente à dos nomes mais destacados na disputa.

Mas, apesar das condições inócuas, Eymael acredita em possibilidades concretas de vitória, pautadas em dois fundamentos: o primeiro é algo que ele identifica como sendo uma demanda popular para uma “candidatura de centro”; o outro é a transformação que a política nacional tem passado após a aprovação da minirreforma eleitoral ocorrida neste ano, que permitiu um uso mais amplo da internet para as campanhas. “Essa própria entrevista que estou te concedendo é um exemplo disso”, diz o pré-candidato.

Eymael e o Blog Olavo Soares conversaram no início do mês no escritório central do PSDC, em São Paulo. A motivação para a entrevista foi o post “... um democrata cristão”, em que a candidatura à presidência de Eymael fora criticada. “Acho que nosso trabalho não tem sido bem divulgado. Então eu quero dar mais e mais entrevistas, aproveitar todas as oportunidades”.

Por que mais uma candidatura à Presidência, se uma disputa por uma vaga de deputado seria uma alternativa mais viável?
Para responder, tenho que contar uma história. Você se lembra de quando eu fui candidato a prefeito em 1985? Foi para passar a imagem da democracia cristã. Em 1965, com o Ato Institucional número 2, os partidos políticos foram extintos, e a democracia cristã fica ausente no Brasil. Até 1985, com a abertura. O PDC [Partido Democrata Cristão] fora fundado e seus dirigentes sabem que em São Paulo havia um antigo militante – e me convocam para organizar o partido aqui. Eram as primeiras eleições diretas nas capitais, após 20 anos. Um momento mágico, uma ebulição. Decidimos disputar a prefeitura, para marcar que havíamos voltado. Concorri com Jânio [Quadros, que venceria a eleição], Suplicy [Eduardo, atualmente senador pelo PT], Francisco Rossi [ex-prefeito de Osasco]... Foi então recriada a democracia cristã, e em 1986 o PDC elegeu cinco deputados constituintes. Fui votado em todos os municípios, graças à mensagem da democracia cristã, passada em 1985 e repetida na eleição de 1986. Em 1990, fui reeleito deputado. Em 92, elegemos quase 500 vereadores no estado de São Paulo. E, só um ano depois disso, acontece a segunda tragédia da democracia cristã, uma decisão equivocada da direção nacional que promoveu a fusão do PDC com o PDS [atual PP, o partido de Paulo Maluf]. Nossos números eram impressionantes: tínhamos 22 deputados federais, dezenas de deputados estaduais, três governadores, quatro senadores, quase 500 prefeitos, quase 5 mil vereadores... e num estalar de dedos acabou tudo. Dois anos depois, juntamente com mais 114 companheiros, refundamos a democracia cristã, acrescentando o S na antiga sigla – e o partido passa a se chamar PSDC. Veio 1998 e eu tinha duas alternativas: ou vou para a disputa de deputado federal, volto pro Congresso, ou desfraldo a bandeira do PSDC no Brasil inteiro pra mostrar que a gente voltou...

Como aconteceu em 1985?
Exatamente. Fazendo o mesmo papel. Mostrando que nós tínhamos voltado. Começamos a crescer, fizemos um pouco de vereadores, um pouco de prefeitos... e o divisor de águas nesse processo de crescimento foi a eleição de 2006. Naquele ano, escolhemos uma estratégia. Precisávamos mostrar duas coisas: que éramos um partido organizado em todo o país, um partido nacional; e que nós éramos um partido independente, que não estava na folha de pagamento de ninguém. Então convocamos os principais líderes nossos, que tinham condição de se eleger deputados federais, e os lançamos a governador. E eu disputei, novamente, a Presidência da República. Não mais com o objetivo de dizer que tínhamos voltado, mas para dizer que o partido era nacional e independente. O resultado dessa estratégia já colhemos na eleição de 2008: mais de 1,330 milhão de votos para vereador. Hoje, o cenário é diferente. A democracia cristã cresce, e por quatro motivos. O primeiro é o compromisso com a defesa dos valores e atendimento das necessidades da família. O segundo é a história do partido, que foi por duas vezes destruído e ressurgiu. O terceiro é a proposta central do PSDC como partido político – transformar o Estado de senhor em servidor. E o quarto pilar do crescimento é a trajetória que vem tendo nas cidades.

E como isso leva até sua pré-candidatura presidencial para 2010?
Eu seria candidato a deputado. Meus companheiros diziam: “você tem que voltar para o Congresso”. Havia uma tendência, aqui em São Paulo, para isso. E eu já tinha concordado. Mas então tivemos o terceiro Congresso Nacional da Democracia Cristã [realizado em agosto], no Rio de Janeiro. No final dele, fiquei preocupado. Vi que o PSDC se tornaria uma “colcha de retalhos”, já que os líderes locais apóiam candidatos ao governo que têm, cada um, suas preferências para a disputa presidencial. Toda essa unidade nacional que temos poderia estar ameaçada. E aí nossa assessoria de marketing, pesquisando a internet, viu um blog chamado Mente Conservadora. O articulista do blog fez um raciocínio: todas as pré-candidaturas à Presidência já declaradas estão do mesmo lado, têm o mesmo discurso. Um discurso ou de esquerda, ou de centro-esquerda. E ele dizia: “na eleição passada, eu ainda tinha uma alternativa – no segundo turno votei no Alckmin [Geraldo, do PSDB], mas no primeiro votei no Eymael. Mas agora não tenho em quem votar”. Isso nos fez pensar muito. Foi um ensinamento que a sociedade nos deu: não tem ninguém no centro. E nós somos um país que precisa de uma alternativa no centro.

