Ontem, fui à Universidade Anhembi-Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, para assistir a um evento dos mais interessantes: a apresentação das estratégias de assessoria de imprensa que a agência Fator F usou durante a campanha de Gilberto Kassab nas eleições municipais do ano passado. A apresentação foi conduzida pelos diretores da Fator F Roger Ferreira e Emerson Figueiredo.
Contextualizando: Kassab começou a corrida eleitoral com dois referenciais muito fortes sobre si, um positivo e um negativo. O positivo era o de ser o então prefeito da cidade; e o negativo era ser um nome desconhecido de grande parte do eleitorado, já que ele assumiu a chefia do executivo quando o titular do cargo, José Serra, iniciou sua bem-sucedida trajetória ao governo do estado.
Com base nessas realidades, a meta desenhada pela equipe de comunicação era pautar a mídia. A necessidade disso se explicava pela situação eleitoral: Kassab tinha como principais adversários Marta Suplicy e Geraldo Alckmin, dois peso-pesadíssimos da política paulista. Se não fosse feito um trabalho consistente com a mídia, Kassab sumiria do dia-a-dia da cobertura eleitoral. Capas de jornais e destaques de internet iriam para tudo o que fosse relacionado a Marta e Alckmin, e a candidatura Kassab seria relegada aos rodapés das páginas, junto com as dos nanicos.
Para pautar a imprensa, a assessoria da campanha se baseou em dois argumentos: o primeiro era o fato de Kassab ser o atual prefeito da cidade, e por isso ter consigo uma necessidade latente de cobertura midiática (afinal, com eleição ou não, a cidade precisa saber o que o seu prefeito está sabendo). A outra era a boa costura política que trouxe o PMDB à candidatura de Kassab e com isso deu à campanha tempo de horário eleitoral superior aos candidatos. Além de tudo, era um prefeito que tinha uma boa avaliação e se baseava em bandeiras como a Lei Cidade Limpa, referendada pela maioria dos paulistanos.
De posse desses argumentos, os assessores “martelavam” com os jornalistas o fato de que o candidato Kassab não poderia ser desprezado. Dia-a-dia, os profissionais se esforçaram para imprimir a mensagem que dizia que o candidato “intruso”, a ser ignorado, era Geraldo Alckmin, e não Gilberto Kassab; afinal, todas as campanhas políticas (ao menos boa parte delas) se baseia no duelo situação versus oposição. E quem pode representar melhor a situação do que o próprio prefeito?
Tal tática não tomou corpo com ataques à candidatura de Alckmin. Pelo contrário: mais do que tentar derrubar o tucano, a principal meta era ignorá-lo. Deixá-lo de fora da disputa. O que a campanha buscava era uma polarização com a candidatura de Marta Suplicy – assim, fortaleceria o já citado debate situação x oposição e jogaria a disputa eleitoral para um julgamento da qualidade da administração vigente, acima de qualquer coisa.
Os ataques à candidatura Marta se basearam nos “25 desafios”, série de perguntas que Kassab lançava aos jornalistas cujo mote era promover uma comparação entre sua gestão e a da petista (mais uma vez, focando o debate na aprovação do governo, baseado nos bons números que vinham das pesquisas). Ao enfatizar esses ataques, a campanha acabou por despertar reações adversas da candidatura do PT, que também passou a atacar Kassab – que era o que a campanha do prefeito mais desejava, por trazer a ele os holofotes. Enquanto isso, Geraldo Alckmin era deixado de lado.
Também foi abordada na apresentação a questão de José Serra, que, embora institucionalmente estivesse ao lado de Geraldo Alckmin, sempre desejou uma vitória de Kassab. Roger Ferreira e Emerson Figueiredo enfatizaram que, claro, não se pode desprezar o peso de um governador numa corrida; mas afirmaram que a relevância de Serra na campanha se deu mais por questões políticas do que puramente eleitorais. O paulistano não votou em Kassab por ele ter o apoio de Serra. Votou porque estava satisfeito com a sua gestão, e desejava a continuidade desse trabalho.
Em resumo, a vitória de Kassab, em termos de assessoria de imprensa (claro que eleição se vence ou se perde por inúmeros fatores, os apresentadores não sugeriram que essa é a única explicação para a vitória), se deveu pelo sucesso do agendamento que a campanha do prefeito conseguiu. Mais do que destacar qualidades ou realizações do prefeito, a ambição da equipe era fazer com que Kassab se tornasse pauta, se tornasse visível – em suma, estivesse inserido na agenda da disputa eleitoral paulistana. Com isso, era a vez da boa aprovação do governo se converter em votos (o que historicamente acontece) e administrar as questões do dia-a-dia.
Com base nessas realidades, a meta desenhada pela equipe de comunicação era pautar a mídia. A necessidade disso se explicava pela situação eleitoral: Kassab tinha como principais adversários Marta Suplicy e Geraldo Alckmin, dois peso-pesadíssimos da política paulista. Se não fosse feito um trabalho consistente com a mídia, Kassab sumiria do dia-a-dia da cobertura eleitoral. Capas de jornais e destaques de internet iriam para tudo o que fosse relacionado a Marta e Alckmin, e a candidatura Kassab seria relegada aos rodapés das páginas, junto com as dos nanicos.
