A Folha traz hoje uma notícia que já vem circulando nos últimos dias e que, aparentemente, tem ganhado força: a possibilidade de Ciro Gomes, deputado federal pelo PSB do Ceará, ser candidato a governador de São Paulo nas eleições do ano que vem. A medida, segundo a Folha, serviria para unir o bloco governista em São Paulo - ainda que isso representasse uma não-candidatura do PT - e, de quebra, fazer com que o PSDB não tivesse vida tão fácil assim na tentativa de fazer o sucessor de José Serra.
A hipótese é bem curiosa, e pode ser analisada de diferentes pontos de vista. A eles:
- PT: ter que abrir mão de disputar o governo do maior estado do Brasil - e berço do partido - seria um belo tapa na cara do PT. O partido ficou fragilizado em São Paulo após agressivas derrotas nas últimas eleições. Em 2002, mesmo com Lula tendo sido eleito presidente, Genoino fez apenas figuração no segundo turno contra Geraldo Alckmin; em 2004, Marta Suplicy não conseguiu ser reeleita prefeita da capital; em 2006, Lula perdeu para Alckmin em São Paulo na disputa presidencial e, na corrida ao governo, Serra venceu no primeiro turno; e em 2008, Marta teve uma candidatura decadente e, no segundo turno, mal ofereceu resistência a Gilberto Kassab na disputa pela prefeitura paulistana. Nomes que, anos atrás, figurariam como candidatos naturais do PT passam por fragilidades eleitorais ou foram vítimas de escândalos, como a própria Marta Suplicy e também José Genoino, Antonio Palocci, João Paulo Cunha e outros. Sem esquecer de Paulo Skaf, presidente da Fiesp e que aparecia como possível nome do PSB na disputa pelo governo, mas cujo nome foi sensivelmente debilitado após a deflagração da operação Castelo de Areia da Polícia Federal.
Por outro lado, o PT, talvez já sabendo que não tenha condições de incomodar a supremacia tucana em São Paulo, acabe por agir de maneira inteligente por não investir em uma briga já perdida. Mas não deixa de ser irônica a situação.
- Eleição presidencial: há quem diga que a indicação de Ciro para a disputa do governo paulista seria uma tática do PT para tirá-lo da corrida à Presidência da República. Não vejo sentido nisso. Afinal, uma possível candidatura Ciro só teria força se ela fosse a oficial do governo (o que não ocorrerá, a não ser que a saúde de Dilma Rousseff piore consideravelmente) ou da oposição - outra possibilidade impossível. Fora disso, o Brasil já dá mostras que, para 2010, irá repetir a polarização PT-PSDB que tem vivenciado nas disputas presidenciais desde 1994. Não há sentido em crer que uma candidatura de outra sigla seria incômoda o suficiente para que o PT pense em manobras para realocá-la. Mas é saudável ver o PT se dispondo em abrir mão de uma candidatura majoritária para fortalecer sua base. O partido sempre foi acusado de centralizador, talvez assim sinalize positivamente que está mais apto ao diálogo.
- Sucesso eleitoral?: até segunda ordem, o governador que sentará na cadeira principal do Palácio dos Bandeirantes em 2011 será um tucano. É bem difícil imaginar que o PSDB perca a supremacia que mantém desde 1994 no estado. Aliás, a maior ameaça para o partido hoje, ao meu ver, não está em seus opositores clássicos, e sim no DEM, mais precisamente na figura de Gilberto Kassab (eu apostaria em um ótimo desempenho de Kassab se ele se aventurasse a disputar o governo estadual). O PT está fraco, pelos motivos citados acima, e não há outra corrente com força suficiente para entrar no jogo.
Além disso, gostaria de saber como o paulista reagiria à candidatura de um "forasteiro" nas eleições estaduais. Veja bem que não se trata de uma questão "xenófoba" ou coisa parecida - afinal, se pensarmos de maneira legalista, Ciro é paulista, já que nasceu em Pindamonhangaba, a mesma cidade de Geraldo Alckmin. Mas ele pertence à política do Ceará e sua chegada à São Paulo teria tudo para ser interpretada pelo eleitor como um oportunismo dos mais descarados. Não é a mesma situação, por exemplo, de Luiza Erundina, nordestina de nascimento mas radicada em São Paulo e vivente da política do estado. Em gente com essas características o paulista vota e sem problemas. Questiono é a reação a quem chega ao estado unicamente para a disputa de uma eleição.
Se bem que depois da aprovação aos planos eleitorais de José Serra - que disputou e venceu a prefeitura da capital em 2004 nitidamente para ganhar tempo para 2006, quando foi eleito governador em primeiro turno -, talvez não seja mais o caso de bancar a "consciência eleitoral" do paulista.
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Há 2 anos
7 comentários:
Olavo, voltando um pouco pra trás, a tentativa de Ciro parece apostar na projeção nacional que ele tem, algo semelhante ao que fez Leonel Brizola se candidatar ao governo do Rio de Janeiro em sua volta no exílio. àquela altura, deu certo. E mesmo que ele não ganhe se cacifa para ser candidato a presidente mais tarde.
ALiás, com Ciro e Alckmin, a disputa ficaria entre dois pindenses...
Hahahahahaha depois de Sarney senador no Amapá. Seria uma disputa interessante, um político que mesmo com carreira em outro estado, tem projeção nacional e poderia virar a política paulista do avesso. Geraldo tem nome forte no estado, mas chegará após dois fracassos eleitorais e com o partido novamente rachado, já que outros postulam a legenda incomodados com essa polarização "Alckmin-Serra" que não lança nomes novos no cenário estadual e nacional. Interessante também seria ver o comportamento da eterna base governista no estado com um rival de peso...PTB, PMDB, DEM iam vender caro o apoio...pra qualquer lado.
Na eleição passada correu um boato semelhante sobre Ciro, mas ele se mudaria para o Rio de Janeiro para disputar o governo.
A história é companheira de Ciro nessa disputa.
O PT cogita essa hipótese e com muita força.
Aqueles que inicialmente se revelarem contra a cadidatura de Ciro mudarão rapidamente de opinião, pois Ciro é a opção mais viável para o momento.
Ciro não é conhecido como político do Ceará, mas político nacional.
Isso faz com que ele tenha claras intenções de diputar numa chapa com PT, PC do B, PMN, PSB, PV, entre outros.
Agora é esperar pra ver.
Essa eleição é dos tucanos novamente. ninguém vai trocar um governo de quase duas décadas, com boa aprovação, por um forasteiro. na verdade, Ciro nao faria essa loucura.
"sua chegada à São Paulo teria tudo para ser interpretada pelo eleitor como um oportunismo" Numa cidade com tantos nordestinos, desde sempre? Se for, fica caracterizado que São Paulo é um lugar nada "cosmopolita" (seja lá o que isso signifique), e, por tabela, os motivos do resto do país para desconfiar de políticos tipicamente daquele estado; se o paulista, que é quem mais ganha estando no Brasil, não se sente brasileiro antes de paulista, que motivo teria o cearense para sentir-se?
Uriel, minha crítica não é aos nordestinos que moram em São Paulo há muito tempo e, com justiça, queiram se integrar à política local.
É àqueles que mudam de estado (seja do Nordeste pra São Paulo, seja o "vice-versa", seja de qualquer canto pra outro canto) unicamente para disputar uma eleição.
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