E o senhor se coloca como sendo um candidato precisamente de centro, ou de centro-direita?
De centro. Somos autores da maior parte das conquistas dos trabalhadores na Constituição de 1988. Esse é o nosso cenário. E a visão foi se cristalizando: não só o PSDC queria uma candidatura própria, mas a sociedade a queria. Em outubro, realizamos em Aracaju o encontro dos presidentes dos diretórios estaduais do PSDC. E lá, vários companheiros diziam o seguinte: “enquanto discutimos aqui, a sociedade exige que lancemos uma candidatura!”. Foi muito interessante essa observação. Fora da gente, a candidatura estava sendo impulsionada. No final do encontro, chegou-se à conclusão que o PSDC deve ter uma candidatura própria à presidente - numa resposta àquela parcela da população que não se sente representada naquelas candidaturas já colocadas. E não há nem mais o propósito de 2006, nem o de 1998. Agora é realmente uma campanha pra disputar. Não que a anterior não fosse, todas foram; mas nós sabíamos das nossas limitações. Agora não, nós vamos disputar para ganhar.

E como o senhor avalia as chances de vitória no ano que vem?
Temos um cenário novo, completamente novo. Essa entrevista que estou dando para você, se fosse realizada em 2006, poderia fazer com que o Ministério Público entrasse com uma ação contra mim por propaganda antecipada. Eu só podia dar entrevistas após a convenção – ou seja, a partir de julho. Teria julho, agosto e setembro. Agora eu posso dar entrevistas para rádio, televisão, jornal. Só não posso pedir votos; posso falar propostas, princípios, histórias. Então nossa primeira estratégia é usar essa abertura imensa que a reforma eleitoral permitiu. Falando, no Brasil inteiro, da temática da democracia cristã, da proposta de transformar o estado de senhor em servidor. Sabemos que quando as pessoas conhecem a democracia cristã o efeito que ocorre é fantástico. E a legislação estabeleceu isonomia de candidatos. Está no texto da lei.

Qual a expectativa do senhor para o dia-a-dia da campanha?
Vai ser uma campanha muito forte. E é uma candidatura que se espera [por parte da população], não uma utopia. Vai ter muita gente que vai querer se engajar, num processo realmente forte. Na última vez que fui para Brasília, tomei um táxi e o taxista me reconheceu. E disse: “na eleição passada, em 2006, eu e minha patroa gostávamos de você. Mas não votamos no senhor, e sim no Lula, porque tínhamos certeza que ele iria cuidar dos pobres. Mas essa Dilma... essa Dilma!”. E isso me faz pensar: quantas outras famílias podem ter essa mesma ideia?

Uma coisa que marcou o senhor na eleição passada foi a questão da cadeira vazia [nos debates para o primeiro turno da eleição presidencial de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu, e sua ausência foi criticada por todos os candidatos; José Maria Eymael fez menções, no horário eleitoral, à “cadeira vazia” deixada pelo presidente]...

Sim, a cadeira vazia... marcou mesmo. Mas eu tenho um bom relacionamento com o Lula. Fomos constituintes juntos. E, no segundo turno de 2002, o PSDC apoiou o PT. A frase “a esperança venceu o medo” tem origem na gente! A nota oficial que fizemos de apoio ao Lula foi emitida no dia seguinte em que a Regina Duarte, no horário eleitoral, disse que tinha “medo” do Lula. Na nota, falávamos: “no momento em que, na sucessão presidencial, a força da esperança se opõe às forças do medo, o PSDC apóia as forças da esprança e apóia Luiz Inácio Lula da Silva”. Quando passamos isso para o coordenador de campanha do Lula ele sacou que a frase era forte, e fez a junção em “a esperança venceu o medo”. No mesmo dia, à noite, a frase já estava no site do PT.

Como é a relação do senhor com o jingle que leva seu nome, o “ei, ei, Eymael”?
O jingle é a minha pele... Vou te contar como ele nasceu. Estávamos em uma reunião, em 1985, para definir com que nome eu seria candidato a prefeito. A reunião chegava ao seu fim, e com uma certeza: eu poderia ser candidato com qualquer nome, menos Eymael. Poderia ser JM, José Maria, mas Eymael jamais, o povo teria dificuldades em pronunciar. Nisso, um companheiro nosso, o José Raimundo de Castro, alfaiate e compositor de música popular, ergueu o braço e disse: “mas se a gente ensinar o povo a dizer Eymael, ele não esquece mais”. E pediu dois dias para tentar encontrar um jeito para isso. Se reuniu com amigos também compositores e, após dois dias, às 17 horas, ele me ligou. Depois ele me contou que pedira para um auxiliar na alfaiataria segurar o microfone enquanto ele tocava o violão. Mas aí ele cantou o jingle. Na hora, senti ali que ele tinha feito um sucesso. Eu disse: “Castro, a partir de hoje devo a você minha história na política”. Foi coisa de gênio! Ele teve a genialidade de ver no meu “Ey” o “ei” brasileiro. Mas, durante muito tempo, houve muita gente que conhecia o jingle, e não o candidato. Então houve um processo, com muito esforço, de mostrar também o candidato – e sem tirar a alegria do jingle. Afinal, ele é um instrumento, e não um fim em si próprio.