Para pautar a imprensa, a assessoria da campanha se baseou em dois argumentos: o primeiro era o fato de Kassab ser o atual prefeito da cidade, e por isso ter consigo uma necessidade latente de cobertura midiática (afinal, com eleição ou não, a cidade precisa saber o que o seu prefeito está sabendo). A outra era a boa costura política que trouxe o PMDB à candidatura de Kassab e com isso deu à campanha tempo de horário eleitoral superior aos candidatos. Além de tudo, era um prefeito que tinha uma boa avaliação e se baseava em bandeiras como a Lei Cidade Limpa, referendada pela maioria dos paulistanos.
De posse desses argumentos, os assessores “martelavam” com os jornalistas o fato de que o candidato Kassab não poderia ser desprezado. Dia-a-dia, os profissionais se esforçaram para imprimir a mensagem que dizia que o candidato “intruso”, a ser ignorado, era Geraldo Alckmin, e não Gilberto Kassab; afinal, todas as campanhas políticas (ao menos boa parte delas) se baseia no duelo situação versus oposição. E quem pode representar melhor a situação do que o próprio prefeito?
Tal tática não tomou corpo com ataques à candidatura de Alckmin. Pelo contrário: mais do que tentar derrubar o tucano, a principal meta era ignorá-lo. Deixá-lo de fora da disputa. O que a campanha buscava era uma polarização com a candidatura de Marta Suplicy – assim, fortaleceria o já citado debate situação x oposição e jogaria a disputa eleitoral para um julgamento da qualidade da administração vigente, acima de qualquer coisa.
Os ataques à candidatura Marta se basearam nos “25 desafios”, série de perguntas que Kassab lançava aos jornalistas cujo mote era promover uma comparação entre sua gestão e a da petista (mais uma vez, focando o debate na aprovação do governo, baseado nos bons números que vinham das pesquisas). Ao enfatizar esses ataques, a campanha acabou por despertar reações adversas da candidatura do PT, que também passou a atacar Kassab – que era o que a campanha do prefeito mais desejava, por trazer a ele os holofotes. Enquanto isso, Geraldo Alckmin era deixado de lado.
Também foi abordada na apresentação a questão de José Serra, que, embora institucionalmente estivesse ao lado de Geraldo Alckmin, sempre desejou uma vitória de Kassab. Roger Ferreira e Emerson Figueiredo enfatizaram que, claro, não se pode desprezar o peso de um governador numa corrida; mas afirmaram que a relevância de Serra na campanha se deu mais por questões políticas do que puramente eleitorais. O paulistano não votou em Kassab por ele ter o apoio de Serra. Votou porque estava satisfeito com a sua gestão, e desejava a continuidade desse trabalho.
Em resumo, a vitória de Kassab, em termos de assessoria de imprensa (claro que eleição se vence ou se perde por inúmeros fatores, os apresentadores não sugeriram que essa é a única explicação para a vitória), se deveu pelo sucesso do agendamento que a campanha do prefeito conseguiu. Mais do que destacar qualidades ou realizações do prefeito, a ambição da equipe era fazer com que Kassab se tornasse pauta, se tornasse visível – em suma, estivesse inserido na agenda da disputa eleitoral paulistana. Com isso, era a vez da boa aprovação do governo se converter em votos (o que historicamente acontece) e administrar as questões do dia-a-dia.
5 comentários:
o trinfo da assessoria foi fazer o que a assessoria é paga pra fazer: pôr o criente na pauta? curioso.
agora, a campanha em geral agiu dessa forma, quer dizer, a assessoria de imprensa tava sintonizada com as diretrizes da campanha, q eram amplas o bastante para considerar as frentes do embate eleitoral. eles falaram quem definiu as estratégias de imprensa e geral?
Anselmo, a questão nem é só o fazer, mas sim fazer com uma imprensa que não estava disposta a falar do Kassab, cuja intenção inicial era simplificar a disputa na polarização Marta x Alckmin. Além disso, o destaque fica no "como fazer", que é a martelação do Kassab como candidato competitivo, baseado no tempo de TV e na aprovação do governo.
Fazer com que a imprensa despreze um ex-governador e ex-candidato a presidente é um puta feito.
Sobre a campanha como um todo, a assessoria, sim, estava sintonizada e subordinada a uma coordenação maior.
muito interessante. Kassab não podia bater mt no alckmin pq o eleitorado dele era justamente o do tucano. e a coisa mais correta era mostrar que o tucano estava fora da briga, mas de forma discreta.
Muito bom o texto, Olavo!
Abs,
Lucas
Veja no portal Alternativa Brasil: A macaquice do terceiro mandato
Ladainha da reeleição de Lula volta à tona com a CPI da Petrobrás. Senador Delcídio Amaral (PT-MS) defende abertamente a idiea. E o deputado federal Jacson Barreto (PMDB/SE) quer propor plebiscito sobre o terceiro mandato.
Acesse: http://portal.alternativabrasil.org/
Postar um comentário