quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vitórias e derrotas femininas em eleições

E então no domingo aconteceu o que as pesquisas já indicavam há tempos: Dilma Rousseff (PT) venceu as eleições presidenciais, derrotando, com larga margem, José Serra (PSDB).

Muito já se falou sobre a vitória de Dilma, em especial sobre o fato dela ser a primeira mulher a chegar à Presidência da República. De fato, é um tabu que se quebra, e é algo cujos efeitos somente se solidificarão daqui a muitos anos.

Gostaria de trazer a vitória de Dilma a outra ótica: a do debate sobre o preconceito nas campanhas eleitorais.


Aos fatos: o Brasil elegeu para a Presidência uma mulher divorciada. Mais: a votação mais expressiva da candidata se deu na região Nordeste, o pedaço do Brasil com os piores índices de desenvolvimento humano.

Volta e meia o Brasil é tido como um país "machista". Desde o excesso de nudez no Carnaval até a baixa presença de mulheres no Congresso, tudo vira argumento para justificar essa opinião.

Mas aí, como dito, o país elege uma mulher divorciada para a Presidência da República. Como fica tudo isso, então?

O necessário a ser feito para compreender a questão é diferenciar o machismo cotidiano do comportamento eleitoral. O primeiro está aí, forte e firme, e não será a vitória de uma mulher na eleição presidencial que irá eliminá-lo.

Já o segundo tem muito mais nuances do que uma análise simplista focada unicamente na questão do machismo poderia traduzir. Em primeiro lugar: Dilma foi eleita, acima de tudo, por ser a representante de um governo muitíssimo bem aprovado pela população. Não há muitas invenções a serem feitas a partir daí. O eleitor costuma votar favoravelmente aos governos que lhe agradam; o governo Lula foi bem avaliado; Dilma era sua representante; então nada mais natural que escolhê-la. Isso transcende a questão da "mulher".

Em segundo lugar, uma mulher na Presidência é um fator novo. E quando falamos de política, essa "coisa" tão rejeitada pela população, novidade sempre cai bem. O povo em geral está cansado dos políticos e da classe política como um todo. E como é o estereótipo do político corrupto? Um homem, de terno e gravata, cabelos ajeitadinhos, fala mansa. Ou seja: uma mulher está do lado oposto disso tudo.

O debate sobre o peso do machismo nas campanhas eleitorais se faz necessário porque, volta e meia, lideranças de candidaturas femininas atribuem ao preconceito toda a responsabilidade pela derrota. Em São Paulo, isso se viu de maneira muito forte quando Marta Suplicy (PT) perdeu, em 2004, a prefeitura para José Serra (PSDB). Apurados os votos e consumada a vitória do tucano, iniciou-se a gritaria: "é por causa do machismo". Ora, uma cidade que havia eleito, anos antes, uma nordestina (Luiza Erundina), um negro carioca (Celso Pitta) e a própria Marta Suplicy, não poderia ter virado machista, reacionária e preconceituosa de uma hora pra outra. Certamente há questões políticas e da campanha propriamente dita que explicam as derrotas de maneira muito mais precisa do que a fácil apelação para o preconceito.

(Foto: Marcello Casal Jr / ABr)

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