O senhor não teme que esse jingle possa criar um “Efeito Enéas” – ou seja, a existência de um voto “brincalhão” que seria direcionado ao senhor?
Sim, isso poderia acontecer. Mas é por isso que nós temos mudado a abordagem de nossos programas eleitorais. É um assunto que preciso administrar, para não cair na brincadeira.

O jingle será usado na campanha de 2010?
De maneira dosada. Agora, eu quero passar minha proposta. Sem tirar a alegria do jingle. Ele terá um lugar na campanha, mas administrado.

O senhor é a principal figura do PSDC, o expoente nacional da sigla. Não teme um partido centrado exclusivamente na sua pessoa?
Nós temos líderes muito fortes, em todas as regiões do Brasil. O partido não tem dono. Mas já cheguei à conclusão que os partidos precisam de líderes de referência.

E o senhor se sente confortável nessa posição?
Sim, me sinto. Isso me incomodava no passado, mas hoje não mais.

Nas últimas eleições, seu filho, que adotou o nome político de Eymael Filho, foi candidato, mas obteve poucos votos. Ele disputará de novo em 2010? Quais as suas expectativas sobre a carreira dele?
Não sei se ele disputa de novo. Ele tem uma aspiração política, mas precisa trabalhar mais. E não achar que só o nome Eymael vai levá-lo ao sucesso. Precisa ir para a rua!

Qual a postura do PSDC em relação ao aborto?
Somos contra, a não ser nas exceções já previstas pela lei hoje [estupro e risco à saúde da mãe].

Descriminalização das drogas?

Nossa postura é de apoio ao dependente, e dureza ao traficante. Mas sem descriminalizar.

Pena de morte?
Somos contrários, em todas as circunstâncias.

União homossexual?
Nossa postura é a mesma da Constituição Federal hoje. A Constituição diz que se deve respeitar a opção sexual das pessoas. Não temos nada contra um contrato civil entre dois homossexuais. O que não concordamos é que se dê a esse contrato a feição de um casamento.

O PSDC tem núcleos de homossexuais, como há em alguns partidos?
Não.

Poderia vir a ter?
Não, não é algo que se encaixa em nossas bandeiras. Por exemplo: a Parada Gay é uma livre manifestação; mas o PSDC não participaria. O PSDC não critica, mas também não integra.

E em relação à obrigatoriedade do voto, o que diz o partido?
Estou convencido que o voto deve ser facultativo. Sou um defensor disso. Hoje, com a obrigatoriedade, os eleitores são levados a uma não-reflexão. Quem vota porque quer, e não porque é obrigado, analisa, examina melhor os candidatos. O que temos hoje é um sistema de fundo partidário e de comunicação com uma profunda, imensa desproporção. Mas acredito que, para 2010, isso não terá tanta influência, por conta da possibilidade que temos de nos posicionar como pré-candidatos um ano antes do pleito.

E isso é mais um motivo para crer em vitória?
É. Será difícil? Claro. Mas há um espaço imenso, como nunca houve, para a democracia cristã. Será o ano mais importante da nossa história. Os brasileiros vão conhecer a democracia cristã.

Fotos: Olavo Soares

8 comentários:

Família Orlando disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Família Orlando disse...

Olavo, parabéns pela matéria. Gostei muito de conhecer um pouco mais desse político que eu só conhecia pelo jingle... É muito importante conhecer TODOS os candidatos para escolher certo e ficar de olho depois!
Abraço

Tiago Muniz disse...

Olavo, grande entrevista! Meus parabéns! Agora eu francamente acho muito difícil ele conseguir algo maior do que já tem hoje. Um abraço!

Unknown disse...

Muito legal Olavera... parabens...

JH disse...

Ey, Ey, Ey, MAEL! Um democrata cristão. hahauha o melhor jingle :D

milho disse...

Boa entrevista Olavo, parabéns!!! Acho que faltou você perguntar sobre maioridade penal, transposição do rio são francisco, reforma tributária...

É bom conhecer o candidato por trás do jingle.

[] milho

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Mestre, bela entrevista. Foi uma grande oportunidade. Pena que não deu para entrevistar Tralalalalá Brizola, Nossa Força é o Coração Mário Covas, Bote Fé no Velhinho Ulisses Guimarães. Mas ainda dá para falar com Lula Lá, Juntos Chegaremos Lá Dois Patinhos na Lagoa Afif 22, Pobre Vota em Pobre Marronzinho e todo aquele folclore dos jingles dos 80!